Elo entre animais e pessoas

Além de companhia, os bichinhos de estimação passaram a ser utilizados na terapia e ajudam a combater estresse, ansiedade e até mesmo depressão

Louise Velloso Guimaraes
Esquina On-line
6 min readJun 19, 2019

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Por Louise Velloso

Cachorros. Gatos. Passarinhos. Peixinhos dourados. Animais fazem parte do nosso cotidiano desde de que éramos pequenos, nos fazendo companhia ou nos entretendo. Mas você sabia que eles também são instrumentos de terapia no meio da saúde?

Popular nos últimos anos, a Pet Terapia consiste na utilização de animais, em especial cachorros, para ajudar no tratamento psicológico de pacientes ou, como são chamados, assistidos. Porém, acredita-se que TAA (Terapia Assistida por Animais) exista há muitos anos, sendo assim uma prática secular. “Hipócrates, com 400 anos antes de Cristo, já utilizava cavalos para regenerar pessoas doentes”, explica a psicóloga Silvana Fedeli. Porém, na literatura, o ano de 1792 foi oficializado como data de origem. Naquele momento, a terapia assistida por animais foi aplicada pela primeira vez em um retiro com doentes mentais, em York, na Inglaterra.

Depois disso, começou o estudo dessa prática, primeiramente na Inglaterra, em seguida Alemanha, e chegou com força aos Estados Unidos na década de 1940. “Na Segunda Guerra Mundial, quando começaram a levar animais, geralmente cães, para desestressar os soldados”, explica Silvana. Atualmente a terapia assistida por animais acontece no mundo inteiro, com o Brasil tendo projetos em diversos estados.

Um destes projetos é a Patas Therapeutas, localizado em São Paulo, do qual Silvana Fedeli é co-fundadora. A Associação, criada em 2012, atua hoje em hospitais, asilos, abrigos de crianças e até mesmo na Polícia Militar. São 15 instituições na cidade de São Paulo, referência em Pet Terapia. Para esse atendimento, a organização conta com 80 animais voluntários, em maioria gatos e cachorros. No último ano, a Patas Therapeutas promoveu 14 mil atendimentos feitos de forma voluntária.

A ONG atua nas áreas de Atividade, Educação e Terapia Assistida por Animais com uma equipe de voluntários e profissionais que trabalham com os próprios bichos de estimação, entre cães, aves, coelhos e outros. “Trabalhamos com animais exóticos também, tanto que temos um furão que faz o maior sucesso. Isso para mostrar que o contato com animal é incrível, não importa o bicho que seja”, comenta.

Atendimento no Hospital Albert Einstein. Fonte: Divulgação

São usados diversos bichos em TAA e muitas vezes varia de país para país. É comum que certos locais usem animais típicos da região. “Por exemplo, usarem lhamas, elefantes, golfinhos porém o animal mais utilizado é o cachorro, tanto que a maior parte das pesquisas são sobre ele”, esclarece a psicóloga. A causa disso são os anos de domesticação do animal, que o aproximam dos homens. Silvana comenta que o cão “é o que mais acompanha os gestos, as palavras. Hoje ele saiu do quintal e está dentro da nossa casa”.

Fonte: Patas Therapeutas

De acordo com Silvana, os animais devem ter alguns critérios básicos para que seja possível serem animais terapeutas. Primeiramente, devem ser afetivos, portanto “devem gostar de outras pessoas que não sejam o próprio tutor. Isso é um fator determinante independente da espécie”, explica. É necessário também que:

1. Cães e gatos devem ser castrados;

2. Cães são os únicos que devem ser adestrados;

3. Todos os animais devem ser socializados e dessensibilizados quanto a cheiros, ruídos e principalmente, tato;

4. Não podem morder, ou mais especificamente, não podem possuir reações adversas ao contato.

Para que o animal seja aceito nos hospitais é preciso fazer uma série de reuniões para compreender os protocolos de hospitais para hospitais. “ É necessário um envolvimento do hospital todo. Desde os médicos, enfermeiros, setor de infectologia até a diretoria”, fala Silvana. Os locais aos quais os animais vão dependem dos protocolos daquele hospital. Existem alguns onde os bichos são colocados na cama dos pacientes, outros que são atendidos nos quartos, outros ainda em enfermarias, e alguns visitam os corredores ou locais específicos para a prática.

Benefícios

De acordo com a Psicóloga Silvana, os benefícios da TAA são de carácter emocional, físicos, cognitivos e mentais. A terapia pode ser usada para o tratamento das mais variadas patologias e para todos os tipos de pacientes. “Hoje atendemos crianças com menos de um mês até idosos com mais de 90 anos. E todos eles se beneficiam da mesma maneira”, conta Silvana. A única preocupação é quanto ao sistema imunológico das pessoas atendidas para que seja propícia a visita de pessoas e animais. Isso é decidido em conjunto com os profissionais de saúde responsáveis por aquele paciente. “São eles que nos dizem se podemos utilizar ou não o animal. Essas decisões às vezes não são para a proteção do paciente e sim para quem está do lado fora”, explica a terapeuta.

Uma das áreas de maior sucesso da TAA é quanto ao tratamento de transtornos mentais. “No autismo, o animal é um grande facilitador para essa criança na parte social, familiar e comportamental”. De acordo com Silvana, quase todos os transtornos mentais podem ser tratados, em parte com a Pet Terapia. Tanto que, “Pacientes com gravidade psíquica grave e com a presença de um animal, essa pessoa se comporta de uma maneira totalmente diferente do que se comportaria com um ser humano”, explica ela.

Os ganhos da prática são as melhoras fisiológicas como a liberação de hormônios e neurotransmissores. Que seriam a endorfina, dopamina, oxitocina e o principal que a diminuição do cortisol, que é o hormônio do estresse. Outros benefícios seriam a diminuição da pressão cardíaca, da pressão arterial, e o aumento da saturação de oxigênio e até mesmo diminuição da ansiedade geral e da depressão.

PetApoio em Brasília

Em 2016, a capital também ganhou um projeto de Terapia Assistida por Animais. O grupo de voluntariado no Hospital de Apoio foi onde a ONG teve início, e desde então atuam em diferentes locais em Brasília.

Conversamos com a médica veterinária e atual presidente da Associação PetApoio, Vanessa Spagnolo:

Equoterapia com a ANDE-Brasil

Uma das formas de terapia com animais é a Equoterapia. Feita com cavalos, trata-se de um tratamento completo que envolve fonoaudiologia, fisioterapia e psicologia para diferentes transtornos e deficiências. A organização foi responsável por trazer a terapia com cavalos para o Brasil há trinta anos, e funciona de forma gratuita. Mais de 130 alunos com deficiência são atendidos atualmente.

Para falar mais sobre isso conversamos com a psicóloga Latife Gomez, que trabalha na Associação como instrutora.

As aulas tendem a ser de 50 minutos, de uma a duas vezes por semana. Elas geralmente são divididas em duas partes: a primeira no galpão, onde cada criança tem um instrutor e um acompanhante (algumas vezes dois, a depender da necessidade do praticante). Após isso, se o clima estiver agradável, as crianças são levadas para um passeio pela hípica.

Aula de equoterapia na ANDE-Brasil, localizada na Granja do Torto. Fotos: Persefone Santa Rosa

E você? O que acha da terapia com animais? Leia mais sobre com a matéria completa da ANDE-Brasil na Revista Esquina:

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