Tenda de circo montada em evento que reuniu, em Brasília, palhaços nacionais e internacionais

A atmosfera circense no Distrito Federal

Laura Oliveira
Esquina On-line
Published in
7 min readMay 9, 2018

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O ambiente circense é um misto de cores, formas e artes distintas

O circo surgiu durante a Era do Império Romano. Um ótimo programa, atrai muitas famílias para presenciarem espetáculos e apresentações. Entretém, distrai a mente e agrega diversas artes: malabarismo, acrobacias, pirofagias, trapézio, equilibrismo, ilusionismo, contorcionismo, palhaço, monociclo, entre outras.

A primeira aparição do circo em Brasília foi no ano de 1982, com a companhia brasiliense Circo Teatro Udigrude , composta por Luciano Calmon Porto, Marcelo Bereh e Leo Skyes, que não tiveram aulas de técnicas circenses, foram autodidatas. Com o passar do tempo, a cidade ainda não tinha uma escola apropriada.

Os irmãos Ankomárcio e Ruiberdan Saúde em apresentações

Os irmãos da trupe Circo Teatro Artetude, Ankomarcio e Ruiberdan Saúde, começaram na escola de "Meninos e Meninas" no Parque da Cidade. "Então, a gente não é um circo tradicional, que contrata artistas para a apresentação. Nossos projetos são realizados via patrocínio, iniciativa privada, ou edital público, sendo eles de natureza distrital ou federal", afirma o fundador. A trupe chega com o ônibus, que é um picadeiro móvel e se aproxima do público com vivências, oficinas de perna de pau e malabares. Os temas mais tratados são: sexo, fé, autoridade, consumo, preconceito e educação.

O ginásio do Setor Leste, no ano de 1997, foi o cenário das primeiras apresentações circenses, onde atualmente, são oferecidas aulas de técnicas circenses. Após esse período, nasceu em Brasília, um espaço muito importante, o Grand Circular. Com o fechamento do Grand Circular, a estrutura passou para o Galpão da 508 sul.

No ano de 2005, nasceu a trupe de Argonautas, composta por Pedro Martins, Cyntia Carla, Dara Aldazi, Marley e Ana Sofia Lamas. A preparação e os ensaios aconteciam em condições adversas, chegaram até a ensaiar em um jardim e deixar cenários e figurinos em uma associação (na octogonal), que por algum tempo abrigou a sede da trupe, um espaço Pé Direito Alto.

Pedro Martins, fundador da trupe Argonautas, construiu um espaço para abrigar o circo de Brasília e as artes cênicas em geral, que foi inaugurado no ano de 2012. "Eu acredito que o espaço desde a sua origem no circo, delimita muito da sua estética no circo. Quando você tem uma perspectiva de poder ensaiar algo, no lugar que vai apresentar, começa a tomar conta do lugar de uma forma diferenciada", declara.

A professora de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB), Cyntia Carla, que também é artista na trupe Argonautas. Ela se interessou há muitos anos pelo ramo. Começou um trabalho de unir as diversas linguagens com a questão teatral ou dramaturgia.

A trupe nāo tem tradiçāo no trabalho com a lona de circo, devido ao uso constante de muitos aparelhos em cena. A diversidade de linguagens, trajetórias, espaços de criação e apresentação entre os grupos da cidade mostra o quanto o circo tem força para se renovar e como se adapta de forma eficaz às novas relações com a cidade.

Para uma abordagem nacional sobre a profissão circense, confira aqui outra matéria.

Festivais em Brasília

O Festclown já é tradição em Brasília com o objetivo de expandir as artes cênicas na cidade. Teve início no ano de 2002 e em 2018 aconteceu a 16ª edição. O festival reúne shows, apresentações e diversos tipos de arte.

Na última edição, artistas mexicanos, peruanos, argentinos, franceses, suíços, ingleses, israelenses e de várias regiões brasileiras participaram do evento. Vinte e duas companhias nacionais e internacionais realizaram mais de trinta apresentações gratuitas e também foram oferecidas cinco ações formativas, que consistiram em cursos, palestras e oficinas. Nesta edição, o Festclown recebeu a equipe do Circus Incubator (incubadora de circo), de origem francesa, e contou com o apoio da Embaixada da Suécia e do Institut Français.

De acordo com o Oficial de Comunicação e Cultura, Gioreley Rios, a Embaixada Sueca apoiou o Festclown, convidando o professor John Paul Zaccarini, especialista em análise de circo da Universidade de Artes em Estocolmo. O investimento por parte da embaixada foi com aquisição das passagens aéreas para o professor. O principal objetivo foi a promoção da Suécia e das artes criativas.

No Distrito Federal, escolas e grupos especializados mantêm a produçāo circense em constante circulaçāo. As fitas, acrobacias, tecidos e malabares se expandem para novos espaços e passam a fazer parte do desenvolvimento físico, intelectual e social de crianças e adolescentes. A linguagem se atualiza e ganha novos formatos.

Ankomárcio e Ruiberdan Saúde, os irmāos que fazem parte da trupe circo — teatro Artetude, atuam em festivais, entre eles, o Festclown. Seus projetos são patrocinados e financiados por edital público, sejam eles distritais ou federais.

Divulgação do evento que ocorreu em Brasília, nos dias 23 a 27 de maio

" A gente já se apresentou em alguns países. Já nos apresentamos na Argentina, em Portugal, na Espanha e no Brasil, nos apresentamos em todos os estados brasileiros", afirma Ankomárcio.

O palhaço Júlio Cesar Macedo, conhecido como Mandioca Frita, de 53 anos de idade, também participou do Festclown. Diz que buscou a própria linguagem em suas artes e apresentações. É o pioneiro na cidade de Brasília, se apresenta há 22 anos no parque. Pai de seis filhos, deixou a família para ganhar a vida no circo.

Atualmente, a atividade circense ocupa espaços antes não imaginados, como escolas, academias, cinema e televisão. As aulas de circo se firmam como um exercício lúdico e promovem outras formas de aprendizado, no aspecto social, na capacidade de superação e na persistência.

Projetos Sociais

A Lei e as atividades circenses

O deputado Tiririca aprovou o projeto de Lei 5095/13, que inclui as artes e as atividades circenses, como modalidades artísticas, que podem ser beneficiadas pelos mecanismos de incentivo fiscal da Lei Rouanet (8. 313/91).

O Governo do Distrito Federal (GDF) aprovou a Lei 6113/2018, que proibe a utilização de animais em circos e espetáculos no DF. Eles são seres sencientes, que possuem sentimentos, tal qual os seres humanos.

A seguir, um podcast que explica e aborda os diferentes pontos de vista sobre os direitos e deveres de artistas que trabalham em circo, sob a ótica do presidente da Abracirco, a artista circense Ericka Mesquita, os irmāos do circo teatro Artetude, o jurista e professor de Direito Wagner Pereira Dias e o artista Eduardo Pinheiro.

Dados da Secretaria de Cultura do Distrito Federal

Infográfico ilustrando os dados da Secretaria da Cultura

Segundo a Secretaria de Cultura, dos projetos contratados e pagos em 2017, 29 foram contemplados no edital do FAC n. 01/2015, que teve seu resultado final publicado em fevereiro de 2016. Deste edital foram destinados R$99. 998 reais para manifestações circenses.

Em 2017 foram pagos R$ 499. 923 reais para manifestações circenses, referentes a editais lançados em 2016 e com resultados finais em julho de 2017.

Entre os meses de Janeiro e Março do ano de 2018 (até o dia 08/03), também foram pagos premiações e projetos contemplados no programa permanente “conexão FAC”. Destes recursos foram destinados R$ 109. 790 reais para atividades circenses, totalizando R$709.711,20 reais.

A Secretaria de Cultura selecionou quinze grupos para dar continuidade ao projeto que levou atividades, oficinas e espetáculos durante um fim de semana a dez regiões administrativas do DF em 2016,. Em 2017, a segunda edição do circuito de atividades circenses aconteceu de outubro a dezembro, com 45 apresentações e mais de 70 horas de oficinas circenses, no Plano Piloto e em algumas regiões administrativas do Distrito Federal. Em 2018, a secretaria fomentou atividades circenses, dentro da Programação do VIII Fórum Mundial das Águas e do aniversário de Brasília.

Projetos circenses no DF

A mostra O Clown toma o picadeiro na cidade de Samambaia. Em Brazlândia, o grupo Las Fenómenas é coordenado por Julieta Zarza. Já em Taguatinga, o circo Real Português, coordenado por Joice Portugal, comporta até quinhentas pessoas, tanto nos espetáculos quanto nas oficinas.

Nos semáforos de Brasília

Na foto, o artista mostra seus instrumentos de trabalho: bola e facões

Em Brasília, é possível presenciar um pouco da arte circense, sem precisar ir muito longe. Em alguns semáforos da capital ou em pontos turísticos, artistas como Cezar Augusto Nascimento Anunciação, fazem apresentações com malabares, bolas, facas e até tochas de fogo. São shows realizados em dois a três minutos, enquanto o semáforo está fechado. Para os motoristas e transeuntes, entretenimento.

Para o paraense Cezar, que desde criança se interessou pela arte, oportunidade de mostrar seu talento e prover o seu sustento. Há dias que chega a ganhar de R$20 a R$50 reais.

“É através da arte, que eu mantenho eles, a minha família. E gosto muito, não tenho interesse de parar”.

Conheça a história de Cezar Augusto Nascimento, em detalhes. Veja a reportagem da Revista Esquina:

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Laura Oliveira
Esquina On-line

Jornalista, 21 anos. Disposta a aprender e me comunicar com pessoas de diferentes partes do mundo.