Privacidade na web: você acredita?

Camila Benvegnú
Especializado News
Published in
5 min readJun 15, 2015

A troca e venda de informações é a grande sacada da publicidade para vender mais. Nesse processo, quem pode estar sendo impactado é você.

Senhas, número de cartão de crédito e conta corrente são informações que os usuários consentem em revelar na web

A internet consome grande parte de nossas vidas. Hoje é quase impossível se imaginar sem as redes sociais, os serviços do Gmail e a facilidade de saber tudo a hora que for. Mas nem tudo na web vem ou vai de graça. Nossos dados, por exemplo, são informações valiosas que entregamos a empresas para usufruir de serviços. Afinal, você já se perguntou como o Facebook sugere quem são seus amigos mais próximos? Ou por que o seu perfume favorito aparece na tela do computador sempre que você acessa um site? Sim, eles cruzam informações e entendem bastante de você!

Uma pesquisa, desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia da PUCRS, revelou o grau de preocupação dos brasileiros com relação à privacidade na internet, em sites como o Facebook, Twitter, Instagram, LinkedIn. O trabalho foi realizado pelo mestrando Vergilio Ricardo Britto da Silva, sob a orientação da professora da Face Edimara Mezzomo Luciano.

O material foi coletado através de um questionário eletrônico, aplicado entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015, nas cinco regiões do país, totalizando 1.104 entrevistas. Os resultados mostram que 70,9% dos respondentes têm preocupação com a procedência dos seus dados preenchidos, principalmente nas regiões Sul e Sudeste — aonde a desconfiança com a privacidade dos usuários é maior.

Edimara, que trabalha com a privacidade de dados desde 2009, diz que esse assunto é bastante discutido internacionalmente, mas que no Brasil tem pouca repercussão. Segundo ela, apesar dos brasileiros se preocuparem com a procedência das suas informações, eles desconhecem para que os seus dados são usados na internet.

Senhas, número de cartão de crédito, número de conta corrente e agência, saldo bancário, gastos com cartão de crédito e limite de cheque especial são algumas das informações apontadas como mais preocupantes. Entre as informações menos sensíveis estão orientação sexual, vícios, escola onde estudou ou estuda, data de nascimento e notas escolares.

O processo funciona mais ou menos assim: as empresas precisam conhecer melhor o seu público para vender mais e driblar a concorrência. Para isso, elas apostam na análise de Big Dates e identificam os perfis de pessoas para, com isso, realizar vendas personalizadas.

- “A venda de informação é o grande negócio do século XXI. Os resultados disso vão desde mostrar um anúncio que você não deseja, até a divulgação de coisas específicas ou simplesmente a venda de informações pessoais para a customização em massa”, comenta a professora.

O Marco Civil

O Marco Civil da Internet (oficialmente chamado de Lei nº 12.965, aprovado em 23 de abril de 2014) é a lei que regula o uso da Internet no Brasil. O artigo sete do documento garante ao usuário o seguinte direito: “não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei”.

Para o especialista em Cultura Digital Vinícius Ghise, as pessoas não consideram que antes de entrar em qualquer rede social, você precisa aceitar determinados termos de uso, pertencentes a uma organização privada. Nesse processo, os dados pessoais vão sendo acumulados numa base cada vez maior de inteligência, para que as empresas possam oferecer produtos com mais assertividade. Com isso, apesar de você usufruir do serviço sem um custo físico, você é ser impactado por publicidade.

- “Quando você não paga por um produto, o produto é você”, comenta Ghise.

O problema está no momento em que ninguém lê esses termos e, portanto, não sabe o que é feito com os seus dados. Para o especialista, o primeiro passo é ter uma consciência de que existem organizações globais que vão acumulando informações, fazendo alianças estratégias, para conseguir agregar cada vez mais informações das pessoas no seu banco de dados.

O caso Snowden

O ex-prestador de serviços da NSA Edward
Snowden (Foto: Rede Globo)

Você deve se lembrar de Edward Snowden, um analista de sistemas, ex-funcionário da Agência Central de Inteligência (CIA) e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos da América. Em junho de 2013, através do site The Intercept, ele revelou documentos secretos que declaram como o governo americano monitora seu povo. Segundo as revelações, a NSA é acusada de desenvolver um sistema para gerir milhões de computadores infectados por códigos espiões, o Turbine.

Neste mesmo ano, Snowden fez outra revelação que afetou a segurança de dados do governo brasileiro. Segundo ele, e o governo americano espionou ligações telefônicas e troca de e-mails de empresas e políticos brasileiros — o que gerou certo desconforto entre as autoridades dos dois países e a expulsão de Snowden do território estadunidense. Segundo Edimara, o caso contribui para que o assunto passasse a ser mais conhecido e debatido entre os brasileiros.

“O caso fez com que aumentasse o nível de preocupação relacionada a privacidade no Brasil”.

Recentemente, em entrevista à revista Época, Snowden fez o seguinte questionamento: “Você não precisa se preocupar com a privacidade na internet a não ser que tenha algo a esconder, certo? Bom, não é bem assim.” Segundo ele, quando estamos conectados com o Facebook, por exemplo, cada pessoa faz parte de uma teia com pelo menos três graus. Se um usuário tem 190 amigos no Facebook, ela está conectada a mais de 5 milhões de pessoas, considerando as conexões amigos de amigos de amigos — o que deixa evidente a grande exposição que os usuários se submetem ao utilizarem os serviço.

Aonde isso vai parar?

Em janeiro deste ano, o Facebook divulgou dados sobre os usuários ativos diariamente — 890 milhões — e os que usam pelo celular — 745 milhões em todo mundo. A grande presença dos usuários nas redes sociais prova que o serviço virou parte da vida das pessoas. Segundo Ghise, a tendência para o futuro é que cada vez mais seja oferecido um produto em troca de algo, neste caso o impacto pela publicidade.

O recente descobrimento dessas tecnologias causam deslumbramento e pouca reflexão entre os usuários. Para o especialista, estamos na etapa de descobrimento para depois começar a enxergar o que realmente acontece.

- Vai um bom tempo até alguém — que teve acesso a isso recentemente — tentar entender o que pode ser feito.

Há mais de quatro anos presente nas redes sociais, o mestrando em artes visuais Vinícius Albernaz diz que, apesar de saber da exposição e invasão de privacidade que possivelmente sofre dos sites que usufrui, não deixaria de usar os serviços.

- “Você se acostuma e precisa disso. É normal querer estar presente aonde as pessoas estão”, afirma Albernaz.

Texto e fotos: Camila Benvegnú

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