Eucalipto: vilão ou herói dos pampas?

Vanessa Back
Especializado News
Published in
4 min readJun 22, 2015

A planta que se adapta em praticamente todo o Estado possui várias espécies, com distintas finalidades. Profissionais defendem o cultivo e explicam seu verdadeiro impacto.

No Rio Grande do Sul a monocultura do eucalipto está em uma região no entorno das grandes industrias de celulose.

Muitos mitos entornam o eucalipto desde que, na década de 60, o resultado de seu plantio foi um fracasso nas primeiras tentativas. Tratando-se do século passado, a não apresentação dos resultados esperados em relação a sua produtividade é atribuída à falta de conhecimento técnico e planejamento inadequado para o cultivo da época. Ainda hoje surgem críticas quanto a produção e, em muitos casos, de um ponto de vista profissional, socioambiental e econômico, esta não é a mais apropriada.

Da planta originária da Austrália, atualmente, tudo se aproveita, desde as folhas até as fibras. A grande questão são as histórias negativas que envolvem seu cultivo, mesmo que, apresente-se como um plantio florestal sustentável capaz de cumprir as premissas ambientais. As florestas plantadas, cuja produção é chamada de silvicultura geram, em suas aplicações: o papel, celulose, siderurgia, carvão vegetal, móveis entre outras finalidades.

De acordo com o assistente técnico estadual da Emater, Dirceu Luiz Slongo, o eucalipto é tão procurado por produtores rurais, de um modo geral, pela sua versatilidade, pelo seu rápido crescimento e pela sua adaptação. Com excessão das áreas muito altas e frias, o eucalipto se adapta em praticamente todo o Rio Grande do Sul. São varias espécies, para cada região tem uma e pra cada finalidade, uma espécie indicada.

“É difícil tu ir em uma propriedade rural que não tenha ao menos um pequeno bosque de eucalipto. Porque quando se precisa tem, seja pra lenha ou para a construção civil. Tudo se usa e vende-se o excesso. É o rendimento e a rentabilidade, começa aí a aceitação do eucalipto”, afirma Slongo. Com relação ao impacto das monoculturas acredita que qualquer monocultura ao longo do tempo é prejudicial ao solo, mas, para ele, a do eucalipto é menos prejudicial do que uma monocultura anual.

No Rio Grande do Sul essa monocultura está em uma região no entorno das grandes industrias de celulose. Tudo que é plantado é feito mediante licenciamento ambiental e o estado é o único brasileiro que possui um zoneamento ambiental para a civilcutura e para o ambiente. Onde é feito o plantio licenciado de eucalipto, ou de outra atividade como o pinus e a acácia, todas as questões de preservação permanente devem que ser cumpridas. Isso passa a ser uma garantia de que nessas áreas há preservação permanente e a reservas legais são respeitadas.

Para o pequeno produtor rural, Alfredo Rodrigues, a decisão de plantar eucalipto veio a partir da necessidade em encontrar uma planta que sobrevivesse ao inundamento de suas terras e auxiliasse nessa questão. “Na época em que decidi plantar, todo mundo da minha região plantava acácia, como queria fazer um plantio diferente foi então que decidi pelo eucalipto. Outro fator foi que uma parte do meu sítio era todo encharcado, e isso com a acácia não funcionava. Foi então que peguei três tipos de eucaliptos e deu tudo certo”, comemora.

Para a Emater, ao longo dos 60 anos de trabalho, sempre houve respeito à questão de preservação das áreas nativas. A preconização de que as extensões que estivessem mais degradas na propriedade, menos favoráveis a agricultura, fossem plantadas atividades como a do eucalipto para que, ao menos, obtivessem na propriedade esse recurso renovável que é a madeira, para o usos múltiplos dessa atividade.

Na plantação do eucalipto há uma intervenção no solo quando planta depois ela pode ficar ali por uma década, dependendo da finalidade, extraindo elementos mas também devolvendo, comparada a uma ciclagem. No nosso estado há 2% de área cultivada com civilcutura, com eucalipto é, talvez, menos de 1%, 310 mil hectares de cultivação. Estudos apontam que até 3% da área gaúcha poderia ser plantada e não causaria problemas ambientais.

Segundo a geógrafa Tania Rodrigues Ferrer, o Pampa é o maior bioma, que reúne Uruguai, Argentina e Brasil, e ele realmente está sendo alterado. A paisagem natural estaria sendo modificada com a produção de eucaliptos, ou seja, não como reflorestamento e sim florestamento. Reflorestar consiste em plantar árvores onde antes existiam florestas. Para um produtor poder ter bosques de eucalipto, comercialmente falando, com mais de 100 hectares, o mesmo deve possuir uma licença ambiental.

“Não tem nada que tu faça na natureza que não seja impactante. Tu mata algumas espécies e traz outras. Com isso estamos mexendo no curso d’água, mas não esta mexendo só porque são eucaliptos e sim porque se está criando uma vegetação, trazendo uma paisagem para aquela região que não tinha. O problema está em transformar uma paisagem natural. O discurso não pode ser esse de que o eucalipto é o vilão.” conclui Tania.

Mesmo com a monocultura do eucalipto aumentando consideravelmente por ano, o pequeno produtor Rodrigues garante: “hoje existe um grande consumo de eucalipto, só que até que ponto? Pela comodidade as pessoas deixam de investir em gado pra plantar eucalipto. Mas, mesmo com esta demanda, não pretendo parar com a minha plantação. Ainda é um bom negócio, acredito que daqui a dez anos não seja mais, mas agora ainda é. Certamente vou continuar.”

Texto e foto: Vanessa Back

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