Na alegria e na tristeza…um compromisso com os palcos

Artistas de Brasília contam como é viver da arte no dias atuais

Maria Fernanda Santos Suassuna
Esquina On-line
5 min readJun 18, 2019

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Primeiros passos no tablado

A relação de Brasília com os palcos começou com o espetáculo O Mal Entendido de Albert Camus, dirigido por Alfredo Mesquita, antes mesmo de a capital ser inaugurada, em 1959. A peça foi apresentada na Primeira Semana de Arte de Brasília de acordo com o livro Canteiro de Obras: notas sobre o teatro candango de Glauber Coradesqui.

Dulcina de Moraes

Dulcina de Moraes, Hugo Rodas e os Irmãos Guimarães são nomes importantes da cena teatral brasiliense. Em 1972, a primeira dama do teatro brasiliense inaugurou a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. O curso de Artes Cênicas da UnB, fundado em 1989, também formou e continua a qualificar atores, diretores, cenógrafos, dançarinos, profissionais que dedicam uma vida, ou melhor, vários personagens em benefício da arte.

A chegada do uruguaio Hugo Rodas modificou os rumos do teatro brasiliense, no qual circulou com seus principais espetáculos — ao todo ele participou de cerca de 150 montagens. Ele levou esse trabalho para outras cidades, principalmente no eixo Rio/São Paulo. Em 1996, em parceria com o artista, os Irmãos Adriano e Fernando Guimarães começaram a carreira de mais de 25 anos e acumulam prêmios. Colocaram Brasília no patamar máximo do teatro nacional ao ganharem o primeiro e único Shell da capital federal, de melhor direção, pela peça Doroteia.

Nova geração nos palcos do DF

A história do ator e professor Pedro Ribeiro, 30 anos, se entrelaça com os tablados do DF. Ele nasceu e foi criado em Sobradinho e, ainda criança, interessou-se pelas artes. “Um primo falou que tinha um curso de teatro oferecido pelo Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), e logo fui selecionado para entrar no grupo infantil.”

Esses primeiros passos foram fundamentais para o ator se formar em Artes Cênicas pelo Dulcina de Moraes. Emprego para o artista nunca foi problema, que é professor pela Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal na escola de Sobradinho e na faculdade em que se formou. “Eu represento uma exceção, pois a maioria das pessoas que vão para a Secretaria de Educação dar aula de teatro, abandonam os palcos”, afirma Pedro.

O ator acredita que as escolas públicas do DF são carentes em muitos pontos e lamenta a falta de incentivo do governo à cultura. “ Infelizmente esse estímulo tem que ser financeiro, pois a gente vive em uma sociedade capitalista e todo profissional da arte precisa ser remunerado”.

Pedro Ribeiro em cena na peça Autópsia com direção de Jonathan Andrade (Goiânia- 2015)

Cultivar o ato de pensar na pessoas motiva Pedro a continuar a fazer teatro, mesmo na atual situação educacional do Brasil. Em maio de 2019, o Governo Federal anunciou cortes na educação e na cultura. Na Capital do Brasil, o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) perdeu R$ 25 milhões de apoio do Governo do Distrito Federal (GDF).

O Secretário da Cultura do DF, Adão Cândido, argumentou que os cortes feitos na pasta são devido a falta de dinheiro. Segundo ele, a verba seria remanejada para a reforma do Teatro Nacional de Brasília. No dia 30 de junho, a inatividade do espaço completa cinco anos.

“A educação precisa de professores que provoquem os alunos”, afirma Pedro.

No podcast, a jovem atriz Laysa Gladistone contou os passos que seguiu logo após ter ser formado em Artes Cênicas pela UnB, em 2018.

Para a atriz e produtora Juliana Zancanaro, 42 anos, teatro e publicidade sempre andaram juntos. “Meu desejo era de ser apenas atriz, mas pela dinâmica da profissão e o mercado em Brasília eu me vejo obrigada a também ser produtora e assessora dos meus projetos”, lamenta a artista.

Juliana garante que a cultura faz diferença na economia, pois quando se nega espaço para a arte, outras camadas também são prejudicadas.

Juliana Zancanaro no espetáculo Elizabeth Tudo Pode! no teatro TAO Filmes (Brasília- 2018)

“O atual reflexo que a gente tem de produção artística é de empobrecimento em relação aos expoentes na mídia. É um sintoma do pouco incentivo que a gente vem dando à educação, pois tanto ela quanto a arte andam de mãos dadas”, afirma Zancanaro.

O teatro é muito afastado da população brasileira. De acordo com a pesquisa feita em 2014 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23,4% dos municípios brasileiros possuem teatros ou salas de espetáculos. No mesmo ano, os pontos de acesso à cultura estimados pelo IBGE apenas atingiram a marca de 3.422 espaços.

Segundo estudos feitos pela consultoria JLeiva Cultura e Esporte, em parceria com o Datafolha, quase um terço da população (32%) depende de acesso gratuito para ir a eventos culturais. Para 40%, frequentar atividades gratuitas é mais comum do que participar de eventos pagos como ir ao cinema, ou assistir a musicais.

A pesquisa “Cultura nas Capitais” entrevistou 10.630 pessoas em 2017 nas 12 capitais mais populosas do Brasil para saber sobre os hábitos de cultura dos moradores: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Manaus, Recife, Porto Alegre, Belém e São Luís . O infográfico ao lado traz os resultados.

Cultura nas redes sociais

Nos dias atuais, as redes sociais estão presentes na forma de fazer arte. O ator e crítico teatral Adeilton Lima considera que as plataformas digitais são um espaço para troca de informações e não para a produção de conhecimentos.

Adeilton Lima em Diário de um Louco, de Nicolai Gogol (Brasília- 2010)

Ele acredita que adquirir domínio sobre determinado assunto exige um tempo diferente da web. “A internet reflete uma espécie de 'não-lugar' e substitui o lugar do imaginário pelo virtual, um ambiente de ilusões e superficialidades, assim perdemos a capacidade de desenvolvimento do pensamento crítico e lúdico”, conclui.

Conversei com atores veteranos sobre os primeiros passos na carreira artística, as principais experiências no palcos de Brasília e a atual situação da cultura no Brasil, confira:

Você sabe qual o seu nível de conhecimento sobre o teatro brasileiro e suas técnicas? Faça o teste abaixo e confira se você está por dentro da história da quinta arte.

A revista Esquina apresenta os 40 anos de tablado do ator Chico Sant’anna, veja!

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