Transfobia, desemprego e exclusão

O preconceito é o principal motivo da exclusão de transexuais e travestis do mercado de trabalho

Cláudio Py
Esquina On-line
3 min readJun 19, 2019

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Por Cláudio Py

Rafael Duarte em aula no anfiteatro 08 da Universidade de Brasília — Reprodução / Arquivo pessoal

“A transfobia dificulta a nossa entrada no mercado de trabalho. O fato de sermos transexuais incomoda as pessoas”, afirma Lucas Oliveira, 23 anos, que atualmente se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

A aparência é uma das principais preocupações do estudante em entrevistas de emprego. Além disso, ele acredita que já deixou de ser contratado por não ter a passabilidade, ou seja, por não parecer fisicamente um homem cisgênero após ter feito a redesignação (mudança de gênero).

Assim como Lucas, o estudante de relações internacionais Rafael Duarte, de 20 anos, também sente medo de ser prejudicado profissionalmente por ser quem ele é. “Um dos meus maiores sonhos é seguir carreira acadêmica. No entanto, não existem muitos professores universitários transexuais. Para ser bem sincero, eu não conheço nenhum. A maioria das pessoas trans e travestis estão na prostituição”, relata o jovem.

Estima-se que 9 em cada 10 transexuais e travestis já se prostituíram em algum momento da vida, segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

Para a Coordenadora do Núcleo de Estudos da Diversidade Sexual e de Gênero do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da UnB (NEDIG/CEAM/UnB) e doutora em Psicologia, Tatiana Lionço, a precariedade econômica e a falta de recursos estão entre os principais motivos para a prostituição dentre as pessoas desse perfil. “Nós devemos garantir acesso à educação de qualidade para esses cidadãos. A partir disso, eles vão ter a possibilidade de atuar nas áreas que eles almejarem, ou seja, vão ter mais autonomia e liberdade de escolher a profissão desejada”, complementa.

Alta evasão escolar, preconceito e medo

Letícia Macedo, de 25 anos, abandonou a escola no nono ano do ensino médio, em 2011, por causa da transfobia. “Não aguentava os ataques constantes que eu sofria por ser quem eu sou. Desenvolvi muitos problemas psicológicos por toda violência física e emocional que sofri naquele período. Isso me marcou profundamente”. Ela afirma que o preconceito afetou o desempenho escolar e isso prejudica a qualidade de seu currículo profissional até os dias de hoje.

O caso de Letícia não é uma exceção. De acordo com a Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil, 4 entre 5 mulheres transexuais ou travestis abandonam a escola durante o ensino médio. Para a psicóloga Carolina Knihs de Camargo, esses dados estão diretamente ligados à transfobia. “Além disso, isso afeta a esfera psíquica dessas pessoas, o que pode desencadear casos de depressão e ansiedade”, complementa.

Transfobia no Brasil

Segundo pesquisa realizada pelo Ministério dos Direitos Humanos (MDH), a violência psicológica, a discriminação e a violência física são as formas mais recorrentes de transfobia no Brasil.

Reprodução / Ministério dos Direitos Humanos (MDH)

Desenvolvi um questionário sobre tipos de violência sofridos por transexuais e travestis e recebi a resposta de 30 pessoas, que me levaram a gravar algumas reflexões sobre o assunto:

Leia também o perfil do estudante Rafael Duarte, o jovem transexual que desafia as estatísticas diariamente por estudar em uma das maiores universidades do país:

Algumas instituições importantes para transexuais e travestis

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