Entrevista | Roberto Schmitt-Prym
Por Humberto Lemos, em 12/08/2009
Roberto Schmitt-Prym nasceu em Panambi, RS. Realizou sua primeira exposição individual no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em 1990. Desde então fez mais de vinte exposições individuais em museus e instituições do Brasil e exposições coletivas e uma dezena de prêmios em diversos países.
Algumas de suas obras foram expostas em Museus e Centros Culturais. Como você vê o mercado de fotografia fine art brasileiro e ibero-americano?
A fotografia vem atingindo cifras milionárias no mercado mundial. A demanda pela arte fotográfica já vem sendo sentida nos leilões de arte há alguns anos e o real interesse por fotografias foi, no Brasil, medido num leilão de fotografias realizado em setembro de 2008 em São Paulo pela Bolsa de Arte. Pouquíssimas obras não foram arrematadas, sinal de que a fotografia está em alta, pelo menos entre os investidores deste mercado, sendo que a Bolsa de Arte pretende realizar leilões periódicos de fotografia.
O mercado fine art exige um investimento alto, tanto para compradores quanto para o próprio fotógrafo, que deve buscar papéis, tintas e molduras especiais. Você acha que o mercado brasileiro está pronto para absorver e valorizar esse tipo de trabalho?
O investimento, para fotógrafos, diminuiu muito nos últimos anos, com o advento da fotografia digital. Quanto à impressão das imagens, os custos não superam as de um pintor ou de um gravador que também precisa editar as suas obras. O mercado de fotografias está sendo formado no Brasil e deve, como já acontece na Europa e nos Estados Unidos, proporcionar um retorno de investimento além do estético aos colecionadores.
Seu trabalho tem forte cunho experimental. Por que a escolha por essa estética? Você emprega algum método de fotografia convencional (Platinum e Palladium, Goma Arábica, Fotogravura, Polaroid-transfer, etc…) em seu trabalho?
A fotografia, como qualquer manifestação artística, segue uma tradição que vai sendo subvertida. Quando comecei a trabalhar com fotografia fiz uso de algumas técnicas antigas como uma grande série de impressões a partir de negativos de vidro com imagens compostas a mão, clichès-verre em preto e branco, fiz fotografias abstratas a partir de luzes polarizadas e mais tarde revisitei o nu em fotografias com focalização muito pontual mas com a aparência dos Cartes de Visite dos anos 1850. Com o surgimento da fotografia digital e suas possibilidades de manipulação, passei a me interessar pela sobreposição de imagens.
Você acredita que em contra-ponto a fotografia digital, a resposta de muitos fotógrafos é produzir e valorizar cada vez mais fotografia tradicional?
Hoje as possibilidades são infinitas. Muitos dos fiéis seguidores da fotografia p&b em filmes de 35 mm se vêem obrigados a digitalizar os negativos para possibiltar ampliações de grandes tamanhos. Há fotógrafos que utilizam scanners para produção de suas obras e outros continuarão a utilizar filmes negativos enquanto estes estiverem a venda. Mas não vejo uma especial valorização deste tipo de trabalho. O que importa é sempre o resultado final, independente de sua forma de produção.
A memória é um tema recorrente em seu trabalho. Qual a sua relação com o tema? O que o faz fotografar? Quais são suas referências e projetos em andamento?
Talvez possamos falar de fotografia de cenas ou de cenários reais e de cenas ou cenários da memória. O tema é antigo, mas é uma possibilidade da utilização de arquivos fotográficos anteriores para a produção de um trabalho novo. A série de fotografias “Cenarios da memória” remete ao ato de ver e de lembrar. Fala daquilo que o expectador lembra dos “cartões postais” de grandes cidades e lugares visitados. Estes “postais” são recontruídos através da sobreposição de inúmeras fotografias, por vezes cinquenta ou sessenta imagens, procurando uma forma e um ritmo que não estava nas imagens originais. O resultado é um cenário novo, misteriosamente distante do real, parte memória, parte imaginação. A decodificação das imagens é um jogo, que decorre desta que é uma narrativa espacial, que nunca existiu. Outro projeto em andamento é o de “Cenas vertiginosas”. Estes trabalhos se referem a cenas ao invés dos cenários e evocam lembranças pouco nítidas, mas trágicas.