Tire os Olhos da Bola #17 — Make fullbacks great again (SB parte 2)

Cassia Pires
Esportismo
Published in
5 min readFeb 12, 2020

Nessa minha curta trajetória acompanhando NFL, eu já ouvi que os times não usam mais fullbacks. Sem entender muito o porquê, só saí repetindo isso por aí. Até que chega o San Francisco 49ers e nos enfia um Kyle Juszczyk goela abaixo. Bem, parece que fullbacks têm lá o seu valor.

Danny Vitale, FB do Green Bay Packers, concorda com isso.

Make Fullbacks Great Again

Rapidamente, vamos entender melhor dessa posição, que a gente mal conhece e já considera pakas. Ou, em outras palavras, qual a sua função e porque ela caiu em desuso na NFL.

Um fullback é geralmente mais pesado do que um running back de posição. E suas funções são correr com a bola, especialmente para conquista de poucas jardas, bloquear para o RB e para o quarterback, e receber passes. Com licença poética, eu diria que é um misto de TE com RB.

Por se tratar de um jogador maior, sua velocidade e agilidade costumavam ser menores e com a spread offense sendo muito utilizada no college e depois vindo para a NFL, a posição caiu em desuso.

Por outro lado, é uma posição extremamente versátil. Isso porque embora não esteja presente em todo esquema ofensivo, quando está, o técnico consegue variar a posição do jogador em campo e, dessa forma, é difícil para a defesa antecipar um match up favorável.

Um exemplo disso foi o fullback dos 49ers durante a temporada regular. Kyle Shanahan utilizou da posição em 8 spots diferentes! Talvez você não tenha prestado muita atenção nele ao longo do ano passado, porque ele marcou apenas 1 touchdown. Mas acredite em mim quando eu falo que ele foi essencial para o avanço ofensivo da franquia.

A jogada

Mas bora lá, que isso aqui é um Tire os Olhos da Bola, e essa introdução toda serviu para anunciar que a análise da semana é em cima do TD marcado pelo Kyle Juszczyk, no Super Bowl LIV.

Meio do segundo quarto e as defesas ainda frustravam as mente ofensivas. A bola estava na linha de 15, no campo do ataque. Uma primeira descida para 10 jardas. Os 49ers precisavam marcar para empatar o jogo, que estava 10 a 3 para os Chiefs.

Você não consegue ver no vídeo acima, mas há um motion do FB. Ele estava posicionado no gap entre left guard e left tackle e abre como recebedor do lado direito, bem próximo ao RT, o que também leva a entender que ele vai bloquear. O personnel é 11 e a formação ofensiva é uma singleback. Tudo isso indica uma corrida e faria sentido.

A defesa apresenta uma cover 1, mas na verdade é uma marcação individual, com muita pressão pra cima de Jimmy Garoppolo. Afinal, o QB tem a fama de espanar sob pressão. No final a gente descobriu que errado não estavam. Mas não foi o caso aqui. Veja na imagem abaixo, quem marca quem:

É claro que teve um play action! O HC do time de São Francisco faz frequente uso de motions e play actions e isso dá tempo e segurança para o quarterback, porque confunde muito a defesa. Então, com o snap, Garoppolo simula entregar a bola para o RB, enquanto a linha ofensiva faz todo o bloqueio para o lado esquerdo do ataque, mesmo lado para onde o corredor vai. O QB faz o rollout para o lado contrário, onde seus alvos encontram apenas suas marcações individuais. Vamos de gif!

O fullback era primeiro alvo da chave de leitura do QB. Eu acredito que o quarterback não esperava que ele recebesse marcação individual desde o início e pela distância isso não foi um problema. Mas outra coisa chama atenção aqui. A agilidade de Juszczyk. O jogador faz uma rota curta e o corte que ele dá é algo surreal. Eu fiz o gif em câmera lenta, mas depois, preste atenção nisso no vídeo abaixo. Com a velocidade do corte, ele consegue levantar vantagem sobre o safety e fazer a recepção.

Ou seja, esqueça isso de que fullbacks são jogadores lentos. Eram, e por isso a posição foi ficando de lado. Mas o esquema ofensivo hoje é outro, e a agilidade e/ou velocidade são essenciais para quase qualquer posição.

Mais pontos de destaque

Kyle Shanahan trabalhou com uma árvore de rotas que ajudou muito a leitura do QB. Garoppolo tinha três opções de passe (setas amarelas) para o lado direito, lado que ele fez o rollout e cada um em uma profundidade diferente.

Quando o FB recebe a bola, o marcador está bem próximo, mas ele consegue se desvencilhar do tackle. Próximos à end zone, o TE George Kittle e o WR Jalen Hurd cruzam suas rotas, e me chamou a atenção aqui do bom desempenho dos defensores, que não se perderam e mantiveram a marcação. Não acredito em passe completo se a bola fosse nessa direção. Perceba que no momento que o QB se prepara para lançar, Kittle e Hurd (circulo preto) estão bem marcados.

No entanto, Kittle ainda tem papel importante para que esse TD aconteça. Quando o FB faz a recepção e corre para a end zone, o TE bloqueia o seu marcador (círculo preto), abrindo espaço para Kyle Juszczyk (seta vermelha).

Para os torcedores dos 49ers, uma pena que o time não conseguiu manter essa dinâmica pelo resto da partida.

Agora é hora de tirar os olhos da bola e ver tudo isso em ação:

Essa coluna conta com a colaboração do Deivis Chiodini, analista no @OntheClockbr, podcaster do @MileHighBrasil e redator no @profootballbr.

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*Tire os Olhos da Bola* é o título de um livro escrito pelo ex-técnico de futebol americano Pat Kirwan. O autor explica, de maneira bem completa, que para entender o esporte é preciso tirar os olhos da bola. O nome dessa coluna se inspira no livro.

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