Maria, não fazes ideia do quanto me deste hoje!

eSolidar
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3 min readNov 23, 2015

“Conheci hoje a Maria num qualquer parque de estacionamento de um qualquer supermercado. Como sei o seu nome? Porque lho perguntei após ela se ter aproximado de mim humildemente e ter perguntado se eu tinha a bondade de partilhar alguns dos meus bens alimentares com ela porque tinha fome.

É claro que podia! Dos alimentos que eu ali tinha, entre frutas, legumes e umas coisas estranhas que ela não sabia o que eram, ela disse que podia ser maça porque, embora ela não tivesse dentes para a comer ali, quando chegasse a casa podia cozê-la e assim já conseguia comer.

Dei-lhe as maçãs e resolvi dar-lhe algo mais, que eu por acaso ainda tenho e não me custa nada partilhar: dei-lhe algum do meu TEMPO!

A Maria tem 82 anos e toda a vida trabalhou. Muitos anos de campo. Trabalhou até em Setúbal nas vinhas. Um dia acreditou que a vida podia ser melhor e conseguiu tirar um curso de cabeleireira. Chegou a ter o seu próprio negócio mas um acidente nefasto esmagou- lhe o fémur da perna direita e remeteu-a para a invalidez.

A Maria era uma de sete irmãos. Cinco já morreram e um não sabe se está vivo ou morto.
Tem um filho de um homem que nunca mais quis saber dela ou do filho. E o filho, por mais que ela lutasse para que ele seguisse por bons caminhos, perdeu-se no mundo da droga! Hoje, um homem adulto com 5O e tal anos sofre de problemas mentais devido aos muitos anos de consumo que, ainda assim, conseguiu um emprego.

Ganha pouco mas tem-se conseguido orientar e ajuda-a com o que pode. Costuma pagar-lhe o café e a carcaça que come com ele todas as manhãs de segunda a sexta.

Maria vive numa casa alugada que “graças a Deus tem tudo”. Não paga a renda há ano e meio. Os 240€ de subsídio de sobrevivência que recebe mal chegam para os medicamentos (tem meses que não os compra todos), para ter água, luz e gás para fazer a comida (quase sempre de esmola) e para tomar um banho quente por semana. O senhorio tem bom coração e já não lhe pede que pague.

A Maria é asseada. Tem o aspeto possível para uma pessoa daquela idade e naquela condição, mas não compreende porque é que há pessoas que nem sequer lhe dirigem o olhar quando lhes pede ajuda.

Eu também não compreendo Maria. Quando perguntei à Maria se podia partilhar a sua história e a abracei para tirar uma foto, por baixo das suas roupas gastas mas limpas, senti carne, senti osso. Posso jurar que era humana.

Ao despedir-me da Maria dei-lhe algum dinheiro. Ela disse que eu era um anjo e perguntou se me podia dar um beijo. Dei-lhe dois! E disse que ela é que era um anjo.

Vim embora a chorar por dentro num misto de tristeza e compaixão. E já em casa, chorei por fora.

Maria, não fazes ideia do quanto me deste hoje.”

Noel Santos, o anjo da Maria

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