Mariana Coutinho
Esquina On-line
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3 min readAug 23, 2019

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Num mundo onde ser o primeiro a noticiar pode não ser a fonte de vantagem competitiva para as editoras, os primeiros em fact checking (verificação dos fatos) e storytelling (narrativa) vem à tona.

Segundo Paul Bradshaw, no livro Webjornalismo — sete características que marcam a diferença, "a velocidade foi sempre algo intrínseco ao jornalismo e isto significa ser o primeiro a contar o fato ocorrido à audiência" (p. 112). Caso o veículo não conseguisse ser o primeiro a divulgar antes das outras pessoas, então ele teria que ser o que obteria a primeira fotografia, entrevista, reação, ou o primeiro a fornecer a análise do fato. Dado que estas mudanças ocorrem, a instantaneidade do chamado web publishing traz consigo novas oportunidades para os publishers em novos contextos complementares. Esse aspecto consiste em publicar, mas também em consumir, e sobretudo, em distribuir.

O ritmo do nosso consumo de notícias tem se tornado tão regular que mal temos consciência disto. De acordo com Bradshaw, em 2009, o Google e o Bing assinaram um acordo com o Twitter para incluir tweets ao vivo em seus respectivos mecanismos de busca. Em qualquer tipo de pesquisa nesses dois sites, além do tradicional resultado que essas ferramentas de busca oferecem, também aparecem publicações no Twitter sobre o assunto pesquisado, em tempo real.

"Este acordo foi abandonado mais tarde, embora o Google ainda traga embutidos resultados de notícias se o resultado for por tópico, bem como outros alimentadores de dados (data feeds) como os escores ao vivo." (p. 113)

Para o autor, o tempo real não é propriamente um novo desenvolvimento. Já era possível ver vídeo livestream a partir de um celular, anos antes de o Twitter ter sido inventado. O que o Twitter e o Facebook fizeram foi criar uma infraestrutura onde você encontra: livestreams, imagens, livros-áudio e texto, que são entregues para milhares de usuários. Agora as notícias estão sendo produzidas sem as limitações de espaço físico que sustentavam a organização das redações. A captação de notícias, a produção e a distribuição podem agora, ocorrer simultaneamente e ser potencializadas.

Jornalismo instantâneo

Esse jornalismo pode trazer tráfego, mas se os usuários não se mantêm conectados, não irão pagar pelo conteúdo. "Uma pesquisa inicial da Sonya Song sobre o compartilhamento de notícias em redes sociais sugere uma tensão fascinante entre jornalismo instantâneo, que se presta a ser compartilhado nas rede sociais, e o jornalismo mais profundo, que gera o engajamento desejado pelos anunciantes e consumidores. Em outras palavras: como criamos jornalismo que as pessoas queiram ler e compartilhar quando a evidência sugere que são duas coisas diferentes?” (p.132)

Song baseia-se no livro ‘Thinking, fast and slow’ de Daniel Kahnemanl, em que ele analisa dois modos de pensamento dos humanos: o primeiro sistema refere-se ao rápido, reações inconscientes em nosso comportamento. Já o segundo refere-se ao devagar, mas com reações elaboradas. Este pensar ‘rápido’ e ‘devagar’ por parte dos consumidores resulta em diferentes tipos de atenção, conclui Song.

O fogo na Amazônia em agosto de 2019, gerou uma mobilidade mundial na qual as pessoas têm compartilhado informações e imagens sem verificar os fatos, apenas para se sentirem pertencentes à comunidade da instantaneidade. Os trending topics #ActForAmazonia e #PrayForAmazonia do Twitter viralizaram a notícia em menos de 24 horas e atingiram níveis globais.

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