Quando a pornografia roubou a minha inocência
“Meu nome é João, tenho 19 anos, e minha história com a pornografia começou aos 13 anos. Um amigo, durante o intervalo da escola, mostrou ao nosso grupo de amigos um vídeo em seu celular. A maioria deles começou a rir e a fazer comentários maliciosos.
Como era a primeira vez que via, não sabia como explicar aquilo que estava sentindo. Mas isso foi passageiro e não dei mais atenção ao assunto. Poucas semanas depois, enquanto fazia uma pesquisa para o colégio no meu computador, ao clicar em um link qualquer, fui conduzido a uma página pornográfica.
Meus olhos se abriram, e descobri o mundo do sexo. Ou pelo menos do que eu achava que era o sexo. Cada vídeo que via despertava em mim um interesse por mais, estava ‘conhecendo’ muitas coisas novas. Claro que sempre escondido dos meus pais, pois não sabia o que eles achariam de tudo isso.
Nem eu sabia o que achar disso tudo… Era difícil definir os sentimentos, uma mistura de alegria e incômodo. Com o passar do tempo, fui vendo mais e mais. Quando passava por uma dificuldade, estava carente ou triste, fechado no meu quarto, as horas dedicadas à pornografia eram meu remédio.
O medo que tinha de que meus pais descobrissem aquilo passou quando ganhei meu celular; agora era mais fácil, mais sigiloso, e podia ver onde quisesse. Toda essa ‘atividade virtual’ despertou em mim a sexualidade e descobri o universo feminino.
Comecei a ficar com algumas meninas, na verdade pensava que quantas mais,
melhor, já que não esperava ter nada sério aos meus 16 anos. Além dos vídeos, a masturbação era algo frequente, e o desejo por ter sexo com uma menina só crescia, queria saber qual era a sensação daquilo que via todos os dias.
Tive essa oportunidade antes dos dezessete anos. Estava numa festa com os colegas da escola. Claro que havia álcool, algo de droga, bastante música e um ambiente muito animado. Todos estavam ficando com alguém e eu, pressionado por meus amigos, também fiquei com alguém, uma menina que eu não conhecia e que já estava um pouco além do que eu chamaria de ‘normal’.
Ficamos e, quando percebi, estávamos num quarto minúsculo, embriagados perdendo ‘a marca da vergonha’, que era a minha virgindade. Minha vida seguiu assim por um bom tempo, até completar meus dezenove anos. Estava
em meu estágio, durante o tempo de trabalho, quando veio uma vontade muito grande e acabei abrindo ele no computador da empresa.
Na minha inocência, não sabia que nossas visitas na internet eram controladas. Fui descoberto e perdi meu estágio por falta de ‘decoro profissional’.
Esse fato abriu meus olhos e decidi mudar, optei por deixar isso de lado e, finalmente, percebi que estava arruinando minha vida. Até tento superar sozinho, mas dificilmente consigo ficar afastado por mais do que três dias. Fico sem saber o que fazer.”
A história do João é a história do Mateus, do Felipe, da Ana, do Pedro, da Helena e de tantos outros garotos e garotas que, no início da sua adolescência, foram expostos de modo bruto ao mundo da pornografia. Nunca foram avisados do que isso iria causar na sua vida. Nunca souberam que perderiam mais do que a inocência: perderiam, pouco a pouco, a sua liberdade.
Um bom número de profissionais afirma que a pornografia funciona para o nosso cérebro do mesmo modo que uma droga, causa uma dependência e necessidade cada vez maior.
Muitos jovens atualmente tentam deixar a pornografia de lado e não conseguem. Mas é claro que o mercado pornográfico não lhe adverte sobre isso. Não colocam no início do vídeo um alerta: “use com moderação”. Existe um motivo pelo qual essa indústria é uma das que mais cresce na atualidade. Cresce sob o preço da inocência de muitos.
Na verdade, o problema com a pornografia não é o quanto arrecada por ano, mas sim o fato de que, querendo mostrar muito, mostram demasiado pouco.
Reduzem a relação sexual a um mero contato de órgãos genitais, onde a mulher é instrumentalizada, transformada num objeto de prazer, muitas vezes sendo agredida, ofendida e ridicularizada.
Não podemos aceitar que ela seja vista como um remédio para calar um sofrimento, uma tensão. Se ela é um remédio, é um remédio sem bula. De fato, quando nos encontramos em situação de tensão, o mais comum é que
busquemos algum meio de nos recompensar, de eliminar a tensão. Muitos encontram um alívio nas drogas, e não seria diferente com a pornografia.
Sabe qual o problema com tudo isso? É que uma droga não sacia o seu desejo, não alivia seu sofrimento, não devolve sua alegria. Ela simplesmente permite que você sinta uma alegria momentânea. Quando o efeito passar, você vai necessitar de mais, será capaz de loucuras para conseguir mais. E, quando finalmente quiser deixá-la, irá descobrir o que significa uma “crise de abstinência”, irá descobrir o vazio existencial.
Assistir pornografia não é normal, não é natural, não é bom. Enquanto isso não mudar, João será só mais um na multidão. Será uma criança insignificante, vítima do mercado pornográfico, que terá sua inocência destruída, que passará a ver as mulheres como um objeto de prazer e o sexo como algo frio, egoísta e inumano.
É preciso aprender o verdadeiro valor do corpo. Entender que somos muito mais do que uma máquina de estímulos e prazeres.
Talvez hoje, pode parecer impossível deixar a pornografia de lado. De fato, sozinho é quase impossível. Não tenha medo ou vergonha de pedir ou buscar ajuda. Libertar-se de um vício é muito mais fácil quando estamos acompanhados.
Existem muitas pessoas dispostas a lhe ajudar, mas para ser ajudado você precisa dar esse primeiro passo. Não tenha medo de ser julgado pelos demais, muito pelo contrário.
Por todos aqueles que tiveram sua inocência roubada e o significado do amor deturpado… Pelo João, pelo Mateus, pelo Felipe, pela Ana, pelo Pedro, pela Helena: sejamos capazes de dizer não a pornografia!
Texto escrito por Angelo Senchuke.