[1922] Poemas negros: versão ampliada
Jorge de Lima
Em algum momento daquele inimaginável ano de 2015, quando tu desembarcava de volta ao Brasil vazio de cronogramas mas cheio de planos, acabei comprando e lendo a antologia poética publicada pela CosacNaify. Para ti era importante avançar e completar o máximo da minha cartografia da poesia brasileira. Tinha uma série de nomes óbvios, mas também quase-óbvios a serem lidos para completar tua eucação.
Jorge de Lima veio acompanhado de Murilo Mendes e a leitura de um, por intermédio da memória, sempre traz de alguma forma a do outro, assim como há uma ligação na lembrança entre Drummond e Vinícius, Hemingway e Fitzgerald.
Os efeitos foram diferentes. Mais do que isso. A antologia do Murilo Mendes é testamento de um dos maiores poetas do século XX, mestre do modernismo primordial, oriundo daquelas primeiras décadas incertas do século e despido do peso acadêmico que afetou mais de um paulista daquela geração. Inventivo, curioso, pensador orgânico do mundo ao seu redor e fiel aos instrumentos sentimentais e artísticos que possuía — tudo isso resulta em Murilo em uma poesia da abrangência do Drummond, ainda que não do mesmo sucesso.
O contraste com Jorge foi grande porque, sinceramente, este nunca penetrou a casca da tua atenção até aquele lugar onde os escritores e escritoras realmente estão lidando com as essências do leitor. Veja bem. Isso não quer dizer que ele seja ruim. É como Henry James. Lendo o texto percebe-se que é sim um texto bom, bem acabado, com conceitos interessantes e efeitos comoventes. Mas reconhecer que um texto é comovente e ele te comover são dois efeitos distintos, e uma das formas mais claras de identificar o gênio.
Nessa filtragem que Jorge fica para trás. Até nos seus maiores momentos (a maioria se concentra no épico “A invenção de Orfeu”), a sensação inescapável é de que o conjunto não é maior do que a soma das suas partes. Partes belíssimas, vivas e rebeldes, diga-se de passagem.
Nessa segunda leitura gostei mais da poesia do autor que da primeira, preciso confessar a bem da verdade. Mas ainda não se compara aos seus contemporâneos gigantes, nem ao verdadeiro alcance que o seu estilo de poesia poderia alcançar. Talvez em 5 anos tu tenha uma leitura ainda mais gentil e feliz de Jorge de Lima e sua torta lira alagoana.