O valor da vida

Gabriela Vieira
Essentia
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4 min readApr 28, 2020

O que é a vida? Vivemos atualmente uma cultura profundamente marcada por contradições. Chegamos a nos fechar para evidências primárias de uma verdade objetiva, comum e preferimos uma opinião subjetiva e volátil, marcada por egoísmos e caprichos. Essa opção por uma vivência de liberdade desvinculada da verdade e do bem da pessoa é o que leva a graves atentados à dignidade da pessoa humana.

Segundo o economista francês, Frédéric Bastiat, a vida é um dom que inclui a vida física, intelectual e também moral. É a partir desse dom que desenvolvemos nossas faculdades. É somente partir da sua existência que o homem é capaz de produzir leis. Importante ficar claro que a lei não é condicionante da vida, mas sim o contrário. De forma que não foi o Homem feito para o direito, mas o sim o direito feito para Homem. Temos aqui a vida como um marco para aquisição de outros direitos.

Mas quanto a vida vale? E a origem do homem? O tema exige sim uma abordagem filosófica, mas especificamente, ontológica (estudo do ser) e metafísica (estudo da realidade). O início da vida nos inspira a grandes perguntas. A resposta para essas perguntas é determinante sobre a forma como conduzimos a nossa vida. Por isso é um exercício reflexivo que exige generosidade, desprendimento de uma cultura marcada pela eficiência e consciência sobre a nossa mortalidade.

O valor da vida é um valor imensurável. Não se pode monetizar quanto vale a vida de alguém, independente dos nossos afetos ou ausência deles por quem quer que seja o indivíduo.

Guiados pela razão, é possível concluir que no momento em que o homem vira um fim em si mesmo, desprovido de qualquer norte objetivo para balizar suas condutas, cada um se converte em juiz sobre o bem e o mal. O que é resultado de um subdesenvolvimento moral e ético, realidade de uma sociedade em crise de valores.

Falar em direitos humanos, dignidade da pessoa humana, valor, início e fim da vida exigem uma abordagem metodológica interdisciplinar acompanhada pela medicina, biologia, antropologia, filosofia e ética. Caso contrário, caímos em terríveis contradições, especialmente em épocas de pandemia.

A promoção da vida e da dignidade humana abrange o serviço aos demais, atenção aos menos favorecidos e aos marginalizados. Mas vai além disso, o respeito à vida compreende desde o primeiro momento da sua concepção e vai até a sua morte natural.

Através da embriologia é revelado à razão humana que na fecundação ocorre a união do óvulo com o espermatozoide. Nesse momento 23 cromossomos de cada gameta compõem a célula totipotente chamada zigoto, com 46 cromossomos, iniciando a existência de um novo ser humano irrepetível.

Caso nenhum fator externo interfira, vai se desenvolver e se tornar um ser humano. Se um embrião enquanto embrião humano não fosse um ser humano, o que mais ele poderia ser? Não há possibilidade desse embrião ser qualquer outra coisa que não seja uma pessoa. O embrião se desenvolve, se torna um bebê, que se torna uma criança, que se torna um adolescente, um adulto e por aí vai. O que diferencia o embrião de um homem adulto são apenas estágios de desenvolvimento.

Antes da fecundação o óvulo tem uma expectativa de vida que dura 24 horas e o espermatozoide, de 3 a 5 dias. A fecundação traz uma mudança radical, qual seja a expectativa de vida que passa a ser de 85 anos para a mulher e 80 anos para o homem.

O encontro do material genético masculino com o material genético feminino gera uma nova cadeia genética, única, distinta dos progenitores, que definirá um novo indivíduo. Sendo assim, a fecundação é um marco a partir do qual não haverá nenhuma outra mudança substancial no aspecto genético e que determina a individualidade do ser humano.

O valor que damos a vida e como nos comportamos diante dela está intimamente ligado ao reconhecimento singular da vida humana do embrião como alguém ou algo. Distingui-lo como sujeito de realidade e propriedade moral é determinante para o respeito à vida e formação do conceito de pessoa.

Portanto, na medida em que não temos conceito de pessoa, com ele desaparecem também conceitos como respeito, dignidade, honestidade, direitos humanos e etc. Ser pessoa independe de credo, posicionamento político, cultura, local de nascimento e afins.

Quando esse conceito começa a ser relativizado e deixado de lado, ganham espaço na sociedade as contradições. Momentos de crise, como pandemias, evidenciam essas contradições e nossos retrocessos morais e éticos. Apenas ser e reconhecer-se pessoa é o que nos permite perceber a grandeza do horizonte que temos pela frente.

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Gabriela Vieira
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Colérica sangue nos olhos, apaixonada por uma boa conversa e um cafézinho. Entusiasta quando o assunto é arte, política, literatura, música e filosofia.