“Mimimi” ou coisa séria?

O bullying escolar segundo a lei

João Victor Bachilli
Esquina On-line

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Frases derivadas do desconhecimento em relação a algum assunto são comuns em nossa sociedade brasileira. A autora do livro “Um olhar reflexivo sobre o bullying” e professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Tânia Lúcia do Nascimento, menciona a recorrente repetição por pessoas mais velhas que julgam o bullying como “mimimi” ou “coisa séria”. “Na minha época, eu também sofria violência na escola e ninguém chamava isso de bullying”, exemplificou Tânia.

Na década de 1970, foi a primeira vez que alguém estudou a fundo frustrações, ameaças e questões vexaminosas em ambientes escolares. Essa pessoa foi Dan Olweus, psicólogo, que, logo na década seguinte, já cunharia o termo bullying e iniciaria estudos sobre tal questão na Noruega. A primeira vez que esse termo veio dar o ar da graça em terras tupiniquins foi no ano de 2009, graças à doutora em Ciência da Educação Cleo Fante, entrevistada para reportagem sobre bullying da Revista Esquina (pdf interativo no final deste texto).

O Governo brasileiro conseguiu ser rápido em tomar providências iniciais em relação a esse tipo de violência, até então pouco conhecido pela população, após a chegada do termo. Em 2010, o Conselho Nacional de Justiça, presidido na época por Ricardo Lewandowski, iniciou o projeto “Justiça nas escolas”, que logo deu origem à primeira versão da Cartilha Anti-Bullying.

Em 2015, a cartilha sofreu algumas alterações. Tudo baseado na então nova lei 13.185 sancionada no dia 6 de novembro pela então Presidente Dilma Rousseff. A lei explica tudo que é considerado bullying no Brasil, apresenta métodos para lidar com esse problema e a importância de se lutar contra esse mal. Entretanto, deixa em aberto “como fazer”, mas segundo a militante Tânia, esse aspecto deve ser considerado localmente, pois cada município tem plenas condições de possuir profissionais ligados à área que consigam pensar nas melhores formas adaptadas à própria realidade.

Fonte: Ciomara Schneider

A lei existente não é cumprida, de acordo com especialistas. Confira o podcast sobre a Cartilha Anti-Bullying com a psicanalista Ciomara Schneider e a militante da causa, professora da Secretaria de Educação do DF e autora do livro “Um olhar reflexivo sobre o bullying”, Tânia Lúcia do Nascimento.

Desigualdade

Brasília pode ter aparecido como uma cidade peculiar no Brasil quando o assunto é bullying. A falta de proximidade com pessoas de realidades diferentes contribui para isso, segundo a professora do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Tânia Mara Campos de Almeida.

Um estudo sobre índices de desigualdade social e econômica, realizado em 2016 pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), apontou Brasília como uma das cidades com maiores desigualdades no Brasil, maior que o Rio de Janeiro. Isso acontece pelo fato de o DF ostentar uma mistura entre uma população muito acima da linha da riqueza e outra muito abaixo da linha da pobreza, em regiões marginais ao Plano Piloto.

Tânia Mara fala sobre a desigualdade na capital e como esse fato também tem um impacto direto no bullying:

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