Das rochas aos dispositivos

A tentativa em vão de salvar o presente na memória

Ana Paula Teixeira e Nathalia Carvalho
Esquina On-line
4 min readAug 27, 2019

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Por Ana Paula Teixeira e Nathalia Carvalho

Desde a antiguidade o ser humano desenvolve uma necessidade crescente de deixar a sua marca cravada em um tempo e espaço na história.

A partir de então começou a fazer registros por onde passava, dando mais possibilidades para realização de estudos variados sobre a história da humanidade.

Faz-se necessária a criação de espaços para guardar momentos, sentimentos e perpetuar memórias.

Bem diferente das pedras, que eram matéria-prima para as ferramentas mais avançadas do período pré-histórico, o que usamos atualmente, graças à evolução das tecnologias, é mais prático, leve e possui centenas de possibilidades para uso.

“Assim fazendo, agimos um pouco como os turistas que desesperadamente clicam suas câmeras durante suas viagens, produzindo milhares de imagens que, muito provavelmente, ficarão armazenadas e esquecidas em algum disco rígido de computador, cartão de memória ou espaço in the clouds”. (Palacios, 2014)

Apresentar a referência

EVOLUÇÃO NO JORNALISMO

Nutrir-se de notícias, manter-se atualizado sobre acontecimentos ou até mesmo interagir com outros em plataformas digitais é um hábito muito presente e que se tornou natural.

No jornalismo, o que sai nos veículos on-line, impresso, TV’s e rádio também faz parte da grande construção da história. Datas comemorativas, feriados e narrativas de pessoas são acompanhadas por cobertura jornalística e tornam-se obras históricas de acontecimentos importantes.

Tudo que é publicado fica registrado em algum lugar e depois de dias, meses e anos esse mesmo conteúdo fica disponível. Há muito tempo os veículos jornalísticos impressos possuem arquivos que permitem o livre acesso às edições passadas, perpetuando importantes documentos que influenciaram o percurso da história. Essa forma de liberdade para o usuário, mais conhecida como “on demand”, é utilizada, não apenas para conteúdo textual como para visual.

INSTANTANEIDADE

A informática e a digitalização proporcionaram a alteração de informações e conteúdos, dando possibilidade aos jornalistas de sempre atualizar e corrigir as notícias que já foram publicadas, além da capacidade de acrescentar conteúdos multimidiáticos.

Isso tudo se torna uma memória.

A tecnologia também proporciona o uso de hipertextualidade, permitindo que o jornalista adicione à matéria links de redirecionamento para outra página com conteúdo relacionado ao atual, independentemente da data de publicação.

Todas as fotos, vídeos, comentários e demais mídias publicadas em diferentes plataformas ficam registrados na memória digital.

“A velocidade de nosso tempo é tal que nos sentimos obsessivamente compelidos a salvar imagens do presente, com o propósito de a ele voltarmos mais tarde, em um tempo futuro idealizado e mais calmo que — obstinadamente — insistimos em sonhar que um dia possa vir a existir” (Palacios, 2014).

MEMÓRIA X HISTÓRIA

Pode ser difícil definir memória e história de forma desconexa, mas vamos entender a real diferença entre esses dois termos que podem ser encontrados em tudo que o ser humano faz.

A história tem relação com registros oficiais que englobam acontecimentos importantes para o desenvolvimento humano. Está ligada ao modo como vivemos hoje.

A memória é baseada na experiência que cada personagem vivenciou, em sua individualidade. Essas vidas se unem historicamente, mas são desiguais em relação às percepções que os fatos acarretaram em suas memórias.

O episódio acima, do podcast Naruhodo, explica sobre o funcionamento da memória humana e tira algumas dúvidas sobre curiosidades acerca do tema.

INTERAÇÃO E MEMÓRIA

Ao compararmos o desenvolvimento da história da humanidade com as novas tecnologias que envolvem o jornalismo e o mundo, pode-se perceber a existência de uma linha tênue entre os elementos.

Os “comentários ocultos”, por exemplo, ausentes em grandes páginas de redes sociais ou sites de empresas, podem influenciar na maneira como a história é contada.

Confuso?

Toda a interferência dos usuários, isto é, toda a interação, pode ser controlada pelo dono das páginas das redes sociais on-line, dos sites e plataformas das grandes empresas.

A interação do público com o material é uma forma de memória, e controlá-la pode resultar num modo de administrar o curso da história dentro daquele ambiente. A evolução dessa influência contou com a difusão das novas tecnologias.

JORNALISMO E MEMÓRIA

Percebe-se que o jornalismo tem várias vertentes relacionadas à memória. As reportagens de cunho memorialístico são bem características desse tema, pois relembram acontecimentos historicamente importantes. Temos como exemplo o decorrente renascimento do atentado ao World Trade Center todo 11 de setembro. LINK

O jornalismo está presente para prestar serviço à sociedade, retratar memórias individuais que consigam abranger todo um contexto social, político e econômico. Cada indivíduo possui uma história para contar, uma lembrança, uma bagagem, um sentido.

Não entendamos memória apenas como algo distante, transcendental. Em uma matéria jornalística, a memória está presente nos mais discretos detalhes: os dados, infográficos, fotografias, vídeos, áudios e hiperlinks. Cada elemento é responsável pela construção do desenvolvimento da história do mundo.

“E devemos estar plenamente conscientes e avisados que, diferentemente da natureza sólida e perene das marcas nas rochas deixadas por nossos antepassados neolíticos, ou até mesmo diferentemente da palpável realidade dos álbuns de viagens de nossos pais e avós, nossas marcas digitais são extremamente vulneráveis a todo tipo de apagamento” (Palacios, 2014).

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