A dignidade humana

Matheus Marques
Essentia
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3 min readJun 5, 2020

Sou um homem negro e, como qualquer pessoa negra no Brasil, já sofri racismo diversas vezes. Pessoas que saem quando você se aproxima, funcionários de lojas que não te atendem, piadas sobre sua cor. A maioria das vezes, sem que a pessoa sequer se atente ao que está fazendo. É apenas o “normal”.

Imagem: Barney Barrett/Tumblr

Há muito tempo é assim. Minha bisavó nasceu sob a Lei do Ventre Livre. Não era escrava, mas viveu muitos anos como uma. Uma vida sendo dita que você vale menos pela cor de sua pele. Dona Iaiá.

Os filhos de mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei, serão considerados de condição livre. Lei Nº 2.040, de 28 de setembro de 1871, Art. 1º.

Meus avós, tios, tias. Meu pai. Todos passamos por isso. Eles, mais do que eu.

Mas racismo não é um problema de cor, é uma questão de DIGNIDADE HUMANA.

Já adianto que não falarei sobre os protestos que estão acontecendo, sobre os movimentos sociais ou sobre política. Não é esse o foco do Essentia. Aqui falamos sobre indivíduos, sobre eu e você.

Por isso, queria conversar com você sobre o que nos faz dignos. E tentar te explicar que negros, brancos, asiáticos, indígenas, deficientes físicos e mentais, idosos ou bebês, adultos ou crianças temos exatamente a mesma dignidade e, portanto, o mesmo valor.

O que te torna mais ou menos “valioso” do que as outras pessoas?

A bondade no seu coração? Se é a bondade, porque não vende tudo o que tem para dar aos pobres? Você poderia se tornar a mais digna das pessoas. São seus atributos físicos? Ah, modelos e atletas são os mais dignos. Sua coragem? Então quem tem valor são os soldados em uma guerra. Seu sofrimento? Todas as pessoas experimentam o sofrimento, umas menos, outras mais, outras muito mais. Eu sei bem.

Não existe uma medida para dignidade. Você é mais digno que um morador de rua? Que um político corrupto? Que uma prostituta que vende seu corpo por dinheiro? Por quê? Cada comparação é determinada por uma referência, qual a sua? Sucesso profissional? Inteligência?

Você não é mais importante do que qualquer pessoa. Nem mesmo que de um assassino ou de um racista. Mas, ao mesmo tempo, não existe uma única pessoa neste mundo (rei, presidente, político, bilionário…) mais digna que você.

Todo o seu valor, toda a sua dignidade está dentro de você. E ninguém pode fazer nada para mudar isso, nem mesmo você, seus defeitos, suas fraquezas. Cada vez que você diz a si mesmo que “não vale nada”, você está mentindo para a sua própria essência.

Não é a sua cor que te torna digno. Não é sua beleza. Não é sua opinião política. Não é o que você pensa de si mesmo. É você!

Você, ser humano, vale o mundo.

Por isso vale defender a vida. Por isso, quando uma única vida é tirada, tantos ao redor do mundo se revoltam. Porque, conscientes ou não, sabemos o valor de cada vida.

Nós, seres humanos, sabemos reconhecer o valor nos demais. É a nossa natureza. Mas com um grande porém: só podemos reconhecer aquilo que conhecemos.

Se você acredita ser melhor do que qualquer outra pessoa, é porque não conhece sua própria dignidade. E se não a conhece, não tem agido de acordo com ela. Por isso existem racistas, corruptos, estupradores. Porque deixam de reconhecer nos demais a dignidade que não percebem em si mesmos.

Mas há esperança! Todos nós podemos mudar. Todos, inclusive eu e você. E vale a pena lutar por cada “indigno”, porque eu sou o primeiro deles.

Reconheça sua essência, seu valor, sua dignidade. Ao mesmo tempo, você começará a reconhecer a essência, o valor e a dignidade em cada pessoa a sua volta. E assim, perceber que todos somos iguais.

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Matheus Marques
Essentia

Publicitário, jornalista e designer. Escrevendo sobre investimentos e mercado financeiro para o Finis. Discutindo sobre o que nos faz humanos no Essentia.