A disputa entre o esporte e o câncer

Kelly Wollmann
Esquina On-line
Published in
5 min readMay 30, 2018

Levar uma vida saudável combate e previne

Praticar esportes ou outras atividades físicas gera muitos benefícios ao corpo e à mente. A força e a flexibilidade muscular são alguns exemplos, além do fortalecimento dos ossos e das articulações. A escolha do exercício varia de acordo com cada pessoa, que pode ser desde os mais convencionais, como vôlei e futebol, até os mais inusitados, como o futebol americano e o triathlon. Enfim, quanto mais o sedentarismo é evitado, maior a chance de prevenir diversas doenças, inclusive o câncer.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) realizou um estudo com o Fundo Mundial de Pesquisa contra o Câncer (WCRF), que mostrou que exercícios físicos e uma alimentação saudável podem prevenir 19% dos casos de câncer. De acordo com o doutor em Odontologia José Vartanian, em um estilo de vida pouco saudável, células gordurosas em excesso aumentam a produção de fatores que causam a inflamação, contribuindo para o desenvolvimento de células cancerígenas.

Confira outros estudos da relação esporte-câncer no infográfico interativo abaixo:

Apesar dos exercícios físicos ajudarem na prevenção, isso não impede totalmente o surgimento de um câncer. E é o caso do militar reformado Ênio César Mattos Moreira, de 62 anos, que foi diagnosticado com câncer de pulmão em 2017 e está, atualmente, em processo de recuperação. Além dos exercícios no ambiente militar, durante toda a carreira, ele sempre se exercitava fora do trabalho. “Sempre fiz exercício. No dia anterior ao diagnóstico eu estava na academia. Fazia academia e caminhada sempre”, Ênio conta.

Porém, ao começar o tratamento, ele passou a fazer somente caminhadas. “Sempre que eu posso eu vou caminhar. Fazer exercício é tudo de bom”. Ênio fez quimioterapia e radioterapia, o que ocasionou a perda de força para outras atividades. Mas ele afirma que a vida saudável antes do diagnóstico ajudou a ter forças.

“Resisti a tudo isso por conta de muito exercício”

Como orientação, o oncologista do Ênio o incentiva a continuar se exercitando, sempre dentro dos limites. Caminhada, hidroginástica e pilates são os exercícios mais recomendados para ele. “Estou esperando passar essa fase [de recuperação para começar a hidroginástica ou o pilates]”.

Ênio Mattos conta a experiência com o tratamento de quimioterapia e radioterapia:

O fisioterapeuta especializado na área de saúde integrativa, Leonardo Machado, afirma que as atividades físicas são recomendadas em qualquer estágio do câncer. “Em todos os momentos é adequado. O que acaba acontecendo é que quando se descobre o câncer, as pessoas tendem a ter uma visão muito receosa sobre o que devem ou não fazer, e até mesmo interromper determinada ação na vida sob risco de que aquilo possa causar uma metástase ou um ‘espalhar do câncer’ para todo o corpo, o que acaba não sendo verdade”.

A recomendação é que a fisioterapia comece desde o diagnóstico, durante o período de cirurgias e tratamentos, como a quimioterapia, e depois de qualquer procedimento, evitando riscos de sequelas. Porém é necessário fazer uma avaliação prévia com o oncologista para verificar a necessidade da fisioterapia, pois em alguns tipos ou estágios do câncer podem não ser aconselháveis.

Além de tudo, a fisioterapia pode muito bem ser integrada com outras atividades, como a nutrição e o terapia psicológica, trazendo, dessa forma, mais qualidade de vida para quem está com a doença.

Sara Alves em um de seus treinos

A confeiteira Sara Alves Martins, 34, teve câncer de mama e fez da fisioterapia algo de muita importância para a recuperação. Antes do diagnóstico, ela variava bastante os tipos e o tempo de exercício, como andar de bicicleta, fazer natação, box, etc. Ao descobrir a doença e depois de fazer mastectomia radical de uma mama (cirurgia de retirada de mama), o foco mudou para a reabilitação, e ela buscou fisioterapia e ginástica funcional. “Depois da mastectomia a gente tira alguns linfonodos em baixo do braço, a nossa movimentação fica um pouco prejudicada, a gente perde a força e fica com medo de mexer muito e tal”. Com as atividades físicas, ela conseguiu se preparar para se sentir mais disposta para a quimioterapia.

A fisioterapia para Sara, além de ajudar a voltar a flexibilidade e movimentação, também serviu como passatempo. “Eu parei de trabalhar na época, então era o momento que eu saía de casa para cuidar de mim. Então foi muito importante em aspectos sociais, sabe? E de eu me cuidar também, era um momento de esquecer a dor”.

Projeto Canomama

Depois de ter terminado a quimioterapia, Sara descobriu e entrou para a primeira turma do Canomama, um projeto de canoagem para mulheres mastectomizadas. Ela foi a primeira presidente da Associação Canomama.

Imagem/Facebook

O time oficial, do qual ela faz parte, participa de eventos, como a competição Rei e Rainha do Mar. Além disso, o Canomama é convidado até mesmo para competições internacionais, “a gente vai participar de uma competição de um evento lá em Florença, na Itália, em julho [de 2018]. Só com mulheres que tiveram câncer de mama”. O time oficial treina três vezes por semana e o time de iniciação treina duas vezes.

Participar do Canomama mudou a vida da confeiteira para melhor, trazendo conforto para ela e proporcionando o contato com mulheres que passaram pelas mesmas experiências e dificuldades, além de tirá-la da rotina de apenas estar em casa ou no hospital.

“Ajudou na compreensão de que esse é um problema comum, que muitas pessoas passam e que somos capazes de superar, e que a vida continua”

Praticar atividades físicas durante e após o tratamento do câncer gera benefícios e riscos. Veja na entrevista com o fisioterapeuta Leonardo Machado:

Eunice Leite Silva, 43, levava uma vida altamente saudável e aventureira quando descobriu que estava com câncer de mama por predisposição genética. Além dos exercícios físicos, a alimentação era exemplar. Mas isso não foi o suficiente para evitar a jornada conturbada com a descoberta e o tratamento do câncer.

Confira abaixo a história da professora Eunice, produzida para a Revista Esquina:

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