Descaso e abandono: a realidade dos parques do DF

Giulia Roriz
Esquina On-line
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7 min readJun 1, 2018

Por Brunna Pires e Giulia Roriz

Foto: Brunna Pires

O Distrito Federal é repleto de áreas de lazer para atender a população. Porém, a maioria está abandonada devido à falta de manutenção e infraestrutura, inclusive casos graves de violência contra os cidadãos que frequentam esses locais. De acordo com o Instituto Brasileiro Ambiental (IBRAM), responsável pela manutenção das áreas, cinco parques possuem boa estrutura para servir os brasilienses, dos 72 existentes na capital e no entorno.

A piscina de ondas do Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, o Parque Ecológico do Guará Ezechias Heringer, o Parque Ecológico Três Meninas, o Parque Ecológico do Cortado e o Parque Ecológico Saburo Onoyama são exemplos do descaso do governo quando o assunto é qualidade de vida da população. Marcados pela violência e pela presença de usuários de drogas, os locais, além de não proporcionarem diversão e saúde, ainda são alvos de insegurança de quem mora nas proximidades.

Segundo Souza Júnior, Major do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), rondas são feitas diariamente nesses parques, porém, é preciso estar atento a locais mais escondidos. “Infelizmente nem todos os parques possuem a segurança devida, e isso ocorre por conta de uma série de fatores, como a localização, a estrutura e a marginalização”, explica.

A unidade possui 12 viaturas para o monitoramento das áreas de lazer. De acordo com o BPMA, todas operam nos períodos matutino e vespertino. Contudo, três fazem rondas noturnas em alguns parques. “À noite qualquer lugar se torna mais perigoso, e os parques não são diferentes. Acaba que infelizmente acontecem os assaltos e toda sorte de crimes”, alerta, e reforça o perigo dos locais sem policiamento.

Além disso, em alguns é comum encontrar moradores de rua abrigados em áreas de lazer. “Esse tipo de visitante faz com que a população se sinta insegura e não frequente os locais”, comenta. Segundo dados da Secretaria de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (SedestMIDH), cerca de 4% de três mil pessoas em situação de rua no DF fazem dos parques moradia “fixa”.

Ainda de acordo com o IBRAM, o Parque Ecológico Ezechias Heringer, o Parque Três Meninas, o Parque Lago do Cortado e o Parque Ecológico Saburo Onoyama possuem segurança patrimonial 24 horas. Há um cronograma de manutenção dos parques e a roçagem é feita em parceria com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap).

Parque Ezechias Heringer

Também conhecido como Parque do Guará, esta unidade é banhada pelo Córrego Guará. Por possuir cerrado típico, campos de murundus e densa mata de galeria, é dotado de grande biodiversidade. O nome foi uma homenagem ao agrônomo pioneiro no estudo do cerrado, Ezechias Heringer, que identificou diversas espécies de orquídeas em todo o território do Distrito Federal.

Apesar da área e riqueza da flora, o local é repleto de problemas estruturais e alto índice de violência. A fotógrafa Luana Bagui, 24 anos, moradora da cidade há dez anos, lembra que precisou se esquivar do perigo em várias situações: “Eu corro no parque pelo menos umas três vezes por semana há uns quatro anos e já vi de tudo, desde pessoas usando drogas, moradores de rua fazendo sexo, a brigas. É meio caótico”.

Segundo ela, o mato alto e as áreas de lazer abandonadas e quebradas são um agravante na falta de segurança. “Acho que o descaso do governo é grande. Afinal, no Parque da Cidade tem uma estrutura muito boa e, aqui, só porque não é Brasília, está tudo caindo aos pedaços”, ressalta.

Apesar do BMPA garantir que há monitoramento no Ezechias Heringer, a jovem relata nunca ter visto nenhum tipo de policiamento no parque. “Normalmente eu corro de manhã, pois não tenho coragem de ir lá à noite”, complementa. “É triste”, finaliza.

Alvo de construções irregulares, a área passou por uma operação da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) em 2017. A ação desobstruiu a área pública do parque no Guará. Iniciada em janeiro do ano passado, a desocupação visou à proteção da Reserva Biológica (Rebio).

Reportagem: Giulia Roriz

Parque Ecológico Saburo Onoyama

O Parque Saburo Onoyama foi inaugurado em 1988 . O nome é uma homenagem a um japonês que lutava pela preservação do Cerrado em Taguatinga. Também conhecido como “Vai quem quer”, por conta da entrada gratuita, o parque atende a população com um amplo espaço arborizado e opções de lazer variadas. O espaço é administrado pelo Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) desde 2007, quando passou por uma reforma.

A grande atração do parque é uma piscina onde crianças e adultos podem se divertir. Salva-vidas ficam no local para garantir a segurança dos banhistas. De acordo com o IBRAM, é necessário fazer exame médico para poder se banhar. Porém, a realidade é outra segundo a professora Célia Barroso, 41 anos, que diz que essa exigência não é cumprida. “ Aqui qualquer pessoa entra colocando ou não em risco a saúde dos outros. Mas ainda assim é uma opção de lazer próxima e um lugar que as crianças gostam de vir para jogar bola, brincar no parquinho e mergulhar nessa piscina”.

De acordo com o vigilante do Parque, Jeferson Santos, durante os finais de semana o local chega a receber mais de 7 mil visitantes, mas a segurança deixa a desejar. “A polícia ambiental vinha e ficava aqui até o fechamento da piscina, mas eles não estão vindo mais, às vezes passam mas ficam por pouco tempo”. Ele ressalta que os visitantes muitas vezes enfrentam situações desagradáveis nas dependências do parque.“Aqui infelizmente drogas tomam conta, e os roubos a celulares são frequentes. Os moradores de rua também acabam vindo para cá e isso torna o local ainda mais perigoso”.

Estrutura do Parque Ecológico Saburo Onoyama para atender aos visitantes. Fotos: Brunna Pires

Parque Três Meninas

A cultura e a história de Samambaia são retratadas no Parque Três Meninas. O local é uma antiga fazenda construída nos anos 1960, onde se destacam três pequenas casas feitas pelos antigos proprietários para as três respectivas filhas. Em meio a esse contexto histórico-cultural, o parque foi revitalizado para oferecer pista de skate, parques infantis, quadras poliesportivas e ciclovia para os moradores. Porém, a realidade da infraestrutura do parque é outra, por falta de manutenção.

A dentista Flávia Garcez, 27 anos, conta que o local atende bem a quem frequenta, porém, além de pequeno, sofre com a segurança precária e estrutura escassa. “Acho que até a população da cidade também abandonou o parque. Nos finais de semana, o que deveria ser uma opção de lazer, recebe pouco visitantes”, lamenta.

Parque Ecológico Três Meninas que atende os habitantes de Samambaia. Fotos: Brunna Pires

Parque Ecológico Lago do Cortado

No coração de Taguatinga fica situado o Parque do Cortado, que abriga o Ribeirão do Cortado. O espaço é uma opção de lazer para a população do DF. Além de uma estrutura para esportes e brincadeira, oferece a experiência de contemplar o meio ambiente por meio das nascentes e árvores.

Em 2014, foi revitalizado pelo IBRAM. Assim, passou a contar com uma rampa de madeira que leva os visitantes para as cachoeiras. Apesar de ter se tornado uma ótima opção de contato direto com a natureza, o parque continua a ser um espaço de refúgio para moradores de rua, usuários de drogas e até rota de fuga para traficantes.

Recentemente, foi inaugurado o primeiro Hospital Veterinário Público do Distrito Federal (HVEP). O local oferece serviços gratuitos de consultas, cirurgias, medicações, internação e outros tratamentos para animais de estimação. A iniciativa visa atender a população de baixa renda do DF que não tem condições de arcar com as despesas relacionadas a saúde dos pets.

O parque atualmente está interditado, e segundo os responsáveis o motivo é uma erosão na área das cachoeiras que pode colocar os visitantes em risco. Não há previsão de reabertura. O vendedor João Cruz, 53 anos, sente-se incomodado com a má administração do espaço de lazer. “ Esse lugar era para ser o ponto de encontro das pessoas que residem aqui em Taguatinga. Mas vive assim, de portas fechadas para os visitantes, e quando está funcionando é um esconderijo para bandidos”.

Parque Ecológico Lago do Cortado atualmente fechado para visitação. Fotos: Brunna Pires

Piscina com Ondas do Parque da Cidade

As crianças de hoje em dia nem imaginam que no estacionamento 7 do Parque da Cidades já existiu uma Piscina com ondas que marcou a infância de muitos brasilienses nos anos 1980 e 1990.

Água acumulada, mato alto, placas enferrujadas e os portões fechados compõem o cenário da piscina hoje, e quem passa por lá garante que o local não é bem visto pelo frequentadores. “ Esse lugar que já foi super lotado aos finais de semana, hoje é uma das partes menos visitadas aqui no Parque da Cidade. Nunca presenciei, mas muitos colegas falam sobre os usuários de drogas que ficam circulando as redondezas da piscina”, conta o empresário José Augusto, 42 anos.

A administração do Parque da Cidade é realizada pela Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer, que respondeu em nota que, apesar de desativada há 20 anos, a Piscina de Ondas tem sido utilizada na atual gestão para a realização de eventos que promovem a cultura, geram empregos e arrecadam impostos. Ainda de acordo com a assessoria, quando o assunto é a água acumulada, foi informado que a Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival) monitora a área da piscina de ondas permanentemente. Focos do Aedes são raros no local, mas quando encontrados, é feito tratamento químico.

Para o especialista em arquitetura e urbanismo, Rômulo Ribeiro, além da questão do abandono da Piscina com Ondas, o Parque da Cidade tem uma relação mais sensorial com as pessoas do que ambiental. “Há que se investir para que o parque seja mais acessível na questão ambiental e que se possa resolver os problemas sociais e de acúmulo de água, de forma que se amplie sua funcionalidade para a população”, ressalta.

Piscina com Ondas do Parque da Cidade abandonada há 20 anos. Fotos: Brunna Pires

Que tal conhecer mais sobre esses espaços de lazer? Saiba o que eles têm a oferecer para os visitantes!

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A Revista Esquina traz uma reportagem sobre a história da saudosa Piscina de Ondas no Parque da Cidade:

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Giulia Roriz
Esquina On-line

Estudante de jornalismo e repórter da revista GPS|Lifetime