Letícia Cunha
Esquina On-line
Published in
4 min readMay 30, 2018

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Aproveitar a terceira ou "melhor" idade

Acabou a imagem de avós em casa, com tricô e netos

A população idosa brasileira superou os 30 milhões em 2017, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). Entre 2012 e 2017, o número de cidadãos com mais de 60 anos cresceu 18%, o que equivale a 4,8 milhões de pessoas.

A razão desse aumento é a queda da fecundidade associada à melhoria da qualidade de vida — o que aumentou três meses na expectativa de vida do brasileiro de 2016 para 2015, e mais de três anos desde 2006.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Programas e políticas públicas

A necessidade de cuidados especiais para os mais velhos é imprescindível. Além de leis e direitos dedicados ao idoso, foram desenvolvidas séries de programas e políticas de atenção ao idoso no contexto sociopolítico e histórico.

O Programa Universidade do Envelhecer: UniSer da Universidade de Brasília foi fundada com o objetivo de estimular o desenvolvimento para aumentar a capacidade e as habilidades do idoso na comunidade. Rafaela Alves, coordenadora da unidade de Candangolândia, conta que as pessoas ali recebidas são diferentes, mas a maioria vai com o mesmo propósito: “O idoso que vem ao programa, por mais que seja ele aposentado ou que nunca tenha frequentado uma escola antes, ele vem com a intenção de se sentir útil”.

As aulas variam de educação física e inglês a cidadania e qualidade de vida, e na unidade da Estrutural foi inaugurado o curso de alfabetização. “Mas o mais importante”, afirma Rafaela, “são os projetos integradores que nós oferecemos, para realmente colocar o cidadão mais velho na sociedade. Educação e cidadania são direitos do ser humano, não importa a idade”.

Para participar, é necessário ter 45 anos ou mais, e disponibilidade diária durante o período vespertino. São quatro unidades no Distrito Federal: Candangolândia, Ceilândia, Taguatinga e Estrutural. Em cada centro há de 50 a 100 alunos. A cada semestre, são abertas novas vagas em cada unidade.

Universidade do Envelhecer. Arquivo Pessoal.

Nunca é tarde

Edgar Carvalho, 65, começou a trabalhar quando criança e, desde então, já foram diversos empregos. Cuidava da fazenda dos pais, no interior da Paraíba. Mas após a morte deles, veio para Brasília, ainda adolescente, com os quatro irmãos mais novos. Para ter diariamente o que comer e beber, passou a conciliar vários empregos simultâneos, como jardineiro e operário, e nunca conseguiu encaixar estudos no dia a dia.

Criou dois filhos, que o ensinaram a ler, mas não aprendeu a fazer contas complicadas ou expressar vocábulos notáveis. Sentia constrangimento e pouca utilidade. Após a formatura do caçula no ensino médio, teve o apoio da família para terminar os estudos. “No começo, tive dificuldade até de pegar no lápis, tinha vergonha de ficar ao lado de pessoas mais novas, mas estou pegando o jeito”, ri. “Hoje me sinto capaz”, conta.

Edgar ganhou autoestima. “Estudar sempre foi um sonho e é uma pena que muita gente no nosso país não leva a sério”. Gosta de matérias mais voltadas para história e sonha em se tornar professor. Desde que retornou às aulas, há cinco meses, já pensou em desistir algumas vezes, mas é grato à família por ter insistido. “Nunca é tarde”, relata.

Assim como Edgar, quem não concluiu o Ensino Fundamental ou Médio pode optar pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), um programa de ensino da rede pública com o objetivo de fortalecer a educação de quem não teve acesso. Em 2016, segundo o Censo Escolar, o número de matriculados no EJA chegou a 2.858.145, sendo destes apenas cem mil idosos.

Em 2017, mais de 11,8 mil idosos se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep).

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

A Revista Esquina On-line também produziu uma reportagem sobre como lidar com a solidão e o avanço da idade.

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