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Vereadora, Flávia Borja revela talento inusitado para atriz. Alô, Wolf Maya!

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3 min readJul 21, 2021

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Eleita vereadora em 2020 sob a onda conservadora encabeçada por Jair Bolsonaro, Flávia Borja (Avante) busca agora demonstrar suas habilidades cênicas no plenário da CMBH. A esposa do Fernando Borja, vereador até 2020, com quem tenta emplacar o remake de Bonnie e Clyde do conservadorismo em Belo Horizonte, decidiu investir agora nas artes cénicas. Adianto: as peças medíocres que encena, diuturnamente, dispensariam nota, claro, não fosse os seus pressupostos. No empreendimento de tornar-se atriz, Flávia Borja usa o plenário de palco elisabetano para incitar a violência política.

Sob o pretexto de defender a família — no pior estilo “A enviada!”, só não sabemos exatamente por quem — , a Vereadora pelo Avante tem dobrado a aposta na procura de interditar o debate político na cidade. Desde o anúncio do retorno às aulas na capital em junho, numa decisão monocrática tomada à revelia da comunidade escolar, volta-se a discutir as condições sanitárias necessárias para o retorno seguro das atividades. Com o ciclo de imunização ainda inconcluso, pais e funcionários demonstram preocupação. O justo debate, que vem acontecendo desde o fechamento das escolas no ano passado em decorrência da pandemia, está longe de ter solução óbvia diante das várias consequências para a saúde pública e a formação dos estudantes (sobre o tema, ver Voltar às aulas é seguro? Xepa das 11h #3). Mas Flávia Borja, no que consta, não só não gosta do debate como prefere, sim, o oportunismo diante da apreensão de mães e pais.

A exemplo do vídeo publicado em suas redes na última terça-feira, 13, a Vereadora tem agora um novo hobbie: filmar-se rasgando panfletos dos sindicatos de professores para exibi-los no plenário, sugerindo que os seus seguidores façam o mesmo. Segundo a parlamentar, faz-se ‘terrorismo’ ao se alertar para os riscos à saúde enquanto a cidade, de acordo com o plano Minas Consciente, encontra-se ainda em alerta. E ela não deixa barato: manda às favas a realidade e interpreta o amargo papel da cidadã de bem, com direito a saco de lixo estraçalhado no púlpito, sob o signo forçado da revolta. Que custasse somente conteúdo para os seus seguidores nas redes, menos mal. Podemos decidir não seguir. No entanto, na condição de quem ocupa cargo público, Flávia Borja deve responder aos princípios da convivência democrática. Segundo prevê o art. 27 do Regimento Interno da Câmara, deverá sofrer advertência o Vereador que:

>>> IV — usar, em discurso, parecer ou proposição, expressões que configurem crime contra a honra ou incitem à prática de crimes <<<

Por outro lado, também é claro o § 1º do art. 79 da Lei Orgânica municipal:

>>> É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no Regimento Interno, o abuso de prerrogativa assegurada ao Vereador <<<

O gesto flagrante de incitação à intolerância política — a exemplo do seu colega, Nikolas Ferreira (PRTB) que não conseguiu sequer reconhecer a vereadora mais votada na história da capital mineira — sugere que o seu mandato seja o único investido de legitimidade. Para ela, Flávia Borja, não existe processo político para além das eleições. Associações como as de bairro, sindicatos, representações de estudantes, entre outras que compõem a sociedade civil organizada, são firulas da democracia que, quando menos, não devem ser ouvidas; quando mais, devem ser anuladas. Normalizar a atuação delinquente da Vereadora é esquecer-se que os sindicatos, assim como outras representações de classe, possuem tanta legitimidade política quanto a magistratura e contribuem para mobilização do debate público, sem o qual as democracias não existem.

Resta a pergunta: os demais parlamentares que dividem com ela a mesma tribuna se sujeitarão ao papel de figurantes na peça produzida pelos Borjas?

Flávia deve seguir livre para fluir suas habilidades cénicas, fora da Câmara. No debate público e democrático, no entanto, terá de respeitar os trabalhadores que, ao contrário de muitos, não ganham a vida ou pagam as contas interpretando o papel de — humm… como é que podemos dizer? — enviados por Deus!

Raone Salvador, Estúdio Boa Ideia

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