Lições do NaNoWriMo 2020

Clube Escrita Livr.e
Estante Livr.e
Published in
4 min readDec 7, 2020

Alerta de post pessoal e vulnerável, se não curtir já pode pular! ⚠️(Falo de mim porque acredito que o meu processo pode ser parecido com o de outras pessoas ou instrutivo).

Quem passou mais de 5 minutos no meu perfil sabe que sou uma entusiasta do NaNoWriMo, ainda que ele seja algo relativamente novo na minha vida.

Além de tudo que já disse aqui no Escrita Livr.e sobre o evento, a cada edição, eu aprendo alguma coisa nova!

Dessa vez não foi diferente, só que foi um tipo de aprendizado BEM menos gostoso

O maior aprendizado desse NaNo é que 🥁:

eu tenho limites.

(Na real, esse é um aprendizado que tá aí batendo à minha porta desde 2018, mas parece que eu ainda não aprendi 🤣)

E ter limites é algo que me dói muito e, com certeza, também dói para muita gente 💔

Vejam bem, na minha cabeça parece perfeitamente razoável (juro) esperar que eu vá escrever um livro em um mês (no caso, 50 mil palavras minimamente coerentes do primeiro rascunho de um projeto), participar de quatro cursos online simultâneos, gerir um clube de escrita, produzir conteúdo para o perfil do tal clube, fazer terapia, brigar comigo porque não estou fazendo yoga como deveria, prosseguir com a pesquisa e escrita do mestrado, retratos digitais por encomenda para ganhar um trocadinho e ainda fazer participar de dois clubes do livro. Sem falar nas tarefas da casa e nos relacionamentos interpessoais (oi, mãe!, oi, namorado!, oi, amigues!), é claro.

Como esse absurdo parece razoável na minha cabeça, uma mera questão de “me organizar melhor”, a frustração de não dar conta de tudo isso é ridiculamente enorme. Não senti como se estivesse errada na premissa “tudo ao mesmo tempo agora” e sim em achar que “sou capaz” e que “são objetivos realmente válidos”. No fim de novembro, eu cheguei ao ponto de pensar “arte para quê?” e, acredite, chegar a esse ponto para >mim< é o equivalente a uma crise existencial, mas felizmente ela foi moderada!

Você possivelmente está pensando que já tinha tudo para dar errado desde o começo e se perguntando como é que eu não previ esse final desastroso. Eu só posso dizer que: eu sou uma completa sem noção 🤣

E eu adoraria dizer que esse NaNo jogou isso na minha cara, me empurrou no asfalto e esfregou bem e aí ficou tripudiando sobre meu semi-cadáver. Mas, a verdade é que quem fez isso não foi ele, fui eu mesma.

O negócio é que se desconhecer e fingir-se sem limites (ou sem erros ou sem incoerências ou sem burrices ou sem vulnerabilidades), é muito mais gostoso e confortável do que admitir que, além de não ser todo mundo, eu também não sou uma versão super-heroína overpower de mim mesma. Eu sou só eu e você também é só você. E tá tudo bem.

No fim das contas, parece que escrever um livro em um mês não é para mim.

Porque eu preciso de mais tempo, aliás, eu preciso não ter um tempo pré-determinado.

Preciso da liberdade de poder caminhar entre os jardins da palavra e os castelos da imaginação e cheirar as flores, provar as frutas, trocar as cores e, de quando em vez, dar uma olhadinha para trás e garantir que não ficou nenhum pedaço de mim faltando. O que quer dizer, em outras palavras, que é preciso (como comentei em um post anterior e na abertura da Estante Livr.e) desfrutar do processo da escrita, porque ele é o verdadeiro tesouro.

Focar no resultado matou o processo para mim, ainda que eu lembrasse que era importante me divertir no caminho. Pensar no pote de ouro ao final do arco-íris, só serviu para me deixar ansiosa e incapaz de aproveitar a magia e a beleza de estar andando na porr@ do arco-íris!

Com esse NaNo, eu aprendi que tenho limites, aprendi que preciso viver o processo e esquecer um pouco da meta se não quiser enlouquecer e RELEMBREI porque e como e o tanto que eu amo escrever.

Por mais que eu me divertisse com write-ins e word crawls e adorasse preencher as palavras escritas no dia e ganhar adesivos lindinhos no site, eu não estava 100% presente no ato de escrever e isso não me deixava sentir 100% desse amor.

Querendo ou não, um pedaço de mim estava no futuro e outro estava voltado para pensar no número de palavras, na média diária, se esssa média estava boa para chegar ao final ou não. A escrita não pôde habitar meu ser naqueles momentos, então foi tudo meio que por água abaixo: eu parei de escrever e o melhor do NaNo (mobilizar forças criativas para a escrita com mais dedicação/compromisso), se perdeu.

Então… foi mais ou menos isso que aprendi com o NaNoWriMo de 2020. Isso não quer dizer que eu vou parar de falar e de incentivar as pessoas a participarem, muito menos que não vou mais participar. Mas agora eu vou lembrar de criar meu próprio molde, porque eu não preciso provar nada para ninguém e, principalmente, eu não preciso provar nada nem para mim mesma.

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