Heróis Anônimos da Pátria
Histórias de quem trabalha na Praça dos Três Poderes, ao lado do monumento Panteão da Pátria
Os heróis da pátria foram imortalizados pelo Livro dos Heróis, que fica no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes. Mas a narrativa que nós queremos contar é a de viajantes que chegaram a Brasília para tentar crescer e, desde então, levam a vida no centro da capital como personagens anônimos.
Cada um pode ser o próprio herói e cada um pode ter o próprio herói. Ajudar as famílias, dar um bom exemplo aos filhos, levar alimento para casa, trabalhar de forma digna. Poucos que trabalham na Praça conhecem o que o Panteão representa, mas tentam viver uma verdadeira história de heroísmo, à própria maneira.
O mais velho
Zé do Côco, Zé do Óculos, Zé da Praça e Louco dos Pombos. José Virgulino da Silva Filho, 68 anos, atende por todos esses chamados. Também diz ser bisneto de Lampião. “Seu” Virgulino que é o ambulante mais velho da praça, não por idade, mas pelo tempo ali, 39 anos na Praça dos Três Poderes. Passou dificuldades no interior de Pernambuco quando criança, veio para Capital fugir da fome e procurar educação. Achou o caminho na venda de água, tanto de coco quanto a mineral.
Um carrinho de supermercado, um isopor, muito gelo. Virgulino vai de manhã cedo para a praça, na esperança de fazer bons negócios com os turistas. Fica ali por causa do “depósito” debaixo da rampa do Panteão. Todos os dias, quer voltar para casa com um dinheiro no bolso, foi como ele criou os filhos.
Os novatos
Lucas Moreira, 23 anos, e Luciana Moreira Torres, 25 anos, são os mais novos na praça, chegaram há menos de um mês. Todos os dias, eles vêm de Anápolis, GO, em busca de clientes. Com carrinho de mão, vendem na praça delicadas peças de resina de fibra e vidro feitas por Lucas, que espelham os monumentos de Brasília, “Aqui tem mais turistas, lá em Anápolis não tem muito isso”, confirmam os dois.
Decidiram começar a vender direto para o consumidor, porque estavam tendo problemas com os revendedores, “Eles não nos pagavam, usavam o dinheiro da venda das minhas peças pra pagar outras dívidas” reclamou Lucas. Luciana ajuda o marido sempre e dá muito apoio a ele, “Estou terminando a faculdade de Direito para ajudar meu marido a expandir os negócios”.
O lavador
Antônio Ribeiro, 50 anos, trabalha há 10 anos como vigia e lavador de carros a poucos metros do Panteão. Veio para Brasília seguindo os passos da irmã. Todos ali do estacionamento o conhecem, e ele sabe de quem são todos os carros. Chega cedo para pegar as chaves de quem vai querer uma lavagem, tenta usar o mínimo de água e produtos químicos.
Ali todos o conhecem e confiam a chave dos carros para Antônio, ele nunca teve problema nenhum naquele “emprego”. Realizou diversos trabalhos informais até se fixar no estacionamento, conseguiu criar os filhos com o dinheiro garantido dia após dia e, agora, sonha em ter netos em um futuro breve.
O Panteão
Virgulino, Lucas, Luciana e Antônio pertencem ao grupo dos heróis anônimos, da praça ou do mundo, sempre presentes em nossas vidas. São heróis para as próprias famílias, ajudam a criar os filhos, colocam comida em casa e dão um bom exemplo de humanidade e garra. Apesar de tudo, batalham e vencem, trazem para o mundo mais amor, esperança e símbolos a serem admirados e imitados.
Heróis controversos da pátria?
Por: Frederico Beck, com colaboração de Arthur Menescal.
Para o Jornal Esquina, 2° semestre de 2017.