"Mas se não os temos, como sabê-los?"

Mulheres criam filhos sozinhas em uma a cada três famílias no Distrito Federal — sem parceria entre mãe e pai, o desafio aumenta

Gabriela Bernardes
Esquina On-line
4 min readNov 19, 2018

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Quem nunca ouviu que ser “Mãe é padecer no paraíso”? Em situações de doença, escola, cuidados domésticos, seja mãe solo ou mãe em um relacionamento, a maternidade tem dificuldades.

A brasiliense Johanne Queiroz, 26, separou-se do marido quando a filha Sofia tinha 3 anos. Eles dividem a guarda, mas mesmo assim Johanne sente-se julgada por isso.

“Os olhos são tortos pra mim e ele é visto como herói. A mãe não pode sair sem os filhos sem ser perguntada onde eles estão. Se estão com o pai, mil questionamentos vêm à tona: mas você confia? Ele dá conta? Daqui a pouco ele te liga. Quando na verdade não deveria ser assim.”

Ilustração: Thaiz Leão

Em 2015, das 10,3 milhões de crianças brasileiras com menos de 4 anos, 8,6 milhões (83,6%) tinham como primeira responsável uma mulher, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

O número de lares brasileiros chefiados por mulheres entre 1995 e 2015 passou de 23% para 40%, segundo a pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgada em março de 2017 pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica.

Fonte: IBGE

Thaiz Leão desenvolveu o perfil ‘Mãe Solo’ no Facebook, com tirinhas divertidas sobre a rotina da maternidade: exaustiva, cheia de desafios e repleta de amor. Atualmente, ela conta com a ajuda de Alexia Santi, 32, Ana Luiza Meigger, 27 Júlia Vianna, 27 e Zá Coelho, 35.

Foto: Reprodução Facebook

Elas propõem um novo modo de olhar para as mães solo:

“Ressignificar da maternidade e entregar uma expectativa real de futuro para a humanidade, sem prejuízo às crianças e às mães”.

Thaiz desenvolveu a ideia a partir da dificuldade de criar o filho sozinha em meio a cobranças da sociedade, para passar a mensagem de que a maternidade pode ser muito mais justa com as mulheres.

“A relação com os filhos não justifica o modo como a sociedade trata as mães. Mulheres são potência, mães são potência. E a gente precisa refletir nosso papel social para acabar com o ciclo de violência contra as mulheres que optam ou não pela maternidade.”

Amanda Lapa, 21, relembra quando o pai da filha dela ganhou parabéns e elogios por trocar fraldas: “Falaram que eu não ia arranjar outro homem desse. Eu fazia isso todos os dias, todas as horas e ninguém ficava batendo palma pra mim não”.

A psicóloga Flavia Lacerda,30, explica sobre a estrutura emocional de uma família com mãe ou pai solo:

Mesmo casadas, mães ainda sentem desigualdade na criação dos filhos. Bruna Venâncio, 33, e Danniela Carvalho, 36, contam como conciliam a maternidade, a vida profissonal e a pressão da sociedade:

Pai solo

Os desafios de se criar um filho não são exclusivos das mães. Lizandro Chagas, 41, é um exemplo. Ao se separar, não aceitou ter que ver o filho de 15 em 15 dias. Sem conhecimento sobre o assunto e sem dinheiro para pagar um bom advogado, resolveu estudar: “Peguei o código civil, fui entender o que era guarda, como era o processo de separação, convivência e saber meus direitos como pai em relação ao meu filho”.

Lizandro e o filho Thomaz

Ao longo dos estudos e de conversas com diversos profissionais, um amigo sugeriu que ele compartilhasse sua história. Daí resultou o blog Pai solteiro e do seu canal no YouTube, em que divide um pouco das experiências vividas.

A advogada Márcia Meirelles, 54, explica as diferenças sobre a guarda ccompartilhada e guarda alternada:

A alternada é quando a criança passa seis meses com o pai ou seis meses com a mãe, o período estipulado pelo juiz. A compartilhada te permite buscar na escola, buscar para almoçar. É muito saúdavel para a criança a interação de pais e mães após a separação.

Para Lizandro, as expectativas sociais nos papéis de mães e pais é muito alta: “A mãe ‘tá fazendo a obrigação’ na visão de muitos. O peso social sobre os pais é muito menor. Temos que mudar esse pensamento. Uma coisa é ser doador de esperma, outra é ser cuidador de uma criança”.

Entretanto, ele não fica livre das dúvidas quanto à capacidade como pai : “A sociedade não acredita que um homem consegue criar uma criança. Todo mundo desconfia dele, de dar comida, trocar fralda. Eu já fui perguntado várias vezes como é que eu faço pra dar comida pro meu filho, se eu lavo roupa. Como se essas coisas não fossem capaz de ser feitas por um homem” .

Os desafios de se criar um filho tornam-se ainda mais pesados quando aparece alguma doença, mas é possível lidar com isso de forma saudável. Leia reportagem na Revista Esquina:

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