[1922] Poemas negros: versão ampliada

Arthur de Siqueira Brahm
Prosa distraída
Published in
2 min readApr 25, 2022

Jorge de Lima

Em algum momento daquele inimaginável ano de 2015, quando tu desembarcava de volta ao Brasil vazio de cronogramas mas cheio de planos, acabei comprando e lendo a antologia poética publicada pela CosacNaify. Para ti era importante avançar e completar o máximo da minha cartografia da poesia brasileira. Tinha uma série de nomes óbvios, mas também quase-óbvios a serem lidos para completar tua eucação.

Jorge de Lima veio acompanhado de Murilo Mendes e a leitura de um, por intermédio da memória, sempre traz de alguma forma a do outro, assim como há uma ligação na lembrança entre Drummond e Vinícius, Hemingway e Fitzgerald.

Os efeitos foram diferentes. Mais do que isso. A antologia do Murilo Mendes é testamento de um dos maiores poetas do século XX, mestre do modernismo primordial, oriundo daquelas primeiras décadas incertas do século e despido do peso acadêmico que afetou mais de um paulista daquela geração. Inventivo, curioso, pensador orgânico do mundo ao seu redor e fiel aos instrumentos sentimentais e artísticos que possuía — tudo isso resulta em Murilo em uma poesia da abrangência do Drummond, ainda que não do mesmo sucesso.

O contraste com Jorge foi grande porque, sinceramente, este nunca penetrou a casca da tua atenção até aquele lugar onde os escritores e escritoras realmente estão lidando com as essências do leitor. Veja bem. Isso não quer dizer que ele seja ruim. É como Henry James. Lendo o texto percebe-se que é sim um texto bom, bem acabado, com conceitos interessantes e efeitos comoventes. Mas reconhecer que um texto é comovente e ele te comover são dois efeitos distintos, e uma das formas mais claras de identificar o gênio.

Nessa filtragem que Jorge fica para trás. Até nos seus maiores momentos (a maioria se concentra no épico “A invenção de Orfeu”), a sensação inescapável é de que o conjunto não é maior do que a soma das suas partes. Partes belíssimas, vivas e rebeldes, diga-se de passagem.

Nessa segunda leitura gostei mais da poesia do autor que da primeira, preciso confessar a bem da verdade. Mas ainda não se compara aos seus contemporâneos gigantes, nem ao verdadeiro alcance que o seu estilo de poesia poderia alcançar. Talvez em 5 anos tu tenha uma leitura ainda mais gentil e feliz de Jorge de Lima e sua torta lira alagoana.

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