Guia tático da Copa do Mundo Feminina 2023: Grupo A — Noruega 🇳🇴

Pedro Paulo Batista Brandstetter
Estação WM
Published in
8 min readJul 6, 2023

Uma das seleções mais tradicionais do futebol feminino mundial e que reúne algumas das maiores craques do mundo. Sorteada no Grupo A pelo pot 2 junto a Nova Zelândia, Filipinas e Suíça, chegou a hora de falar sobre a seleção da Noruega.

GRUPO A — NORUEGA 🇳🇴

Visão geral

Quando se fala em referência no futebol, sempre nos lembramos de Brasil, Alemanha, Itália, Argentina, França, entre outras grandes seleções. Mas o futebol europeu da Escandinávia é lembrado apenas por algumas participações memoráveis na Copa do Mundo masculina, mas nunca chegaram de fato a se tornar referência de um futebol de elite. Grandes craques como Zlatan Ibrahimović e Henrik Larsson da Suécia, Peter Schmeichel e os irmãos Michael e Brian Laudrup da Dinamarca, Jari Litmanen da Finlândia e Ole Gunnar Solskjær e mais recentemente Erling Haaland, ambos da Noruega, marcaram época (ou estão marcando) e deixaram um legado para o futebol europeu masculino. Mas sempre ficou no futebol escandinavo uma sensação de que tudo poderia estar um patamar acima, sendo os pontos altos do futebol masculino da região a Euro conquistada pela Dinamarca em 1992 contra a Alemanha e o vice mundial de 1958 para o Brasil de Pelé da Suécia, ambos em solo sueco. A seleção norueguesa, no caso, conseguiu no máximo participar de três Copas do Mundo, sendo o ponto alto a classificação para o mata-mata de 1998 após vitoria sobre o Brasil na fase de grupos. Mas quando se fala do futebol escandinavo feminino, e em especial, da Noruega, a perspectiva é completamente outra. Como o investimento na modalidade na região é alto comparado a outras partes do mundo, o futebol feminino pôde se desenvolver na Escandinávia logo cedo, profissionalmente desde a década de 1970. Donas de uma Copa do Mundo conquistada em 1995 e atualmente na 12ª posição do ranking da FIFA, a Noruega é comandada desde o ano passado por Hege Riise, histórica jogadora da seleção do país sendo a que mais jogou com a camisa norueguesa e sendo também uma das três únicas jogadoras de futebol no mundo a conquistar a Copa do Mundo, as Olimpíadas e a Euro feminina. Riise tem a missão agora de retomar a Noruega aos tempos de glória e colocar sua seleção de volta ao mais alto patamar do futebol mundial.

Histórico

Apesar da fama mundial de ser uma seleção tradicional, a Noruega atravessa um péssimo retrospecto recente para uma seleção de elite. Isso porque desde a Euro do ano passado, as Gresshoppene colecionam amargas derrotas para grandes seleções e vitórias difíceis contra seleções fracas. Não obstante, na própria Euro do ano passado a Noruega fez sua segunda pior participação na história da competição (atrás apenas da Euro anterior, de 2017), sendo eliminada logo na fase de grupos e sofrendo uma amarga goleada por 8 a 0 para as anfitriãs inglesas.

Há anos já com uma seleção “capenga”, os fãs noruegueses se perguntam quão longe eles poderão chegar na Copa do Mundo, competição esta da qual a Noruega foi campeã em 1995 na Suécia (coincidentemente parece que todas as maiores conquistas do futebol escandinavo foram feitas na Suécia). A norueguesa Ann Kristin Aarønes foi a artilheira do torneio e a atual treinadora Hege Riise foi eleita a melhor jogadora da Copa. Além do título de 1995, a Noruega participou de todas as 8 Copas do Mundo até hoje, sendo esta sua nona participação, e conquistando além disso um vice mundial em 1991 na China (perdendo para os Estados Unidos na final), e dois quartos lugares, um em 1999 nos EUA e outro em 2007, também na China. A seleção também é dona de uma medalha de ouro nas Olimpíadas de Sydney em 2000 (onde em uma revanche contra as americanas na final venceram por 3 a 2 na prorrogação) e de um bronze nas Olimpíadas de Atlanta em 1996, conquistado após vitória contra o Brasil. As norueguesas também são bicampeãs da Euro, com um título em casa em 1987 e outro na Itália em 1993.

Hege Riise permanece como o grande nome da geração vitoriosa da Noruega da década de 1990, junto a jogadoras vitoriosas como a zagueira Gro Espeth e a goleira Bente Nordby, as outras duas únicas jogadoras a conquistarem a Copa do Mundo, as Olimpíadas e a Euro. Ann Kristin Aarønes também conquistou o prêmio da Bola de Bronze da Copa do Mundo de 1995 e figurou na seleção das melhores da Copa de 1999.

Mas o que explica a queda tão vertiginosa de uma seleção tão vitoriosa? Talvez os fatores extra-campo e uma má condução do time pelo antigo técnico Martin Sjögren consigam nos dar uma resposta. Em 2017, após a saída de Ada Hegerberg da seleção em protesto à diferença de tratamento entre as seleções masculina e feminina, a federação norueguesa de futebol anunciou que passaria a pagar igualmente as duas seleções. A decisão, apoiada pelo time feminino, foi então duramente criticada por jogadores do time masculino, como o ex-jogador Jahn Ivar Jakobsen, que argumentou que o futebol masculino trazia muito mais patrocínio para a federação do que o feminino, apesar dos péssimos resultados em Copas do Mundo masculinas. Em 2019, porém, quando as jogadoras foram cobrar seus bônus para a subsequente Copa do Mundo na França (que no total representava o triplo do que elas receberam na Copa do Mundo do Canadá em 2015) após reportagem do jornal Aftenposten, que mostrava que o selecionado feminino ainda recebia muito menos que o time masculino, houve um racha nas seleções e protestos intermináveis de Ada Hegerberg, que foram duramente rebatidos pelo astro “golden boy” Martin Ødegaard, que disse que Hegerberg atrapalhava ambas as seleções e que ela deveria se calar. O clima na federação continuou tenso e Hegerberg só retornou à equipe em abril de 2022, com o time já debilitado e passando por dificuldades.

Destaques da seleção

Se Hege Riise é lembrada como uma das maiores jogadoras da década de 1990, hoje em dia Ada Hegerberg é a esperança de gols e títulos para a Noruega. Eleita a melhor do mundo em 2018 pelo prêmio Ballon D’Or, Hegerberg está seguindo os passos de Johan Cruyff e fazendo história com a camisa 14, conquistando inúmeros títulos com o Lyon. Desde sua chegada ao clube em 2014, Hegerberg foi artilheira da Division 1 francesa duas vezes, uma na temporada 2014–15, marcando impressionantes 33 gols, e outra em 2017–18, anotando 31 tentos.

Além de Ada Hegerberg, a seleção norueguesa é recheada de craques como a zagueira Maren Mjelde e a meia-esquerda Guro Reiten do Chelsea, a meio-campo Vilde Bøe Risa do Manchester United, Ingrid Syrstad Engen do Barcelona, e as ótimas revelações Julie Blakstad do Häcken da Suécia, e Anna Jøsendal do Rosenborg da Noruega. A atacante Caroline Graham Hansen, do Barcelona, também é um dos destaques mais importantes da seleção.

Convocadas, estilo tático e provável escalação

O time de Hege Riise, convocado por fim no dia 19 de junho, será o seguinte:

GOLEIRAS

Guro Pettersen (Vålerenga-NOR)

Aurora Mikalsen (Brann-NOR)

Cecilie Fiskerstrand (LSK Kvinner-NOR)

DEFENSORAS

Anja Sønstevold (Inter Milan-ITA)

Mathilde Harviken (Rosenborg-NOR)

Tuva Hansen (Bayern München-ALE)

Maren Mjelde (Chelsea-ING)

Marit Bratberg Lund (Brann-NOR)

Guro Bergsvand (Brighton and Hove Albion-ING)

Sara Hørte (Rosenborg-NOR)

MEIO-CAMPISTAS

Ingrid Syrstad Engen (Barcelona-ESP)

Vilde Bøe Risa (Manchester United-ING)

Guro Reiten (Chelsea-ING)

Thea Bjelde (Vålerenga-NOR)

Amalie Eikeland (Reading-ING)

Emilie Haavi (Roma-ITA)

Frida Leonhardsen Maanum (Arsenal-ING)

ATACANTES

Caroline Graham Hansen (Barcelona-ESP)

Sophie Román Haug (Roma-ITA)

Karina Sævik (Avaldsnes-NOR)

Ada Hegerberg (Lyon-FRA)

Julie Blakstad (Häcken-SUE)

Anna Jøsendal (Rosenborg-NOR)

Até a saída do técnico Martin Sjögren, a seleção norueguesa utilizava um 4–4–2 ou 4–4–1–1 com meias-laterais de velocidade. Guro Reiten é uma jogadora que atua tanto pelo meio-campo como pelas pontas e é uma das jogadoras mais rápidas e habilidosas do mundo. Graham Hansen está voltando recentemente de lesão e foi peça fundamental na final da UEFA Champions League feminina contra o Wolfsburg da Alemanha, quando o Barcelona conseguiu uma virada histórica por 3 a 2 e levantou seu segundo título da competição. A jogadora pode ser peça-chave para o sucesso da Noruega na Copa deste ano, mas ela não joga uma partida pela seleção desde a Euro de 2022. Graham Hansen é uma exímia passadora e faz lançamentos precisos, o que pode ser fundamental para que a bola chegue em Ada Hegerberg. Só na última temporada 2022–23, Graham Hansen distribuiu 6 assistências pelo Barcelona em apenas 13 jogos na Liga F, o campeonato espanhol, e 3 assistências na Champions League em apenas 6 jogos (uma delas na grande final). Além disso, Graham Hansen também sabe finalizar de longe, o que ajudou a atleta a anotar 11 tentos no último campeonato espanhol e 2 gols na Champions League. Confira abaixo o estilo de jogo da jogadora:

https://youtu.be/3EEMVJJZ1tk

Com a chegada de Hege Riise após o fracasso monumental na Euro, a equipe passou a utilizar um 4–3–3 para dar mais liberdade às pontas da equipe, e aí é que entram as participações de Guro Reiten, Emilie Haavi, Carolina Graham Hansen e até a jovem Anna Jøsendal, que alternam o elenco pelas pontas. Reiten, por exemplo, jogou de ponta-esquerda na vitória da Noruega contra a Holanda por 2 a 0, em outubro do ano passado. Reiten dá velocidade ao time, e pode jogar de meia-lateral ou mais avançada, assim como atua no Chelsea. A seleção norueguesa fica pouco com a bola contra grandes seleções, mas sabe se defender bem desde a chegada de Riise, variando o 4–3–3 ofensivo para um 4–1–4–1 para formar as linhas de defesa. Confira abaixo a partida completa do último amistoso entre Holanda e Noruega:

https://youtu.be/Mgs4FK-8efo

Nem Ada Hegerberg nem Caroline Graham Hansen participaram deste amistoso devido a lesões, então formar uma equipe titular das Gresshoppene com a volta das duas principais atletas da equipe exige um pouco de criatividade para encaixar as peças essenciais no elenco, devido ao fato de que elas ficaram de fora a maior parte do ciclo de preparação desde a chegada da nova treinadora. Há dúvidas inclusive de quem deve iniciar a Copa como goleira. Certo é de que a equipe deve vir para a Copa com a linha de quatro defensoras. Mas a Noruega pode vir armada para a Copa do Mundo com a seguinte formação, utilizando um 4–2–3–1 como fez contra a Espanha em abril deste ano:

Provável escalação da seleção da Noruega para a Copa do Mundo Feminina 2023.

Lembrando que Caroline Graham Hansen pode figurar entre as titulares, mas devido à lesão recente pode ser dúvida.

No próximo post falaremos sobre a seleção das Filipinas!

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