Perfil | August Sander
*Texto por Carol de Góes, em 29/05/2012
O primeiro contato que o alemão August Sander (1876–1964) teve com fotografia foi enquanto trabalhava como mineiro, ainda adolescente, em Colônia. Após sete anos de trabalho nas minas, estudou pintura em Dresden por um ano. Depois, mudou-se para Linz, onde foi funcionário de um estúdio, do qual se tornou sócio em 1902 e proprietário único em 1904. Em 1909, vendeu seu estúdio em Linz e voltou para Colônia, onde montou outro estúdio e deu início a seu ambicioso projeto “Menschen des 20. Jahrhunderts” (Pessoas do Século 20).
“Menschen des 20. Jahrhunderts” é uma espécie de inventário de pessoas. Sander fez retratos das mais diversas pessoas e montou um acervo, o qual classificou em sete categorias: O Fazendeiro, O Trabalhador Qualificado, Mulher, Classes e Profissões, Os Artistas, A Cidade, e As Últimas Pessoas. As fotografias são uma mostra da amplitude da diversidade humana, ainda que realizadas em regiões geográficas concentradas — basicamente Colônia e Sardínia, por onde viajou durante três meses em 1927.
Em muitas dessas fotografias, as funções, origens e características dos retratados são reveladas, de forma controlada, através de elementos sutis naturalmente incorporados, como indumentária e gestos, numa intenção de capturar o sujeito em suas condições naturais, uma imagem fiel à realidade. Sander acreditava que “nós sabemos que as pessoas são formadas de luz e ar, de seus traços herdados e suas ações. Podemos perceber, através de sua aparência, o trabalho que a pessoa faz ou não faz; podemos ler em seu rosto se está feliz ou preocupada.”
O livro “Antlitz der Zeit” (Face de Nosso Tempo), publicado por Sander em 1929, reúne 60 retratos da série “Menschen des 20. Jahrhunderts”. Os arquétipos lá dispostos chamaram a atenção dos nazistas de forma negativa; acreditavam que a diversidade humana nele mostrada ia contra os ideais arianos, ainda que classificada. Em 1932, seu livro foi retirado de circulação e seus negativos foram tomados. Em 1934, seu filho Erich foi preso por conta de suas atividades políticas e, por segurança, Sander deixou de documentar pessoas e concentrou-se em seus trabalhos de fotografia de arquitetura, natureza, paisagem e “street photography”.
Sander fotografou a cidade de Colônia e as paisagens na região do rio Reno exaustivamente, compilando inventários. Em 1942, seu estúdio foi destruído em um dos vários bombardeios sofridos pela cidade durante a guerra, arruinando cerca de 40,000 negativos. Sander refugiou-se no campo, na região de Westerwald, onde continuou seu trabalho sob condições rudimentares. Reorganizou seu acervo e compilou uma coleção de fotografias da cidade de Colônia, antes e depois dos bombardeios, considerada a única do gênero.
August Sander morreu em Colônia, em 1964. Seu trabalho foi exposto na Photokina de 1951, e em uma importante retrospectiva no MoMA, em 1969. Em 1975, foi publicado um livro com suas paisagens. Sua obra prima, a monumental “Menschen des 20. Jahrhunderts” foi finalmente publicada em 1980, editada por seu filho Gunther, e depois compilada e publicada nos sete volumes de “August Sander: People of the 20th Century”. Em 2008, uma cratera no planeta Mercúrio recebeu o nome de Sander em sua homenagem.
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