Tire os olhos da bola #14 — Rotas cruzadas, não péra…

Cassia Pires
Esportismo
Published in
4 min readJan 15, 2020

Demorou, querido leitor, mas chegou a hora de falarmos de Aaron Rodgers. Precisamos concordar, no entanto, que o quarterback do Green Bay Packers não foi lá essas coisas durante a temporada regular, não. A gente sabe do que esse QB é capaz e ele mostrou muito pouco ao longo do ano passado. Mas nos playoffs tudo muda, né? E ele foi preciso e definitivo.

Direto o ponto

Início do primeiro quarto. Packers já estavam no campo do ataque, em cima da linha de 20 jardas. Se tratava de uma 3ª descida para 7 jardas, ou seja, uma descida longa. Se não alcançassem o first, muito provavelmente iam para um field goal.

O ataque conta com personnel 11 (1 RB e 1 TE). Eu e o Deivis, nosso consultor para o Tire os Olhos da Bola, já discordamos sobre esse tipo de personnel. Porque para mim, o que devia determinar o personnel era o alinhamento, e não o nome da posição. Por exemplo, Jimmy Graham, o TE dessa jogada, está alinhado como recebedor, não como linha. Então, nesse caso, eu sugeri que o personnel fosse 10, não 11.

No entanto, ele segue a linha do personnel ser determinado pela posição. O que você vai ver que faz sentido (claro que faz, ele não é nosso consultor à toa, né, jovens). O primeiro movimento do TE nessa jogada é justamente bloquear (círculo vermelho na imagem abaixo). Mas estou passando o carro à frente dos bois.

A defesa faz uma cover 1, com marcação individual em cima dos recebedores. Spoiler alert: Matt LaFleur soube usar esse detalhe muito bem ao seu favor.

Antes da jogada começar, tem um motion do RB que está ao lado do Aaron Rodgers. Ele sai do lado direito do QB para o seu lado esquerdo. Isso gera uma movimentação do jogador que marcava ele individualmente (setas vermelhas abaixo). Essas movimentações servem muito para o QB entender como a defesa está jogando, corrigir algo que ele notou pré-snap ou ainda tentar confundir a defesa.

Pós-snap, e antes do clímax chegar, importante pontuar que Jimmy Graham teve um papel importante, porque o bloqueio de 1 segundo que ele fez, foi o suficiente para atrasar o defensor que entrou no pocket (seta amarela). Já o LB indicado pela seta azul, cobriu a flat, além de ficar atento a uma possível escapada de Rodgers. Até esse momento, a defesa estava irretocável.

Clímax

Marcação individual em cima, safety no fundo do campo aguardando a decisão do QB, parecia tudo muito bom, até que os dois WRs que estavam abertos mais à esquerda correm como se suas rotas fossem cruzar. Os defensores compram, e acompanham. Acontece, no entanto, que os defensores cruzam, mas os wide receivers não. Eu achei tão sensacional, que fiz até um GIF para que vocês consigam ver isso em looping infinito!

Imagino que por um milésimo de segundos, eles pensaram: eita, e agora, volto pro meu recebedor original ou sigo o WR desse lado mesmo? De qualquer forma, eles já estavam atrasados e Davante Adams consegue espaço suficiente para receber a bola maravilhosa que Aaron Rodgers passou em sua direção, bem plenamente dentro da endzone!

Espero que vocês se emocionem com essas sacadas tanto quanto eu! Agora é hora de tirar os olhos da bola e enxergar tudo isso pela câmera técnica.

Essa coluna conta com a colaboração do Deivis Chiodini, analista no @OntheClockbr, podcaster do @MileHighBrasil e redator no @profootballbr.

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*Tire os Olhos da Bola* é o título de um livro escrito pelo ex-técnico de futebol americano Pat Kirwan. O autor explica, de maneira bem completa, que para entender o esporte é preciso tirar os olhos da bola. O nome dessa coluna se inspira no livro.

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