Trajetória do Webjornalismo

O fazer jornalístico no meio online adaptou-se e readaptou-se bastante desde o seu surgimento. Segundo pesquisadores, o webjornalismo passou por no mínimo três gerações

Vitor Rosas
8 min readApr 10, 2019

Por Thiago Cotrim, Luiz Certain e Vitor Rosas

A internet é, atualmente, a forma mais democrática de comunicação. Dentro dela, é possível utilizar as mais diferentes ferramentas para procurar todo e qualquer conteúdo já criado e publicado nessa rede de informações. Analisar a evolução da rede e seus impactos nas formas de exercício do webjornalismo se faz fundamental para compreendermos a produção jornalística e sua relação com o ambiente online. Para entender melhor essa evolução, a WEB pode ser dividida em três fases:

Web 1.0

A primeira versão da Internet (chamada de ARPANET) surgiu logo após a Guerra Fria, na década de 1960. O propósito inicial da Web servia a objetivos militares dos EUA, propiciando compartilhamento de informações. Nessa fase, a Internet se caracterizou especialmente pela entrega de conteúdo online, de forma estática, em sua maior parte corporativo. Um de seus marcos é o envio do primeiro e-mail, em 1969.

Web 2.0

Com o tempo, a Web ganhou novas ferramentas que a tornaram mais dinâmica, dando início à fase 2.0. Além disso, ela marcou os anos 2000 com o compartilhamento de informações. Nessa etapa, os usuários a invadiram com produção de conteúdo em vídeo, texto e fotografia. Essa foi a era dos blogs, canais do YouTube e redes de compartilhamento de fotos.

Web 3.0

Nessa fase (que estamos vivendo atualmente), a Web está alcançando altos patamares de velocidade de divulgação e compartilhamento, tornando-se cada dia mais organizada semanticamente. Com isso, está havendo um fortalecimento do marketing digital.

Jornalismo Web

Os textos que são publicados na internet podem ter uma menor retenção de público, levando em consideração que a leitura é muito mais dinâmica. O leitor tem uma infinidade de conteúdos para explorar. Em muitos casos, o internauta acaba interpretando a notícia pela manchete, sem se aprofundar no material publicado. Em 2018, pesquisa realizada pela revista americana Atlantic 57 apontou que 60% das pessoas compartilham manchetes sem sequer clicar no link para ler a história.

Manchete virtual (Correio Braziliense)

Levando em conta esse aspecto, os jornalistas utilizam métodos como a Multimedialidade para abordar as reportagens, complementando informações com vídeos, podcasts e até mesmo gifs animados. Não existe fórmula para a organização hierárquica do material no ambiente virtual, e, pode ser facilmente editado de acordo com o grau de importância.

É comum publicar a notícia e depois realizar as alterações de acordo com o andamento das informações. O clique é uma moeda de troca muito importante, é através dele que os jornais virtuais publicam peças publicitárias, e organizam a linha editorial, já que o leitor desse tipo de conteúdo tem a possibilidade de escolher o que vai ler em rede, logo os informes precisam cativar e prender a pessoa.

Atualização de conteúdo indicada pelo horário de publicação (Metrópoles)

Com o advento da nova era da informação, as informações são distribuídas a partir da Clipagem em sites da concorrência e em pastas governamentais, sinalizando uma urgência na postagem do material mdiático que atualmente não requer uma pré-apuração, as informações são atualizadas de acordo com a linha editorial de cada jornal, e atualizadas em questão de minutos/horas/dias/anos.

Assinatura virtual (O Globo)

Como uma maneira de angariar fundos, os jornais digitais também apresentam material Exclusivo via Assinatura (que geralmente varia de R$ 20 a R$50), apresentando colunas, vídeos (em caso de empresas que também produzem material televisivo), artigos e acervos digitais.

É importante salientar que os jornais em rede carregam características do impresso. A própria estruturação da pirâmide invertida ainda é amplamente utilizada, mas, apesar disso, a tendência dos jornais tradicionais é manter o material com mais profundidade, apuração e reflexão para o meio impresso, explorando métodos interativos que jogam as informações a cada segundo para o leitor, de modo rápido e eficiente.

A leitura não é linear, o uso de links entre os textos transforma a informação interativa e abre diversas ramificações que transformam a linha do tempo. Essa é uma característica do Hipertexto, criando blocos de informação amarrados por hiperligações. O conteúdo virtual é sobretudo mais barato, podendo ser produzido até mesmo em blogs e pastas gratuitas disponíveis na internet, palco de mídias independentes que estão ocupando o espaço das tradicionais, com um linguajar mais próximo do público-alvo.

Hipertexto, em azul(Correio Braziliense)

Jornalismo tradicional

A principal característica do jornal impresso é a hierarquização das informações publicadas, trazendo um informe mais profundo e reflexivo (digamos que as matérias impressas possuem uma abordagem mais direta em relação a especialistas, fontes e até mesmo fotografia). Como o material é entregue em formato único, geralmente no dia seguinte, as notícias são limitadas aos principais acontecimentos.

Com o dinamismo da tecnologia em voga, o jornal impresso apresenta uma estrutura narrativa refletida na imparcialidade, diretamente interligada à palavra escrita, com exceção das colunas e textos de opinião, que tem um espaço de veiculação limitado. Atualmente, a compra do jornal impresso associa o leitor à uma Assinatura, que oferece mais vantagens no âmbito On-line, sendo utilizado como um “bônus” de pacote.

Os jornais impressos que ainda se mantêm na ativa são caracterizados pela região e pela tradição, pilares que ainda sustentam as empresas tradicionais, seguindo uma periodicidade determinada pelos editores (diário, semanal, quinzenal, e até mesmo mensal).

Capa do Correio (2/4)

A redação da mídia impressa tem horário para fechar, então mesmo que a matéria do dia seguinte tenha alguma alteração (durante a noite, por exemplo) já não seria possível alterar. O publieditorial é organizado em uma página específica, onde atualmente os preços para veiculação não são muito altos. A leitura é linear, sendo diretamente ligada à estrutura da pirâmide invertida, trazendo os fatos na sua forma mais pura e direta.

Projetos de sucesso

Estúdio Fluxo

Em muitas ocasiões, o jornalismo digital pode ser “confundido” com o entretenimento, sobretudo com a nova era dos influenciadores e as ferramentas que são utilizadas em comum acordo entre os dois pólos de informação. O Estúdio Fluxo é uma organização que têm como fundo disseminador as doações feitas por leitores via Catarse.

Doações do Projeto Fluxo (Fluxo)

Até a última atualização deste texto, o projeto conta com um rendimento mensal de R$ 7.375, financiando todo o conteúdo que é produzido pelo site, que apresenta uma grade fixa de livestreams, programas multimídia (texto, vídeo e podcast) e newsletters. A doação base custa R$5.

Projeto TAB, do portal UOL

Como explicitado na abordagem do material virtual, os materiais que são produzidos nesse ambiente precisam cativar o público, trazendo uma abordagem diferenciada e utilizando recursos que chamem a atenção. Esse é o caso do Projeto TAB, iniciativa que traz semanalmente uma imersão em diversos temas polêmicos e desafiadores, como a luta de classes, questões de gênero, tráfico de pessoas, economia compartilhada, dentre outros

Projeto TAB (Portal UOL)

O projeto é financiado por marcas que expõe publicidade em materiais citados. As matérias apresentam gráficos interativos, vídeos e entrevistas exclusivas. Vale a pena citar que o material apresentado não segue uma linha editorial, podendo abordar os temas de acordo com a demandas de pesquisa relacionadas aos assuntos mais quentes da web.

Pesquisa de opinião

O preço do conteúdo online

O cerne da pesquisa demonstrou que as pessoas não estão dispostas a pagar pelo conteúdo, reforçando a necessidade de uma maior exploração do conteúdo Web como forma de otimizar o conteúdo jornalístico

Em um universo de 14 participantes, mais da metade deles afirma que o ambiente virtual é a melhor maneira para a propagação de notícias. Com o aumento do uso das redes móveis e do advento dos smartphones, ficou cada vez mais fácil entrar em contato com a informação. Apesar do grande fluxo de notícias, são poucos os casos de furos. Muitas matérias acabam se repetindo nos grandes portais.

Os participantes afirmaram que o conteúdo consumido é mais textual. Com a possibilidade do uso do hipertexto nas notícias, a leitura ficou muito mais dinâmica, explorando diversos pontos (até mesmo atemporais) de um mesmo acontecimento. Prova viva de que a escrita ainda cativa os consumidores da leitura moderna.

Em contrapartida, mais da metade dos opinadores não está disposto a gastar com as mensalidades que os jornais oferecem, por mais que tenham preços acessíveis. Uma das características do texto web é a possibilidade de núcleos especializados em nichos têm de se comunicar, de forma gratuita e até mais efetiva que os veículos convencionais. É um sinal de que os jornais precisam avançar em estudos de publicidade na web para se manterem vivos.

Pesquisa realizada pela Quartz mostrou que 55% dos internautas acreditam que o Facebook seja, de fato, a internet. Logo, muitas acabam se informando e acreditando cegamente que todas as informações que circulam na mídia social são verdadeiras. O questionário demonstrou que 0% dos envolvidos se informam através de material impresso, mostrando que, realmente, a mudança para o ambiente virtual é necessária e emergencial.

Podcast

Aposentada, Eliana ex-repórter do Jornal de Brasília analisa os desafios do jornalismo contemporâneo e faz comparações com a sua época de redação, em meados dos anos 70.

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