Foto de uma mulher comendo um sanduíche com muita vontade

Você sabia que a alimentação e a ansiedade têm relação?

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Estar Bem
5 min readSep 14, 2020

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Por Taila Freitas Xavier

Os alimentos estão frequentemente envolvidos em gatilhos e sintomas relacionados à nossa saúde.

Considerada como sendo o mal do século, a ansiedade é complexa e cheia de detalhes, agindo como uma emoção negativa, que acarreta sentimentos como medo e angústia constantes, além de apreensão com o futuro.

A ansiedade está entre os transtornos mais comuns observados. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo inteiro, afetando 9,3% dos brasileiros. E o quinto em casos de depressão, com 5,8% da população acometida.

Sendo relacionado à alta ocorrência de psicopatologias tanto na adolescência quanto na fase adulta, conforme o estudo “O que é e como fazer”, o transtorno de ansiedade se diferencia da ansiedade chamada adaptativa e do medo, que são reações “normais” quando na medida certa, por vir em excesso e de maneira persistente.

Segundo os autores Charmandari et al., Oliver et al. e Bosa. V. L, a ansiedade também pode estar relacionada ao estresse, principalmente de forma crônica. E, muitas vezes, a exposição ao estresse agudo ou crônico pode modificar alguns comportamentos, levando ao surgimento de alguns tipos de distúrbios, dentre eles, os alimentares.

No tipo agudo, ocorre uma resposta chamada de “luta ou fuga”, que tem como resultado a omissão do apetite, caracterizada como instantânea, ao contrário do que ocorre na forma crônica, que nos leva a consumir mais alimentos com maior densidade calórica.

O emocional pode afetar o comportamento alimentar. E sem nos darmos conta, a ansiedade agrava-se, juntamente com o estado de saúde.

A ansiedade leva algumas pessoas ao consumo exagerado de alimentos, principalmente daqueles que são pobres em nutrientes e ricos em açúcares adicionados, gorduras saturadas, grande quantidade de sal e conservantes, de forma a compensar o estresse e a ansiedade. Dado ao fato do processo de escolha, frequência e quantidade de alimentos a serem ingeridos, em muitos casos, ser mediado também pelas necessidades psicológicas do indivíduo, conforme relata o escritor Sales.

Pois não se pode esquecer que o “comer” envolve diversas outras razões, não só as necessidades biológicas. Comida é também prazer, comunidade, família, espiritualidade, relacionamento com o mundo natural e expressão de uma identidade.

Porém, existem métodos que podem auxiliar nas mudanças dos comportamentos alimentares, como a nutrição comportamental. Saiu na Revista Cientifica Univiçosa que ela considera todos esses aspectos emocionais, fisiológicos e sociais da alimentação e propõe uma mudança através de estratégias de aconselhamento nutricional, terapia cognitivo-comportamental e táticas para comer com atenção, com acompanhamento de nutricionista e psicólogo.

Apesar da grande quantidade de informações sobre alimentos e dietas disponíveis em diversos meios, como a internet, as pessoas continuam enxergando a comida como inimiga. A nutrição comportamental tem como objetivo mudar essa relação, fazendo com que as pessoas sintam prazer (e não culpa) em comer.

Uma das técnicas abordadas com os pacientes é o mindful eating, que significa comer com atenção plena, concentrando-se assim ao que estamos colocando na boca e aproveitando a refeição de forma mais saudável e saborosa.

A primeira edição do livro Nutrição Comportamental fala exatamente sobre essa técnica e abaixo resumimos 10 passos para você iniciá-la em sua casa:

1 - Desconecte-se: quando for realizar uma refeição, desligue a televisão e deixe o celular e/ou notebook de lado;
2 - Prepare-se para comer: sente-se de uma maneira com que a coluna fique ereta, respire fundo e observe com um olhar curioso os alimentos;
3 - Delicie cada mordida: preste atenção no cheiro, na temperatura e na textura de cada alimento;
4 - Feche os olhos em algumas garfadas, para estar mais presente no momento;
5 - Pense na origem e na cadeia produtiva que permitem os alimentos chegarem ao seu prato;
6 - Observe o que você sente: conforto, alegria, satisfação, sabor, etc;
7 - Desligue-se dos julgamentos: sem pensar em calorias e/ou nutrientes;
8 - Aprecie o entorno, onde e com quem você está. Viva o momento!
9 - Tente dar uma nota para sua fome e saciedade;
10 - Finalize agradecendo sua refeição e àqueles que se fizeram presentes.

É importante lembrarmos que a comida sozinha não conserta os problemas de saúde mental. Entretanto, ela é uma parte importante da nossa vida. A qualidade dos alimentos que ingerimos interfere no nosso humor e energia, e está frequentemente envolvida em gatilhos e/ou sintomas relacionados à nossa saúde.

Não só a alimentação, mas também o psicológico, precisam estar saudáveis. Por isso é importante o acompanhamento de profissionais capacitados, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras, para uma estratégia adequada para cada paciente.

Nutricionista Taila Freitas Xavier — CRN 9976P

  1. BRENTINI, L. C.; CARDOSO BRENTINI, B.; ARAÚJO, E. C. S.; AROS, A. C. S. P. C.; SALOMÃO AROS, M. Transtorno de ansiedade generalizada no contexto clínico e social no âmbito da saúde mental. Nucleus, v. 15, n. 1, abr, 2018.
  2. SOUZA, D. T. B.; LÚCIO, J. M.; ARAÚJO, A. S.; BATISTA, D. A. Ansiedade e alimentação: uma análise inter-relacional. In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, 2017, Campina Grande. Anais II CONBRACIS, 2017, v. 1.
  3. SOUZA, M. T.; SILVA, M. D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein, v. 8, n. 1, p. 102–106, 2010.
  4. SALES, L. L. S. Transtornos de ansiedade, estado nutricional e sexo em adolescentes escolares: um estudo transversal. 2017. 42 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Enfermagem) — Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2017.
  5. CHARMANDARI et al. Endocrinology of the stress response. Annu. Rev. Physiol. 2005.
  6. OLIVER et al. Stress and food choice: A laboratory study.Psychosomatic Medicine, 2000.
  7. BOSA. V. L. Ansiedade, consumo alimentar e o estado nutricional de adolescentes. 2010. 116 f. Tese (Doutorado) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010.
  8. POLLAN, M. Em defesa da comida- um manifesto. 1. ed. Rio de Janeiro: Intríseca, 2008. P. 1–272.
  9. SILVA, B. f.; MARTINS, E. S. Mindful eating na nutrição comportamental. Revista Cientifica Univiçosa, 2017.
  10. FERNANDES, H. M. A, FERNANDES, D. C. A, BARBOSA, E.S. Human Condition And Integral Care: A Perspective Of Behavioral Nutrition In The Framework Of Integrality. 2019.
  11. ALVARENGA, M et al. Nutrição Comportamental. 1. ed. Barueri, SP: Manole, 2015. p. 1–549.

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