Arte urbana dita novo perfil comportamental

nathália pessel
Especializado News
Published in
4 min readJun 22, 2015

Antes marginalizado, esse movimento é hoje reconhecido como verdadeira ação social

Elementos do estilo urbano já são os novos desejos de compra dos consumidores.

Cultura erudita, cultura tradicional camponesa, separação entre “alta cultura” e cultura popular, cultura burguesa e cultura de massa. São muitas as transformações do que se considera “cultura” ao longo dos anos.Isso porque esse termo é entendido como um processo de adaptação e readaptação social e historicamente datadas de um conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de uma determinada sociedade.

Segundo o professor e doutor em História, Charles Monteiro, cultura é sinônimo do que é produzido e criado socialmente. Dessa forma, um critério para se considerar um movimento cultural seria o reconhecimento dele como tal. O problema é que, às vezes, essas manifestações encontram resistência por parte da sociedade, que vê nas antigas tradições uma forma segura de manutenção da ordem. Geralmente, esse impasse se dá com as gerações mais velhas.

“Os jovens teriam menos bagagem cultural e experiência e estariam, em certo sentido, mais abertos a experimentar novas práticas e novos modos de fazer diferentes dos tradicionais”, esclarece Charles. Confirmando essa teoria, um movimento que iniciou como uma manifestação jovem e sem reconhecimento é a arte urbana. Obras que ligam a realidade dos seus artistas com a arte eram antes vistas como rueiras e ligadas ao vandalismo, sendo hoje consagradas e consideradas como parte cultural brasileira. Porém, vale lembrar que esse processo de valorização do “urbano” foi um processo longo para quem se envolveu.

Preconceito, descrença e negação foi como começou a história do grafite no Brasil e no mundo. Considerada como poluição visual por pintar muros de locais públicos, essa forma de expressão ganhou força em Nova Iorque na década de 70, quando jovens começaram a fazer uma crítica social através de desenhos. Logo depois disso, essa arte chegou ao Brasil e conquistou muitos amantes, principalmente das classes mais desfavorecidas.

A mistura de desenho e escrita é uma das principais combinações do grafite.

Em Porto Alegre, um grupo de amigos se juntou há quase seis anos para desenvolver essa arte como trabalho. O Núcleo Urbanóide tem o objetivo de defender a promoção e a execução de projetos visuais de arte urbana e design autoral. O projeto ainda é responsável pela organização de workshops para difundir essa cultura.

Segundo um dos grafiteiros do grupo e tatuador Lucas Pasecinic, conhecido como “Paçoka”, o grafite começou a conquistar espaço naturalmente quando “as pessoas entenderam que o foco dessa arte é embelezar lugares públicos, não os vandalizar”, explicou. Porém, o profissional admite que ainda há preconceito com essa forma de expressão, uma vez que existe uma diferenciação entre a forma como valorizam as obras expostas em galerias daquelas que estão nas ruas.

Outro movimento que teve história semelhante a essa é o do rap. Muito ligado ao grafite, esse estilo musical nasceu nos guetos jamaicanos na década de 1960, quando foi levado para ser comercializado nos Estados Unidos. No Brasil, essa moda só chegou em 1980, quando grupos da periferia se reuniram na estação São Bento, em São Paulo, para criar rimas e mixar a batida musical. Porém, com as canções abordando aspectos sociais, criticando governo e relatando situações vividas nos subúrbios, o rap sempre foi uma cultura ainda mais difícil de ser reconhecida.

Quem vive diariamente essa realidade é a banda gaúcha Viralataz. Segundo um dos vocalistas do grupo, Gustavo Vianna, o Negão, esse estilo, apesar de ainda enfrentar bastante preconceito,já avançou muito no que se refere a alcançar público. Para ele, por mais que algumas pessoas não gostem da batida, elas conhecem e entendem que é uma forma de expressão.

“Alguns artistas de rap, que já são mais reconhecidos, enriqueceram o cenário musical e oportunizaram o crescimento dos movimentos independentes”, justificou o MC.

Esses dois exemplos remetem a uma nova mudança do que consideramos ser o cenário cultural brasileiro. Essa alteração, que pulou os muros da cidade, mostra uma sociedade mais aberta ao diferente, ao dinâmico e ao movimento. Observando as mudanças artísticas do Brasil, quem ditava essas modificações era sempre a classe dominante da vez. Hoje, diferente disso, é a própria comunidade quem determina o que pode ser considerado cultura. Essa valorização da arte urbana à categoria cultural representa, assim, um novo perfil social brasileiro, que aceita movimentos que nasceram na rua, foram feitos para ela e através dela. Esses dois exemplos remetem a uma nova mudança do que consideramos ser o cenário cultural brasileiro. Essa alteração, que pulou os muros da cidade, mostra uma sociedade mais aberta ao diferente, ao dinâmico e ao movimento. Observando as mudanças artísticas do Brasil, quem ditava essas modificações era sempre a classe dominante da vez. Hoje, diferente disso, é a própria comunidade quem determina o que pode ser considerado cultura. Essa valorização da arte urbana à categoria cultural representa, assim, um novo perfil social brasileiro, que aceita movimentos que nasceram na rua, foram feitos para ela e através dela.

Texto e fotos: Nathália Pessel

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nathália pessel
Especializado News

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