Quando uma nova vida se apresenta

Gabriela Vieira
Essentia
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6 min readMay 5, 2020

O texto de hoje começa com a história da Sara. Sara tinha 21 anos, estava na faculdade, se apaixonou por muitos caras e acabou engravidando de um deles. O que poderia ter sido uma história de amor ou só mais um caso para contar do período de faculdade, tornou-se uma situação traumática quando Sara não permitiu que seu(ua) filho(a) nascesse.

Infelizmente, muitas mulheres, profundamente enganadas, optam por esse ato convictas de se tratar de um direito, um tipo de conquista e uma bandeira de emancipação. No entanto, é a pior coisa que pode acontecer a uma mulher e ao seu filho.

A esta mulher, faltou todo o acolhimento, um sussurro ao pé do ouvido, uma ajuda específica, com detalhes: “estou aqui e vou te ajudar, não vai faltar um teto e comida para você e seu bebê”, ou um “converso com seus pais”. A cada situação, a devida resposta, conforme as necessidades demandam.

Mas é importante ter em mente que não se trata apenas de critério material ou econômico. Não se pode lidar com o assunto de maneira meramente pragmática. Estar diante de uma nova vida é estar diante de uma nova realidade e isso assusta, traz medo da solidão, da rejeição, medo daquilo que não se conhece.

Para a mulher, que, diante de uma nova vida, foi levada a um leito de hospital, permitindo que tirasse a vida de seu(ua) filho(a), faltou alguém que a tenha feito não se sentir sozinha. As consequências para a mulher são das mais variadas, incluindo buscas frustradas por um real sentido, vivência de sentimentos sufocantes, relacionamentos abusivos e doentios e caminhos pseudorreligiosos.

Não são necessários sermões, não são eles que fazem essa mulher mudar. Mas a certeza de que há alguém que a ama muito, exatamente como ela é e que ela pode perdoar a si mesma.

A partir de uma análise científica, constata-se que já na concepção a mulher passa por um processo biofisiológico e também psíquico. Essa nova constituição física da mulher e do seu organismo trazem a disposição natural da maternidade.

Portanto, o aborto não se trata de um direito, mas sim de uma exploração definitiva da mulher e do seu corpo. Não há como sustentar esse ato sob o argumento de que é um exercício de liberdade, quando, na verdade, traz elevados riscos de sofrer de ansiedade, depressão, alcoolismo e dependência de outras drogas. Sem contar o risco de suicídio, que é de duas a seis vezes maior se comparado as mulheres que não realizaram um aborto.

Além disso, há também as consequências para futuras gestações, que abrangem os partos prematuros, placenta prévia, perfurações no útero e outras infecções, como endometrite.

As mobilizações que advogam à favor do aborto tentam trazer uma tensão entre os direitos da mulher e os direitos do nascituro, sob um falso argumento de acolhimento e empatia para com a mãe. Mas pouco relatam sobre as reais consequências desse ato para mulher envolvida. Não relatam as dores de uma Síndrome Pós-Aborto (SPA) e as variantes dos distúrbios pós-traumáticos do estresse. A proposição desse ato, acaba sendo atentatório à estrutura psicofísica da mulher.

Antes da década de 60, milhares de pesquisas já concluíam os profundos traumas de um aborto. Entretanto, com o avanço do controle da natalidade, do movimento feminista e toda a revolução sexual, o acesso aos registros científicos quanto a esses traumas foi ficando cada vez mais escasso.

Uma pesquisa realizada na Finlândia em 1997, com 10 mil mulheres, concluiu que aquelas que tiveram um aborto experimentam uma profunda tristeza de perda, um vazio interno; os homens, familiares e qualquer profissional que tenha colaborado também foram afetados.

Outro estudo, elaborado pela Universidade de Minnesota, analisou diversas adolescentes e concluiu que as mulheres que abortam estão mais propensas a ter câncer cervical. No mesmo estudo, foi detectado que as chances de ter câncer no fígado e câncer de mama, no caso de uma mulher que já abortou, também são maiores se comparadas às chances de uma mulher que não se submeteu a esse tipo de procedimento.

Infelizmente, o tema passou a ser muito politizado, trazendo informações tendenciosas que passam longe de acolher a mulher, quem dirá o embrião. O documentário Hush aponta uma investigação à saúde da mulher e os dados que são ocultados em razão da batalha política envolvendo o aborto. O filme foi dirigido por um cineasta canadense, que é a favor da liberdade de escolha da mulher entre realizar ou não o aborto. Dentre os diagnósticos trazidos, há uma análise do histórico do sistema reprodutivo da mulher e os riscos de câncer. O objetivo é promover o progresso feminino e auxiliar uma conversa saudável e honesta no âmbito político.

Quanto aos procedimentos médicos, o aborto está entre os poucos procedimentos que recebem tão pouca atenção. Quando vamos passar por qualquer procedimento, por mais simples que seja, buscamos saber quem é o médico, o hospital e boas indicações. Enquanto, em um aborto, a mulher praticamente encontra com o médico apenas poucos minutos antes da cirurgia.

As consequências físicas desse ato passam por transtornos alimentares, desmaios, dor de cabeça, tiques, perda de força, dormência vaginal, suores, infecções pélvicas com sangramentos que requerem transfusões e cirurgia de emergência, gravidez ectópica, acidentes anestésicos, esterilidade e também a morte.

Dentro de todo esse cenário, não há nenhuma vantagem, nem para a mãe que se submete a um procedimento explorador e com consequências futuras, nem para o bebê, que não resiste. Os únicos que tiram vantagem dessa situação são as clínicas, que lucram esse tipo de procedimento, e aqueles que se beneficiam do furto à responsabilidade.

Fica claro que as consequências são as mais diversas para que o tema seja reduzido a uma proclamação de direitos de minorias ou uma questão meramente identitária. Enquanto isso, a mulher, muitas vezes utilizada como objeto de uma pauta ideológica, fica com uma ferida que não curou, que foi e permanece profundamente injusta. A essa mulher que faltou acolhimento.

A maternidade traz uma abertura especial para uma nova pessoa, abertura essa que é própria daquela que carrega um filho. Muitas vezes essa situação não se apresenta da forma melhor esperada. Isso não significa que seja legítimo que se aproveite de uma circunstância de fragilidade para sugerir um ato que vai diretamente contra aquilo que é próprio da mulher. Só uma mulher tem o dom da maternidade, esta é uma parte precisamente sua, por isso um aborto é algo que lhe fere tanto no corpo como na dignidade.

Isso posto, é importante sinalizar que a uma mulher que passou por essa situação, não se deixe superar pelo desânimo. Não desista da esperança. Entenda o que aconteceu e interprete-o na verdade. Se abra com humildade e confiança ao arrependimento.

Referências bibliográficas:

Quando éramos mais femininas, Constanza Miriano

Garfinkel, et al. Stress, Depression and Suicide: A Study of Adolescence in Minnesota, (Minneapolis: University of Minnesota Extension Service, 1986). 10.

Documentário Hush: https://www.reelhouse.org/mightymotionpictures/hushfilm/hush-teaser-trailer?

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Gabriela Vieira
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Colérica sangue nos olhos, apaixonada por uma boa conversa e um cafézinho. Entusiasta quando o assunto é arte, política, literatura, música e filosofia.