Deus para principiantes

Espírita Recreativo
Espiritismo Recreativo
3 min readAug 30, 2018
A Criação de Adão, Michelangelo Buonarotti

A primeira pergunta do Livro dos Espíritos é, de longe, a que mais me chama a atenção. “Que é Deus?”, foi o questionamento de Allan Kardec; no qual os Espíritos responderam: “A inteligência suprema; causa primária de todas as coisas.” Pode nos parecer algo muito vago, mas não era o objetivo dos Espíritos fazer um mistério forçado, algo tão presente nos temas religiosos aqui na Terra.

Allan Kardec poderia ter usado o pronome quem, nos dando a ideia de uma pessoa, um indivíduo, mas ele foi muito mais além da visão antropomórfica do homem em relação ao seu criador. A pergunta abrangente, porém, teve uma resposta mais abrangente ainda.

Com os conceitos de “inteligência suprema” e “causa primária de todas as coisas” nós podemos tirar três aspectos de Deus: ele é o auge, o início e a causa. Sim, ele é o Criador e, sim, tudo que existe hoje parte dele. Isso, de fato, é tudo o que um cristão precisa saber para alimentar a sua fé.

Nós que tivemos uma criação minimamente religiosa fomos ensinados a rezar. Nos foi dito como recitar as palavras certas e como se portar durante o ato. Mas quem foi que nos ensinou a ter fé? Bom, ninguém. A fé não é algo a ser ensinado de alguém para alguém, ela é inata do Espírito. A fé, assim como todas as outras virtudes, não nasce com a gente e deve ser desenvolvida através de nossas próprias experiências. Mas diferentemente de suas irmãs, a fé não se trata com o próximo, é uma virtude relacionada diretamente a Deus; por isso, então, que a fé não é ensinada.

A resposta dos Espíritos à pergunta de Allan Kardec não foi tão específica como muitos queriam porque é algo que ainda está muito longe do nosso entendimento e que a pobreza da linguagem humana nunca conseguiria registrar. Entretanto, como tudo a ser entendido deve partir do começo, os Espíritos nos deram os aspectos primários de Deus (início e causa) que são essenciais para, ao longo do tempo, entendermos as coisas mais claramente.

A fé é essencial nesse contexto pois ela diz respeito a como nós entendemos o conceito de Deus e o que Deus significa para nós. E assim como acontece com a fé, o conceito que temos do Criador é algo a ser trabalhado dentro de nós e unicamente por nós. Quanto mais evoluirmos, quanto mais sábios ficarmos, entenderemos mais o que é Deus. E também como a fé, não vai ser algo ensinado por alguém, mas um conceito que vamos apurar em nós.

Posso ainda dizer que nunca conseguiremos trazer a Deus uma definição específica, direta ou sucinta. Segundo o Google, definir significa estabelecer um limite. Vejam as palavras de Léon Denis no livro Depois da Morte: Definir é limitar. Em face deste grande problema, a fraqueza humana aparece. Deus impõe-se ao nosso Espírito, porém escapa a toda análise. O Ser que enche o tempo e o espaço não será jamais medido por seres limitados pelo tempo e pelo espaço. Querer definir Deus seria circunscrevê-lo e quase negá-lo. Infinito é como chamamos aquilo que não pode ser limitado, mensurado, calculado. Infinito é apenas um dos atributos de Deus.

Para concluir, esse texto acabou servindo para explicar o quão pouco ainda conhecemos e entendemos de Deus. E que principiantes somos todos nós que habitam esse planeta, presos a linguagens simplíssimas e puramente físicas. Como disse Santo Agostinho, se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pede, não sei.

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