Guia tático da Copa do Mundo Feminina 2023 — Grupo A: Nova Zelândia 🇳🇿

Pedro Paulo Batista Brandstetter
Estação WM
Published in
6 min readJul 5, 2023

Faltam oficialmente 15 dias para a Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2023, e o blog Estação WM traz para vocês hoje aquele que deve ser provavelmente o único guia tático de todas as 32 seleções do torneio em língua portuguesa, para que vocês possam acompanhar a Copa do Mundo feminina com os olhares mais atentos possíveis. Esta será a maior Copa do Mundo Feminina da história, não só pelo fato de ser a com mais seleções, onde contaremos com 32 equipes das 6 confederações continentais, mas também pelos valores investidos no torneio. A expectativa é de que o interesse do público pela modalidade cresça no decorrer do torneio, mas existe a apreensão de que a audiência não supere expectativas pelo fato da competição estar sendo realizada em dois países distantes tanto do Brasil como da Europa (principal mercado do futebol feminino), a Austrália e a Nova Zelândia, já que o fuso horário pode afetar a audiência por conta do horário dos jogos. A final será disputada no moderno Stadium Australia em Sydney, que costuma abrigar jogos de rugby, cricket, futebol australiano e futebol. Comecemos então com o Grupo A, formado pela anfitriã Nova Zelândia, Noruega, Filipinas e Suíça, analisando neste artigo a equipe das kiwis:

GRUPO A — NOVA ZELÂNDIA 🇳🇿

Visão geral
A Nova Zelândia é uma equipe que obviamente, sob todos auspícios, domina as competições da OFC. Ano passado, pela primeira vez desde 2003, outra seleção que não as kiwis que conquistou a OFC Nations Cup feminina foi a Papua Nova Guiné, mas isso só se deveu ao fato de que a Nova Zelândia não disputou a competição por já estar classificada para a Copa do Mundo de 2023 (essa competição continental dá direito à classificação para a Copa do Mundo, mas como a Nova Zelândia é o país-sede já estava com a vaga garantida). A Papua Nova Guiné foi então para o playoff intercontinental para tentar uma vaga na Copa, mas foi eliminada de cara para o Panamá. De qualquer forma, a Nova Zelândia domina amplamente a Oceania desde a saída da Austrália da confederação para a Ásia, e isso às vezes se traduz em um nível baixo de competição para as neozelandesas que quando enfrentam seleções mais fortes de outros continentes acabam cedendo. A Nova Zelândia, porém, é uma equipe que costuma ser chata para os adversários por seu estilo de jogo altamente defensivo e baseado em bolas longas para o ataque. A treinadora tcheca Jitka Klimková, que assumiu as Football Ferns em 2021 e estreou oficialmente em uma derrota para a Islândia na SheBelieves Cup de 2022, prometeu dar mais dinamismo para a equipe e mudar o estilo de jogo defensivo das neozelandesas, mas colecionou resultados amargos de lá para cá. Desde sua estreia na seleção, Jitka Klimková tem apenas 2 vitórias em 19 jogos (mais 4 empates e 13 derrotas). A Nova Zelândia ocupa a posição mais baixa de sua história no ranking da FIFA atualmente, ficando com apenas a 26ª colocação.

Liderar uma fraca seleção que nunca chegou à fase mata-mata da Copa do Mundo, que vem de um retrospecto muito negativo e que terá que provar ao seu torcedor que é capaz de ser competitiva jogando em casa será um desafio enorme. Mas para piorar ainda mais, a seleção neozelandesa conta com contusões de jogadoras importantes que as deixaram afastadas por meses durante o período de preparação e que estão voltando pouco antes da estreia da equipe na Copa do Mundo. Dentre elas estão as meio-campistas Olivia Chance (Celtic-ESC), Betsy Hassett (Wellington Phoenix-NZE), Ria Percival (Tottenham Hotspur-ING) e a lateral-direita CJ Bott (Leicester City-ING).

Histórico
Se o retrospecto recente da Nova Zelândia não é bom, o retrospecto da equipe na própria Copa do Mundo é ainda pior. Essa será a quinta participação das Football Ferns no mundial, e nas quatro anteriores (que tecnicamente só foram possíveis após a saída da Austrália da OFC) a equipe nunca conseguiu uma vitória sequer. Em 2007, inclusive, a estreia da seleção neozelandesa na Copa do Mundo foi justamente contra o Brasil, onde uma sonora goleada por 5 a 0 das “Canarinhas” compôs uma das três derrotas sem gols marcados pelas neozelandesas na fase de grupos.

Destaques da seleção
Historicamente, a seleção da Nova Zelândia possui nomes bastante conhecidos do futebol europeu. A atacante Amber Hearn é a maior artilheira da Oceania, e se aposentou anos atrás. A volante Ria Percival, de 33 anos, que disputará a Copa do Mundo deste ano em casa, é a grande estrela da equipe. Percival foi eleita a melhor jogadora da OFC da década passada pela IFFHS. Um nome que disputará a Copa e que merece atenção é o da lateral-direita CJ Bott, mentorada de Percival. A experiente atacante Hannah Wilkinson, do Melbourne City-AUS, é uma goleadora nata da liga australiana e pode ser uma esperança de gols para a Nova Zelândia. A lateral de 24 anos Michaela Foster (Wellington Phoenix-NZE), que atua pelos dois lados, vem sendo uma grande revelação do futebol australiano (o Wellington Phoenix disputa a A-League australiana apesar de ser da Nova Zelândia) e pode figurar entre os principais nomes da equipe na Copa.

Convocadas, estilo tático e provável escalação
Os nomes apontados por Klimková para a disputa da Copa do Mundo 2023 pelas coanfitriãs são:

GOLEIRAS:
Erin Nayler (IFK Norköpping-SUE)
Victoria Esson (Rangers-ESC)
Anna Leat (Aston Villa-ING)

DEFENSORAS:
Claudia Bunge (Melbourne Victory-AUS)
CJ Bott (Leicester City-ING)
Ali Riley (Angel City FC-EUA)
Michaela Foster (Wellington Phoenix-NZE)
Katie Bowen (Melbourne City-AUS)
Elizabeth Anton (Perth Glory-AUS)
Rebekah Stott (Brighton and Hove Albion-ING)

MEIO-CAMPISTAS:
Malia Steinmetz (Western Sydney Wanderers-AUS)
Daisy Cleverley (Køge-DIN)
Olivia Chance (Celtic-ESC)
Betsy Hassett (Wellington Phoenix-NZE)
Ria Percival (Tottenham Hotspur-ING)
Annalie Longo (sem clube)

ATACANTES:
Gabi Rennie (Arizona State Sun Devils-EUA)
Pagie Satchell (Wellington Phoenix-NZE)
Hannah Wilkinson (Melbourne City-AUS)
Grace Jale (sem clube)
Milly Clegg (Wellington Phoenix-NZE)
Indiah-Paige Riley (Brisbane Roar-AUS)
Jacqui Hand (Åland United-FIN)

Como se pode perceber, o selecionado neozelandês feminino é formado majoritariamente por jogadoras do destacado Wellington Phoenix, que disputa a A-League australiana, junto a diversas outras jogadoras da A-League. A equipe de Klimková costuma jogar no 4–3–3, com Ria Percival sendo o cérebro da equipe e com o time apostando em bolas longas para Hannah Wilkinson, jogadora alta de 1,76m. Mesmo com a promessa de mudar o estilo de jogo histórico defensivo da seleção, Klimková continua a apostar em contra-ataques rápidos e uma equipe fechada atrás. Pegue como exemplo o amistoso entre Nova Zelândia e Noruega no ano passado (no vídeo abaixo). A Nova Zelândia entrou no jogo com uma formação de 3–5–2 com uma variação tática defensiva jogando com uma linha de 4 defensoras nos momentos de perda da posse. Mesmo assim, a equipe não foi párea para a qualidade monumental de Ada Hegerberg, e acabou perdendo por 2 a 0. Mas as bolas longas, escanteios dentro da área e lançamentos direcionados para Hannah Wilkinson fazem parte do cerne tático da equipe.

https://youtu.be/PXVChDlk74w

Definir um padrão tático e uma provável escalação para a seleção da Nova Zelândia não é tarefa fácil pois, além de variar o esquema de um 4–3–3 para um 3–5–2 ou 3–4–3 jogo após jogo, a escalação da equipe sempre varia. As laterais também sempre se alternam entre si. Mas podemos chegar a algo próximo à seguinte provável escalação que as kiwis podem usar na Copa do Mundo:

Provável esquema tático da seleção da Nova Zelândia para a Copa do Mundo Feminina 2023.

O único setor do campo em que podemos ter quase certeza que seguirá este molde é o ataque, que normalmente conta com as pontas Paige Satchell e Olivia Chance e a centroavante Hannah Wilkinson (que pode acabar formando dupla de ataque com Satchell). A presença de Ria Percival no time titular ainda é uma incógnita devido à contusão recente, e a craque pode acabar tendo que esquentar o banco por um certo período. Annalie Longo também pode ser opção pelo meio e Katie Bowen pode atuar tanto na defesa quanto no meio-campo.

Os contra-ataques da equipe costumam sair pelas laterais para poder alçar bolas na área, o que dificulta bastante o jogo pelo meio e faz com que constantemente as kiwis percam a bola quando tentam sair jogando por esse espaço do campo. Laterais também são muitas vezes cobrados direto para dentro da área. E aquilo que costuma ser uma arma da seleção neozelandesa acaba se voltando contra si mesma: a equipe possui uma ampla debilidade defensiva de bolas levantadas na sua própria área, como se pode ver pelo amistoso contra a Nigéria realizado em abril deste ano, quando a Nova Zelândia acabou goleada por 3 a 0:

https://youtu.be/timiiHSAC70

Na próxima postagem falaremos sobre a seleção da Noruega, também do Grupo A!

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