Ser vulnerável para ser mais livre
No início deste ano, ainda sem saber das grandes emoções que 2020 guardava, achei um caderninho que eu havia ganhado de presente já há algum tempo. Ele estava escondido no fundo da gaveta, esperando uma ocasião especial para ser usado. Aquele simples acontecimento me fez perceber que eu estava desperdiçando a minha existência assim como eu desperdicei, por anos, aquele caderninho. Compreendi que “Não fomos feitos para pouco” e tentei levar essa frase como o lema da minha vida.
Hoje, 8 meses e uma primeira onda de COVID-19 depois, não posso dizer que consigo colocar em prática tudo o que escrevi naquele texto, mas com certeza dei alguns passos certeiros nessa direção.
O primeiro foi conseguir tirar o caderno da gaveta e completar todas as páginas daquele presente especial, porém esquecido. As folhas em branco deram espaço a uma infinitude de escritos úteis, como propósitos a cumprir diariamente, passos para uma boa meditação, inspirações e orações.
Mais do que isso, o caderno se tornou para mim um símbolo de realização e conquista, quase como um prêmio Nobel alcançado arduamente após uma vida paralisada diante do medo. De repente letras feias ou escritos desimportantes não são ameaças à beleza daquele caderninho tão apreciado, senão provas da minha vulnerabilidade, que no lugar de imobilizar, me impulsiona em direção a um crescimento pessoal sempre maior.
Melhor do que tentar explicar com minhas próprias palavras, cito Francisco Faus, que não pôde deixar de estar em uma das página do meu prêmio Nobel:
“A fortaleza supõe a vulnerabilidade, sem vulnerabilidade, não se daria sequer a possibilidade de fortaleza. Ser forte ou valente não significa senão isto: poder receber uma ferida. Se o homem pode ser forte, é por ser essencialmente vulnerável.” (Francisco Faus)
O caderninho se tornou meu companheiro e desengavetá-lo me mudou como um todo: passei a ser mais organizada e assídua nos meus compromissos, coloquei um pouco de disciplina no meu dia e até sei mais claramente os assuntos que vou escrever nos textos do Essentia. De fato, preencher as páginas do caderninho me incentivou a preencher também as da minha vida com algumas das virtudes que me faltam, e assim dar mais sentido e propósito à minha existência.
Minha grande amiga e incrível escritora Laura Poffo um dia me falou da jovem italiana Angelica Tiraboschi, que tendo apenas 19 anos de vida ao seu dispor, pôde ser grande inspiração para o mundo:
“Não devemos dar anos à vida, mas vida aos anos."(Angelica Tiraboschi)
Hoje, a amiga que me deu o caderninho especial me contou que, faz algum tempo, tomou uma decisão para a sua vida: não falar nenhuma palavra negativa, mas transformar a negatividade em gratidão. Pode parecer algo meio bobo ou exagerado demais, mas pensando friamente, pode fazer um grande diferencial.
A partir do dia em que tomou a decisão, ela deixou de reclamar de cansaço e passou a agradecer por ter um trabalho que a dignifica, só para citar um exemplo. Isso mudou muito a maneira como ela tem encarado a realidade e até abriu portas para novas oportunidades de emprego. Para mim, essa é uma maneira de "dar vida aos anos" ou de preencher as folhas da nossa vida com escritos especiais.
Enfim, deixo aqui meu agradecimento a vocês, leitores, pela lição que me deram ao me dar a oportunidade de escrever sobre esse caderno pela primeira vez. E como retribuição deixo também mais uma inspiração do caderninho:
“Quem tem tempo não espera pelo tempo. Quem nos diz que viveremos até amanhã? (São Pio de Pietrelcina)