A verdadeira liberdade sexual: o que realmente buscamos?

Isabela Cardoso
Essentia
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4 min readAug 28, 2020

Todos sabem que o leão é o rei da selva. Grande, bonito, imponente; não é por acaso que recebe esse título. Mas poucos param para perceber que essa afirmação contém um erro trivial: não existe leão na selva!

E não é que essa seja uma informação desconhecida. Certamente, uma das primeiras coisas que pensamos quando se fala em leões, são as savanas africanas. Mas os detalhes podem passar despercebidos quando replicamos uma expressão que, à primeira vista, parece ser correta, e por fazer parte do nosso imaginário desde que éramos crianças, simplesmente a aceitamos e continuamos a passá-la adiante.

Esse é um exemplo bobo que diz muito sobre o que acontece em nossas vidas nos dias atuais. É por um detalhe pequeno, mas essencial, que uma afirmação correta torna-se errada. Da mesma maneira, na vida cotidiana, alguns aspectos deixados de lado podem fazer uma grande diferença na forma de ver e interpretar o mundo.

Uma questão cotidiana e social que merece atenção especial é a sexualidade e a forma como é difundida. Frequentemente percebo que ela não tem sido vista como algo verdadeiramente belo e bom no seu aspecto humano e até transcendental, mas olhada de maneira superficial e deturpada.

O sexo é bom não simplesmente pela sua dimensão física e sensorial, ou apenas pela sua função reprodutiva, mas porque, além disso tudo, possui um papel unitivo que tem sido desconsiderado, ou ao menos distorcido.

Mas a dimensão unitiva, por mais que seja considerada um mero detalhe para alguns, é extremamente necessária para se atingir a “liberdade sexual” que buscamos. Tem-se falado muito em uma liberdade que, na verdade, não nos ajuda a enxergar a sexualidade e a própria vida da maneira bela como deve ser. Ao contrário, promove o sexo como uma forma de se obter prazer e até como a principal maneira de se ter felicidade, sem levar em conta a preciosidade da intimidade. Assim, o que antes era belo e bom, passa a ser vivido como algo banal e insignificante.

Não podemos separar o sexo de tudo o que ele representa. A intimidade, a união, a doação mútua não são alheias em uma relação sexual e devem ser valorizadas. Na própria natureza encontramos a prova disso. Até mesmo os leões usam o sexo como algo que vai além do instinto animal de se reproduzir, mas justamente como forma de união e aproximação dos laços entre eles.

É verdade que deve-se viver uma sexualidade saudável, não tratá-la como um tabu, e educar nossas crianças, adolescentes, jovens e até adultos acerca do tema. O problema não está aí, mas na forma como ela tem sido difundida, desconsiderando o aspecto belo e promovendo uma visão deturpada do que é realmente saudável.

Não é uma questão de diversão, mas sim de se atingir uma verdadeira unidade entre o casal que deseja e está pronto para assumir uma doação para a vida. Uma relação sexual, por mais que queiramos negar, demanda uma disposição a se dar a conhecer inteiramente pelo outro. E por mais incrível que possa parecer, nessa doação encontra-se a plenitude do ato e a felicidade/prazer genuíno.

A verdadeira liberdade sexual nos leva a atingir a liberdade no sentido pleno e total da palavra, e ainda ultrapassa essa função, nos ajudando a alcançar a plenitude de vida. Um casal que se ama, quer se entregar inteiramente ao outro. Por meio de uma vivência da verdadeira sexualidade, cultivam a intimidade e união de uma maneira única, que não existe em nenhuma outra relação humana.

Se prestamos atenção aos detalhes, podemos facilmente transformar uma visão de mundo deturpada em uma visão focada na dimensão bela da vida. Sim, a beleza está nos detalhes, ou muitas vezes no que não é falado ou difundido, e tem a capacidade de mudar uma vida por completo. Daí a importância de se buscar viver plenamente, de ter um olhar atento e de nunca aceitar, difundir e viver meias verdades.

Já dizia Karol Wojtyla:

“The truth is not always the same as the majority opinion”.

(A verdade nem sempre é a opinião da maioria).

Não se deixe levar pela forma com que o mundo vê o mundo. Busque aprofundamento, busque sentido, e assim verá como a vida pode ser transformada para melhor e ser sempre mais plena.

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Isabela Cardoso
Essentia

Biotecnologista e mestranda em Biologia, amo fazer perguntas, divulgar a ciência no IG vida.de.cientista e escrever sobre relações humanas no Essentia.