Paralimpíadas Tóquio 2020: Qual o engajamento do público brasileiro com os jogos?

Esentia Inteligência
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18 min readAug 23, 2021

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Sem o mesmo status, baixo volume de investimentos público-privados e discreta entrada midiática frente às Olimpíadas, estudo da Esentia Inteligência com 730 pessoas evidencia que o brasileiro não possui uma relação próxima com o esporte paralímpico.

Raio-X Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020

  • Período de realização: 24 de agosto de 2021 a 5 de setembro de 2021.
  • Eventos: 539 competições de 22 modalidades em 21 arenas de Tóquio.
  • Número de atletas: cerca de 4.400 de 135 países.
  • Custo de realização: Em torno de US$ 15,4 bilhões. O governo japonês foi responsável pela maior parte deste custo, com exceção de US$ 6,7 bi (iniciativa privada) e US$ 1,3 bi do Comitê Olímpico Internacional.

Delegação brasileira nas Paralimpíadas 2020

  • Número de atletas: 253, sendo a maior delegação entre todos os países.
  • Expectativa: O CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) prevê a conquista de 60 a 75 medalhas em Tóquio. As paralimpíadas de Tóquio ainda reservam a possibilidade da conquista da centésima medalha dourada paralímpica brasileira. Em todas as edições, o país já subiu 87 vezes no lugar mais alto do pódio.
  • Disputas: O Brasil vai disputar em 20 das 22 modalidades paralímpicas, ficando de fora somente das competições de basquete e de rúgbi em cadeira de rodas. A modalidade com o maior número de esportistas será o atletismo, com 64 representantes e 18 atletas-guia. Em seguida, vem a natação com 35 atletas.
  • Curiosidade: O estado de São Paulo tem o maior número de convocados (49) em 11 modalidades, respondendo por 20% dos participantes.

O brasileiro não interage com o esporte paralímpico

Promover visibilidade é tornar algo visível. Acima de tudo, é dar espaço e conceder voz a quem é invisível. Foi deste modo, que há quase dez anos, o Brasil conquistava a sétima colocação geral nos Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012, e atingia o seu melhor desempenho da história até hoje. O feito gerou atenção, simpatia e maior espaço na opinião pública nacional pelas competições adaptadas para atletas que possuem algum tipo de deficiência física ou sensorial. Mas foi em casa, no Rio de Janeiro em 2016, que as competições paralímpicas ganharam os holofotes e entraram no radar dos brasileiros, significando um momento-chave para o “surgimento” deste tipo de competição no país.

Era de se esperar que o esporte paralímpico entrasse de vez no foco de atenção dos brasileiros, a partir da Rio-2016. Especialmente ao longo do evento, o amplo apelo midiático multiplicou o engajamento entre as pessoas no ambiente digital, fazendo com que milhares de brasileiros tivessem um contato mais próximo com modalidades que pouco ou sequer conheciam. Com as disputas sendo realizadas, os atletas conquistaram espaço de visibilidade e abriram espaço para um relacionamento próximo com seus públicos e marcas. O fluxo de investimentos públicos e privados também foi observado. Somente a Petrobrás, por exemplo, liberou R$ 10,5 milhões em patrocínio para os jogos.

Porém, mesmo que todo este cenário promissor da Rio-2016 tenha sido construído, a relação do país com o esporte paralímpico não se sustentou. Aliás, tal interação não chegou nem perto da relação que as pessoas mantêm com o cenário olímpico, por exemplo. Ademais ao adiamento das competições em 2020 por conta da pandemia, a opinião pública e, mais particularmente, o público brasileiro não possui uma interação ativa e engajada com a competição paralímpica agora em 2021. Foi o que descobrimos em nosso estudo realizado sobre o tema ao longo das duas semanas prévias ao início do evento.

Com o fim das Olimpíadas, buscamos entender melhor qual é, de fato, o nível de interação das pessoas com os Jogos Paralímpicos. Afinal, elas pretendem assistir às competições em Tóquio? Acompanharam as informações prévias acerca do evento? Conhecem os atletas da delegação brasileira? O que está sendo dito sobre o assunto antes do início das competições?

Com tantas perguntas no radar, fizemos um amplo levantamento analítico em parceria com a Eagle Intelligence Solution, entre os dias 03/08/2021 a 22/08/2021, junto a plataformas digitais como o Twitter, Instagram, Facebook e Youtube, além de monitoramento da opinião pública, ou seja, imprensa, influenciadores e formadores de opinião, para buscar tais respostas. Além disso, a Esentia realizou uma pesquisa, ouvindo 730 pessoas de todas as regiões do país, classes sociais e faixas etárias. Nosso objetivo principal foi identificar qual o engajamento das pessoas com as Paralimpíadas.

A data escolhida para início da coleta dos dados não foi à toa. Neste dia, foi realizada a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos. Se nas competições em Tóquio, o ‘Time Brasil’ alcançou seu melhor desempenho da história com 21 pódios e a 12ª colocação no quadro geral de medalhas, o engajamento nas redes sociais também foi campeão ao longo do evento. O Brasil foi o segundo país que mais tuitou sobre os jogos em todo o mundo, com mais de 12 milhões de tweets sobre a competição entre os dias 19 e 26 de julho. A ginasta Rebeca Andrade cresceu mais de 836% no Instagram, alcançando a marca de mais de 2,2 milhões seguidores, com a conquista da prata no individual geral e o ouro no salto.

Por conta da pandemia, o vazio nos estádios foi compensado pelas telinhas digitais. Os números conquistados pelo Grupo Globo, detentor dos direitos de transmissão, atestam nossa observação. Ao longo dos Jogos Olímpicos, o canal SporTV superou a soma da audiência de todos os demais canais do grupo e foi líder da TV paga. Considerando o período após a cerimônia de abertura (de 23 a 31 de julho), o canal ocupou o Top-3 da televisão fechada, seguido pelo canal SporTV 2 e SporTV 3. No streaming também houve um salto. O plano Globoplay + Canais Ao Vivo cresceu 827%. E pra fechar, na TV aberta, a Globo bateu recordes no horário com as transmissões de vôlei e futebol.

Após todo este sucesso de audiência, observamos que os Jogos Paralímpicos começarão sem a mesma importância concedida pelo país às Olimpíadas. Seja por conta do desinteresse/desconhecimento da sociedade sobre o evento, da desigualdade de investimentos entre os atletas das duas competições ou mesmo da falta de visibilidade que o esporte paralímpico possui junto à opinião pública. Mesmo com o espaço conquistado na Rio-2016, não identificamos que houve uma consolidação efetiva deste lugar de voz e inclusão do esporte paralímpico. Os resultados de nosso estudo mostram que o interesse das pessoas nas Paralimpíadas deve aumentar ao longo das próximas duas semanas, período em que serão realizadas as transmissões das disputas. Mesmo assim, a tendência é que após a competição, haja uma queda gradativa de interesse e importância concedida à agenda paralímpica no país.

O ponto-chave é justamente entender porque ocorre este fenômeno, como o cenário brasileiro nas competições de Tóquio pode servir de experiência futura e qual será o papel que o esporte paralímpico assumirá no Brasil até Paris-2024: como protagonista promissor ou eterno coadjuvante das práticas olímpicas?

Após o fim das Olimpíadas, a atenção se voltou às Paralimpíadas?
Antes de nos voltarmos à questão, apresentamos alguns números consolidados em nosso estudo:

  • Mais de 23.000 ocorrências monitoradas e analisadas, com um sentimento positivo de 97%.
  • 1.264 publicações na imprensa brasileira.
  • As hashtags #paralimpiadas e #paraolimpiadas possuem mais de 105 mil menções no Instagram.
  • O termo “Paralimpíadas” foi citado 13 mil vezes no Google.

Ao longo de duas semanas após as Olimpíadas, fizemos o monitoramento e análise de dados no ambiente digital para entendermos qual era a interação da sociedade civil e opinião pública brasileira (leia-se imprensa, influenciadores e formadores de opinião) com os Jogos Paralímpicos. Os resultados mostraram que o assunto “Paralimpíadas” apresentou um volume elevado de menções e grande engajamento entre as pessoas somente no domingo (08/08), dia da cerimônia de encerramento. Além da cobertura da imprensa, detectamos quase 9 mil menções no Twitter, por exemplo. Os tuítes analisados tiveram um sentimento positivo detectado em mais de 97%. Ou seja, a expectativa pelo evento paralímpico era notória nesta data (vide o gráfico abaixo).

O pico de menções ocorreu às 10h, quando estava sendo transmitida a cerimônia de encerramento. Em tom saudosista, as pessoas compartilharam postagens em suas redes sociais lamentando o fim das competições olímpicas em Tóquio. E ao mesmo tempo, vário(a)s lembravam que as paralímpiadas seriam iniciadas em duas semanas, dizendo que acompanhariam as disputas e cobrando o apoio aos atletas brasileiros.

Alguns exemplos de citações:

Porém nos dias posteriores, foi observada uma queda imediata e significativa no volume geral de menções referentes às paralimpíadas. Os veículos de imprensa e as pessoas passaram a compartilhar informações pontuais sobre as modalidades e notícias esparsas sobre a delegação brasileira. O fato é que o engajamento gerado com as olimpíadas, a partir do dia 09/08, perdeu força, o volume de menções ao evento caiu consideravelmente e a interação com o tema “paralimpíadas” seguiu esta dinâmica do desinteresse ao longo dos dias seguintes (gráfico abaixo).

Cabe dizer que a exceção à regra foi a cobertura de veículos especializados e, mais particularmente, do site Globo Esporte, principal veículo esportivo on-line do país. Com média de 06 publicações diárias, o GE noticiou regularmente sobre as paralimpíadas no período monitorado. Lembrando que este veículo pertence ao Grupo Globo, detentor do direito de transmissão dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Brasil.

Pesquisa

Para termos um termômetro ainda mais próximo da relação entre a sociedade civil com os Jogos Paralímpicos, fizemos uma pesquisa junto a 730 pessoas entre os dias 17 e 20 de agosto de 2021, de todas as regiões do país, classes sociais e faixas etárias, com perguntas objetivas relacionadas ao evento. Se as Olimpíadas tiveram grande apelo de mídia e da audiência, com mais de 70% dizendo que acompanharam as notícias sobre as olimpíadas, os resultados aferidos em nosso estudo mostram que a grande maioria dos respondentes não possui maiores vínculos com o universo paralímpico, seja por desinteresse, desconhecimento ou qualquer outro motivo. Os números falam por si só:

  • 57% dos respondentes não acompanharam o noticiário sobre as Paralimpíadas de Tóquio.
  • 50% dos respondentes não pretendiam acompanhar as competições.
  • 61% disseram que o seu nível de conhecimento em torno da delegação brasileira paralímpica em Tóquio é nulo.
  • Apenas 6% dos respondentes disseram que conhecem bem a delegação brasileira.

Perguntas das respostas coletadas entre os dias e 17 e 20/08:
1) Você está acompanhando as informações preliminares sobre as Paralimpíadas?
SIM: 40%
NÃO: 57%
NS/NR (não sabe ou não respondeu): 3%

2) Você pretende acompanhar?
SIM: 46%
NÃO: 50%
NS/NR: 4%

3) Sobre a delegação brasileira nessas Paralimpíadas, você:
CONHECE BEM: 6%
CONHECE RAZOAVELMENTE: 32%
NÃO CONHECE: 61%
NS/NR: 1%

4) Você conhece o atleta paralímpico Daniel Dias?
SIM: 29%
NÃO: 70%
NS/NR: 1%

Chamou atenção, o desconhecimento de 70% dos respondentes sobre quem seria Daniel Dias, o maior nadador paralímpico do mundo e o maior medalhista paralímpico do Brasil. Não são poucas as conquistas e premiações do atleta. Ao longo dos 16 anos de carreira, Daniel acumula 40 medalhas em Mundiais, sendo 31 de ouro, e 24 em Jogos Paralímpicos, 14 delas douradas. Além disso, ainda tem 33 ouros em 33 provas disputadas em Parapan-Americanos e é o único brasileiro a ter três troféus Laureus, o chamado “Oscar do esporte”. Agora, aos 32 anos, ele anunciou sua aposentadoria após Tóquio 2020.

Qual o contexto do esporte paralímpico brasileiro?

O desinteresse das pessoas pelo esporte paralímpico vai de encontro a questões maiores quando analisamos as razões do fenômeno. Antes de subir no pódio, seja olímpico ou paralímpico, os atletas suam não apenas nos treinos, mas na busca por apoio financeiro. É fato que o desempenho esportivo de alta performance depende muito do interesse estatal ou privado em investir nas modalidades, treinamentos e divulgação dos esportes. Aliás, acreditamos que a questão é “sistêmica”, por envolver variáveis como investimento público, contexto de negócios, interesse do público, cobertura da mídia, gestão de carreira dos atletas e visibilidade a partir das marcas.

“Acredito que a falta de visibilidade ao esporte paralímpico nos conteúdos publicitários, na imprensa ou nas redes sociais, especialmente no período entre os jogos, é um dos fatores que culminam em jogar às sombras atletas de alta performance como Daniel Dias. E mesmo com desempenhos vencedores, isso contribui para não levar as infomações sobre estes atletas e suas carreiras de encontro aos públicos e marcas. Gerando o desconhecimento e o desinteresse geral das pessoas.” André Moreira, CSO da Esentia Inteligência

Abaixo, um tuíte com números sobre o cenário de investimentos nos atletas viralizou em meio às disputas olímpicas, chamando ainda mais atenção para essa questão.

Se este horizonte de incentivos ao esporte olímpico brasileiro é desafiador, quando analisamos o contexto paralímpico torna-se ainda mais complicado. Conforme aferido em nossa análise, um ponto-chave é que não existe uma cobertura constante e massificada destes esportes na mídia, fazendo com que a aparição dos atletas, especialmente fora das paralimpíadas, seja muito baixo ou nula.

Se compararmos o período de duas semanas antes das competições, o noticiário referente às olimpíadas na imprensa brasileira foi 405% superior ao das paralimpíadas.

Isso contribui para reduzir o alcance de acordos publicitários, já que as marcas e atletas perdem o interesse em investimentos palpáveis porque vão aparecer menos. Deste modo, a visibilidade torna-se baixa para patrocinadores e também para as audiências, gerando por um lado, desinteresse das pessoas no esporte paralímpico e, por outro lado, total desconhecimento sobre o contexto de atletas e delegações da modalidade.

Além disso, a grande maioria dos atletas paralímpicos não possui um trabalho estratégico de gestão das suas carreiras no ambiente digital. Observamos que atletas medalhistas de ouro na Rio-2016, tais como Daniel Martins (atletismo), Silvânia Costa (atletismo), Evelyn Oliveira (bocha), Ricardinho Alves (futebol de 5) e Diogo Ualisson (atletismo), possuem menos de 10 mil seguidores em suas contas no Instagram. Cabe aí a responsabilidade dos próprios atletas, que necessitam de um gerenciamento melhor de suas imagens juntos aos públicos, para se tornarem bons criadores de conteúdo, potencializando as conexões com potenciais marcas patrocinadoras.

Aí entra o velho ditado “quem não é visto, não é lembrado”, pois boa parte do público sequer se lembra dos nomes destes atletas vencedores fora dos Jogos Paralímpicos, gerando pouco engajamento e representatividade. Em nossa análise, identificamos um nível escasso de conteúdos com histórias pessoais, que conectam e provocam um pouco mais os públicos ampliando a visibilidade das carreiras destes atletas. São poucos os que possuem um tratamento refinado de discursos, imagens e engajamento nos ambientes digitais.

Os Top-10 atletas paralímpicos brasileiros em número total de seguidores no Instagram, Twitter, Facebook e Youtube:

A falta de investimentos privados também é um empecilho aos atletas paralímpicos, acarretando em reflexos diretos na queda da visibilidade midiática e impacta digital. Detectamos a recorrência de matérias jornalísticas que relatam estas dificuldades financeiras dos atletas para treinar e competir, ainda mais em um período de pandemia. Não são raros os que recorrem à ajuda familiar, rifas, vaquinhas e eventos beneficentes para custear o esporte.

Um exemplo foi apresentado pelo site Bola Vip, detalhando a situação da atleta Jady Malavazzi, do ciclismo paralímpico, que precisou rifar um uniforme oficial das Paraolimpíadas Rio-2016, a fim de levantar fundos para trocar o conjunto de peças do câmbio de sua handbike e poder competir em Tóquio. Jady vai para sua segunda Paralimpíada e conta com recursos do Bolsa Atleta, programa de patrocínio esportivo do governo brasileiro. No entanto, ela pontuou que precisa desta ajuda para conseguir fazer a troca das peças de sua handbike.

É o seguinte: como não tenho apoio da iniciativa privada, estou rifando um uniforme Rio 2016 oficial e exclusivo, para levantar dinheiro para trocar o grupo da minha handbike, que está defasada em relação às minha adversárias. Para quem não sabe, isso é um conjunto de peças do câmbio e isso precisa acontecer nas próximas semanas”, pontuou a atleta em suas redes sociais.

A discrepância entre apoio estatal e privado aos atletas paralímpicos é notória. Mais de 95% dos esportistas que vão ao Japão contam apenas com a Bolsa Atleta para que possam se dedicar à preparação dos Jogos. São contemplados aqueles que atingem bons resultados em competições nacionais e internacionais, sendo seis categorias de auxílio: Atleta de Base (R$ 370,00); Estudantil (R$ 370,00); Nacional (R$ 925,00); Internacional (R$ 1.850,00); Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100,00) e Pódio (de R$ 5 mil a R$ 15 mil). A categoria mais alta, Pódio, contempla a maioria dos atletas da delegação brasileira (127) e são os esportistas com maiores chances de conquista de medalhas. Para isso, devem estar entre os melhores na sua modalidade.

Aliás, identificamos que, das 20 modalidades em que o Brasil vai participar nos Jogos Paralímpicos, em 15 delas, 100% dos esportistas recebem o Bolsa Atleta. Entre os bolsistas na delegação, 137 são homens (59%) e 95, mulheres (41%).

  • O investimento direto do Governo Federal nas 20 modalidades em que o país terá representantes em Tóquio superou os R$ 151 milhões no ciclo paralímpico.
  • Em 2016, 100% das medalhas conquistadas pelos atletas paralímpicos brasileiros vieram com integrantes do Bolsa Atleta.

Todos estes fatores identificados em nosso estudo, acabam por influenciar diretamente na baixa interação do brasileiro com o esporte paralímpico. Essa impressão é compartilhada também por mais da metade de 607 atletas paralímpicos ouvidos na pesquisa “Paratletas e o Esporte Paralímpico no Brasil”, realizada entre 19 a 29 de dezembro de 2017, pelo DataSenado em parceria com o gabinete do Senado Romário (PODE/RJ).

  • Segundo 88% dos entrevistados, os investimentos no esporte paralímpico no Brasil ainda são insuficientes.

A pesquisa mostra ainda que a quantidade de espaços para a prática de esportes adaptados é ruim ou péssima para 44% e regular para 31% dos paratletas ouvidos. Já a qualidade das instalações disponíveis é ruim ou péssima para 31% e regular para 28%.

  • Por fim, 64% dos entrevistados dizem que o esporte paralímpico possui baixo poder de interação com os públicos nas redes sociais.

E se compararmos com os Jogos Olímpicos?
Jamais uma delegação brasileira foi tão numerosa e qualificada em Jogos Paralímpicos realizados fora das fronteiras nacionais quanto agora. O país foi Top-10 no ranking de medalhas nas últimas três edições: nono em Pequim 2008, sétimo em Londres 2012 e oitavo na Rio 2016. É bem provável que o país se mantenha neste patamar em Tóquio, já que o Brasil estará presente nas pistas, piscinas, campos, quadras e canchas de Tóquio. Mesmo assim, entendemos que o nível de engajamento, interesse e interação do público brasileiro com as paralimpíadas comparado com as olimpíadas é desigual. Os Jogos Olímpicos chamam muito mais a atenção, atraem os melhores investimentos, despertam o interesse das marcas e geram um engajamento bem maior do que os eventos paralímpicos.

Por exemplo, enquanto os Jogos Paraolímpicos do Rio em 2016 chegaram a 2 milhões de ingressos vendidos, as Olimpíadas 2016 venderam 6,1 milhões de tíquetes. Além disso, os Jogos Olímpicos daquele ano atraíram uma audiência global de mais de 3 bilhões de telespectadores, enquanto as paralímpiadas tiveram em torno de 472 milhões de telespectadores. O nível de investimentos publicitários nas olimpíadas do Rio foi 115% superior ao da paralimpíadas.

Com esta “goleada” de números em prol das olimpíadas, fizemos uma análise comparativa de hashtags relacionadas aos Jogos Olímpicos e aos Jogos Paralímpicos no Instagram. Isso nos ajudou a perceber melhor o nível de envolvimento das pessoas com as competições. Novamente, percebemos um interesse muito superior dos brasileiros pelos Jogos Olímpicos.

Com relação aos valores de investimentos nos atletas também é notória a diferença. Juntos, o valor destinado a atletas olímpicos e paralímpicos foi superior a R$ 750 milhões por ano em 2020, através do tripé formado pela Lei das Loterias, Bolsa Atleta e Lei de Incentivo ao Esporte. Em 2020, a Lei das Loterias destinou, apenas ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), R$ 292,5 milhões, valores que foram destinados às diversas confederações filiadas. Outros R$ 163,1 milhões foram repassados pela mesma lei ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

As premiações para os medalhistas também tem uma diferença considerável entre os valores distribuídos pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e pelo CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro).

Modalidades Individuais

Medalha de ouro:
Atletas olímpicos: R$ 250 mil
Atletas paralímpicos: R$ 160 mil (- 36%)

Medalha de prata:
Atletas olímpicos: R$ 150 mil
Atletas paralímpicos: R$ 64 mil (-134%)

Medalha de bronze:
Atletas olímpicos: R$ 100 mil
Atletas paralímpicos: R$ 32 mil (-212%)

O título paralímpico em modalidades coletivas, por equipes, revezamentos e em pares (bocha), valerá um prêmio de R$ 80 mil por atleta. Já a prata, neste caso, será bonificada com R$ 32 mil e o bronze, com R$ 16 mil. Demais integrantes das disputas, atletas-guia, calheiros, pilotos e timoneiro, vão receber 20% da maior medalha conquistada por seu atleta e 10% a cada pódio a mais do valor da medalha seguinte.

A única base de comparação favorável às paralimpíadas é o número de pódios já conquistados: em 12 participações brasileiras nos Jogos Paraolímpicos foram 301 medalhas, ainda sem contabilizar os resultados de Tóquio. Já o esporte olímpico brasileiro, em 23 participações, incluindo Tóquio, conquistou 150 medalhas.

Atenção marcas: Paris 2024 é logo ali.

De acordo com uma pesquisa feita em 2019 pelo IBGE, cerca de 45 milhões de brasileiros (número que representa quase 22% da população nacional) possuem algum tipo de deficiência, e muitas dessas pessoas buscam no esporte uma opção para superar as dificuldades cotidianas, visando a inclusão, o lazer e outros benefícios. Mesmo com este volume de pessoas, identificamos que o interesse e a interação dos brasileiros com o esporte paralímpico no Brasil ainda é pequeno. Com visibilidade discreta no ambiente digital e apoio financeiro desigual frente ao esporte olímpico, a modalidade não consegue espaço regular junto aos canais de informação e, tampouco, um elo de reconhecimento e incentivo junto à sociedade civil.

Não há comparação, por exemplo, entre os atletas paralímpicos com o engajamento alcançado (e mantido) pelos atletas olímpicos. Ao longo do ciclo olímpico, no período entre os Jogos Paralímpicos, a nulidade de transmissões esportivas de disputas paralímpicas potencializa ainda mais este cenário.

A participação midiática seria fundamental, neste sentido, para estimular, envolver e ensinar os brasileiros a valorizarem o esporte paralímpico. A transformação que seria promovida na vida destes atletas, ao retratar as potencialidades e não apenas as limitações dos mesmos, ampliaria a visibilidade para os resultados em competições nacionais e internacionais ampliando a obtenção de recursos de suporte ao desenvolvimento esportivo dos mesmos.

Mas, atualmente, o desconhecimento por completo da sociedade pelo esporte paralímpico gera uma retração negativa quando o assunto é inclusão social, oportunidades e reconhecimento popular. Não apenas quando acontecem os Jogos Paralímpicos. Mas através de uma dinâmica regular e ascendente. Sem a visibilidade para os públicos, os “heróis” paralímpicos, como Daniel Dias, seguirão meros desconhecidos no panorama atual brasileiro, conforme atestamos em nosso estudo.

Podemos dizer também que as dificuldades que envolvem a carreira esportiva do atleta paraolímpico, juntamente com seus desafios, revelam um cenário ainda cercado de problemas estruturais, principalmente em relação à manutenção de políticas de incentivo em todas as suas fases pré-transição, transição e pós-transição. A necessidade de manter-se obtendo resultados expressivos passa a ser uma exigência que esbarra na estrutura esportiva deficiente existente no país. A maior sensibilização da iniciativa privada aliada a parceria com Instituições de Ensino Superior e Instituições Militares ampliará as perspectivas positivas para o futuro, gerando uma melhor gestão e visibilidade à carreira destes atletas.

Além disso, os investimentos financeiros pesam bastante na balança. Apesar de existirem programas estatais de bolsas como o “Bolsa Atleta”, que tem como finalidade apoiar atletas com chances de disputar finais e medalhas olímpicas e paraolímpicas, os incentivos financeiros ainda são restritos a uma parcela pequena dos competidores paralímpicos, que necessitam desse dinheiro para transporte ao local de treino, despesas com viagens, equipamentos e outros custos diversos.

Embora o desempenho da delegação brasileira figure entre as melhores do mundo, podendo alçar estes atletas e as marcas patrocinadoras a índices consideráveis de visibilidade e engajamento, observamos que o cenário ainda é muito tímido frente ao esporte olímpico. Isso reverbera diretamente na falta de interesse e no desconhecimento geral que os brasileiros possuem quando o assunto é paralimpíadas. Este cenário gera oportunidades.

“Acreditamos que há uma oportunidade benéfica para as marcas e para a mídia esportiva. As marcas que abraçarem esta oportunidade agora terão posição privilegiada nas Paralimpíadas em 2024, obtendo um impacto expressivo em suas reputações e na simpatia dos consumidores. Há tempo suficiente para um trabalho de construção deste segmento e é uma conta que fecha.” Gustavo Ramos, CEO da Esentia Inteligência.

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Sobre a Esentia Inteligência
Com mais de uma década de experiência e presente em 10 estados, a Esentia é uma empresa de inteligência completa. Diferente de empresas que trabalham apenas com pesquisas de opinião, ou apenas como monitoramento de internet, ou apenas como análise de dados, ou apenas com análise de imprensa e opinião pública, ou apenas com consultoria, a Esentia Inteligência tem o grande diferencial de fazer tudo isso junto, através de uma metodologia única, que consegue trazer respostas com um olhar de 360 graus com análise de dados, indicadores, cenários, e tendências. É uma das únicas empresas do mercado que realiza estudos estratégicos em vários ambientes, seja no de produtos e serviços privados, no político e eleitoral ou na gestão, serviços e políticas públicas. Combinando diferentes processos e metodologias proprietárias, a Esentia entrega a verdadeira inteligência de mercado e social, seja para concepção, planejamento, acompanhamento, mensuração ou tomada de decisões.

Ficha técnica do Estudo
Metodologia:
O presente estudo foi realizado entre os dias 08/08/2021 a 22/08/2021. Foram ouvidas 730 pessoas. A amostra seguiu os critérios do IBGE para refletir a população brasileira. Houve complementação com pesquisa exploratória e dados secundários ex-post facto. Assim, os dados primários e secundários, data sets públicos e/ou proprietários e/ou adquiridos pela Esentia Inteligência, são provenientes de canais formais e informais, não armazenados, com critério de filtro por grupos de palavras-chave e termos específicos atinentes aos objetivos do estudo em publicações públicas de pessoas físicas e jurídicas divididas em clusters psicossociais, demográficos e geográficos específicos.

Aspectos legais e Direitos autorais: O estudo é privado, não registrado e foi elaborado em conformidade com a LGPD brasileira. Sempre que publicado com anuência, deve-se citar a fonte da proprietária: Esentia Inteligência.

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