Tire os olhos da bola #16 — Super Bowl Parte 1

Cassia Pires
Esportismo
Published in
4 min readFeb 5, 2020

Não existe imagem melhor para ilustrar o Super Bowl do que o meme do Chico Buarque. A gente espera a temporada inteira por esse momento x NFL de novo só daqui 6 meses.

Tô feliz/to puto

E Kansas City Chiefs e San Francisco 49ers fizeram uma partida digna de Super Bowl (bem diferente do SB LIII, mas não vem ao caso). O primeiro quarto foi considerado uma aula tática e pensando nisso, vamos destrinchar pelo menos mais uma jogada dessa partida nas próximas semanas. É, eu estou com dificuldade de desapegar de NFL, me perdoem!

Para começar, vamos analisar a jogada que, na minha opinião, foi o começo do fim da partida.

A grande virada

Os 49ers estavam ganhando de 20 a 10. Faltavam pouco mais de 7 minutos para o fim da partida. Os Chiefs estavam em uma 3ª descida para 15 jardas, na linha de 35 ainda no campo da defesa. Ou seja, era uma situação bem desfavorável para o time de Kansas City. Aliás, San Francisco tinha 95% de chances de vencer a partida nesse ponto… Ops.

O ataque está em shotgun, personnel 11 e três WRs estão abertos do lado esquerdo. A defesa marca em zona. É uma escolha acertada, ainda mais com a situação de campo que eu descrevi acima. Mas se foi uma boa chamada defensiva, como tomaram esse passe? Porque, caro leitor, a defesa jogou mal. E eu posso provar.

O crime

Para entender como a defesa trabalhou: jogadores com as setas vermelhas cobriram o fundo do campo, em uma cover 3. O jogador da seta amarela cobre uma zona do meio do campo. Acontece que tanto o TE Travis Kelce quanto o WR Tyreek Hill entram na zona dele e ele cola no cangote do tight end. E os jogadores das setas azuis cobriram as zonas da frente.

A linha defensiva dos 49ers fez um ótimo trabalho contra a OL e o quarterback adversários. Nessa jogada, Mahomes sabe que não adiantava ele fazer o roll out para fora do pocket, movimento que o favorece muito. Muitas outras vezes que isso aconteceu, ele não conseguiu completar o passe. A saída para isso é ganhar ainda mais distância das trincheiras. Ele faz o dropback e fica a 12 jardas de distância da linha de scrimmage, para tentar retardar o contato. O quarterback soltou a bola em uma questão de milésimos de segundos antes de sofrer o contato.

Veja na imagem abaixo, como os jogadores da DL com a seta vermelha conseguem se livrar da OL numa abertura que impede que Mahomes abra para fora… O QB precisa fazer o passe naquele momento, ou será sacado. O problema é que é Patrick Mahomes, e ele consegue.

O crime está na secundária. Andy Reid (porque eu vou dar os méritos pro Leôncio, também), Patrick Mahomes e Tyreek Hill souberam aproveitar a maior desvantagem da cobertura em zona, que são os buracos entre as zonas. Veja o espaço que Hill tem (seta azul) dos marcadores (setas amarelas). O safety (seta vermelha), inclusive, estava mais preocupado com Travis Kelce, que já estava sendo marcado (círculo preto).

Vou até mostrar a situação do Hill antes de receber a bola em um gif:

Brincadeiras à parte, a questão é que a defesa ficou tão preocupada com Kelce, que quando o safety percebeu que a bola ia para o WR, já era tarde demais. Para piorar ainda mais a situação, Tyreek Hill simula uma mudança de direção para a direita, o safety compra e gira o corpo para aquele lado. Na verdade, Hill corta para a esquerda e consegue mais distanciamento. Fiz um gif, agora sério, para mostrar como um giro para o lado errado pode atrapalhar uma cobertura.

E é isso, meus consagrados. Depois dessa jogada, o Chiefs voltou a pontuar e o restos vocês já sabem!

Bora tirar os olhos da bola e enxergar tudo isso que aconteceu pela câmera técnica.

Essa coluna conta com a colaboração do Deivis Chiodini, analista no @OntheClockbr, podcaster do @MileHighBrasil e redator no @profootballbr.

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*Tire os Olhos da Bola* é o título de um livro escrito pelo ex-técnico de futebol americano Pat Kirwan. O autor explica, de maneira bem completa, que para entender o esporte é preciso tirar os olhos da bola. O nome dessa coluna se inspira no livro.

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