Categorias de base: o futuro dos clubes de futebol

Jean Chollet
Especializado News
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4 min readJun 22, 2015

Em momentos diferentes financeiramente, Inter e Grêmio depositam as fichas nos pratas da casa em busca de títulos na temporada

O ano de 2015 apresentou inúmeras mu-danças no grupo principal de jogadores da dupla Gre-Nal, revertendo um quadro predominante nos dois principais times do Sul do Brasil. Em tempos que os salários fartos tomam conta do mercado futebolístico, os dois clubes do Estado recorreram ao que sempre tiveram de melhor: as categorias de base.

Procurando fazer equipes competitivas para a disputa dos campeonatos durante a temporada, a direção acaba mergulhando em busca de atletas que já sejam conhecidos. Em um primeiro momento, qualificar o elenco com experientes e rodados pela Europa. Segundo, entra o fator torcida. Uma contratação de peso alimenta o sonho de qualquer apaixonado. No entanto, acaba desvalorizando o que se foi criado na própria casa, com critérios que o próprio clube impõe e acaba não aproveitando.

Dois fatores contribuíram para a mudança neste ano: necessidade e planejamento. Com o cofre totalmente vazio para reformar o elenco, o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan assumiu a estratégia de promover pratas da casa junto ao elenco de 2014, que apresentava alguns jovens já revelados. Além disso, houve a troca na coordenação das categorias de base, que agora é comandada por Luciano Dias, ex-jogador tricolor.

Na apresentação do contratado, o mandatário destacou a importância de dar sequência ao trabalho. “Temos que andar para frente. Para mim, a formação tem que ser de excelência. Aqui nas categorias de base nós temos as perspectivas mais concretas de fazer a recuperação do clube”.

Após um levantamento feito sobre a base tricolor, um dado chama a atenção: desde de 2012, o Grêmio realizou a venda expressiva de apenas cinco garotos. A última foi em janeiro de 2014, Leandro foi negociado com o Palmeiras por 5 milhões de euros. No grupo atual, ao menos cinco jogadores têm se destacado, são eles: Marcelo Grohe, Walace, Lincoln, Luan e Yuri Mamute. O coordenador conclui o pensamento de Romildo. “Vamos nos reorganizar para seguir fortes no trabalho de formação dos nossos atletas, auxiliando o futebol profissional no que for preciso”.

Já do lado colorado, as alterações no elenco foram mais por planejamento do que necessidade. No início da temporada, a direção foi às compras, trazendo sete reforços para o grupo principal com condições para serem titulares. Mas a novidade estava por vir. Oscilando o time por disputar duas competições em paralelo, Diego Aguirre deu chance aos garotos, que foram ganhando destaque com boas atuações e hoje são titulares absolutos, desbancando todos os medalhões.

Depois de trabalhar 18 anos com a base e agora assumindo a função de gerente de futebol, Jorge Macedo prometeu fazer a transição entre os jovens e o profissional, e conseguiu fazê-la. Ainda no final do ano passado, em conversa com o presidente Vitório Piffero e a direção, foram traçados alguns detalhes para o começo de 2015, durante a pré-temporada. “Promovemos alguns meninos, uns já estavam ano passado como Valdivia e teve a promoção de outros meninos em todas posições, caso do Willian na lateral direita, Geferson na lateral esquerda, Alisson Farias, enfim são diversos jogadores para compor o elenco. A ideia era ter no mínimo três atletas por posição, sendo que cada posição tivesse um menino da base. Aos poucos, com o rodízio que o Aguirre foi fazendo no início da temporada fazendo que todos atletas jogassem, eles foram conquistando seus espaços através das oportunidades”, avaliou.

Jogando seu futebol eficiente e sem muitas firulas, Rodrigo Dourado foi um dos sortudos nesta safra colorada. Com a incerteza no início do ano se treinaria com a turma de cima ou se seria emprestado, o jovem de apenas 20 anos conquistou a confiança de todos no clube e hoje é um dos pilares da equipe de Aguirre. Em menos de seis meses já despertou o interesse de clubes europeus e é cobiçado por este mercado. “Cheguei em 2006, pude acompanhar Libertadores e Mundial. Estou desde os 12 anos fora de casa, perdendo infância e longe da família. Valeu o sacrifício, e agora estou colhendo os frutos”.

Rodrigo Dourado, no Inter desde 2006, subiu para equipe principal no início da temporada e hoje é titular absoluto

Além deste novato, o grupo principal conta com tantos outros meninos. Macedo também planeja um futuro muito promissor para o Inter e para os atletas que estão por subir para o profissional no próximo ano, ou talvez ainda nesta época, dependendo da necessidade. “Temos uma equipe sub-20, com vários nomes, com alguns jogadores que tiveram passagem pelo profissional, é o caso do zagueiro Eduardo, foi integrado ao grupo principal, tem mais jogadores como Gustavo Ferrareis, Leandro, Andrigo, são todos bons jogadores e se tiverem oportunidades podem estar surgindo no grupo profissional”.

Coincidência ou não, em 2013, o Inter, que brigou até a última rodada para não cair para a segunda divisão, sob o comando de Dunga, atual técnico da Seleção Brasileira, teve pouco aproveitamento dos jovens. Apenas Fred, hoje no Shakhtar Donetsk, e Otavio, no Porto, foram os mais utilizados pelo treinador. O gerente de futebol colorado lembra que alguns titulares tiveram outras oportunidades, mas só agora conseguiram ganhar destaque. “Às vezes o menino sobe e não consegue dar uma sequência, tinha uma época que tinha subido o Alan Costa que está jogando, o próprio Valdivia no final de 2013, o Sasha também já vinha nessa transição”, lembrou.

O fato é que as ascendências destes jovens deram vida ao plantel principal das duas equipes. Resta saber se todo o trabalho, planejamento e até mesmo a necessidade, serão transformados em boas atuações, títulos, destaque mundial destes atletas e até mesmo a recuperação dos clubes brasileiros.

Texto e fotos: Jean Chollet

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