Como aprender a lidar com erros?

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5 min readJan 8, 2021

Por Mariana Vargas

Mulher com a cabeça baixa, em sinal de frustação, com um computador de trabalho a frente e um celular em que se lê “error”.

“Errar é humano”. Eu já perdi a conta de quantas vezes ouvi essa frase na vida, tenha ela sido dita em uma série, para outras pessoas ou, principalmente, pra mim.

A questão é: todo mundo sabe que errar é humano e que erros acontecem. Mas e quando você se coloca em uma posição (profissional, em relacionamentos, amizades, etc.) em que sente que cada erro seu gerará efeitos estratosféricos e o mundo vai, literalmente, parar de girar? Eu me sinto assim e, em conversas com amigos e colegas, percebo cada vez mais que não sou a única.

É uma coisa engraçada, mas levou 3 anos de terapia para eu descobrir que sou perfeccionista. Foi engraçado porque, quando eu contei a novidade pra algumas amigas, elas me responderam que esse traço meu era óbvio pra elas.

Acontece que pra mim foi uma descoberta mesmo, porque NUNCA tinha passado na minha cabeça que a minha necessidade de que tudo estivesse certo, sem nenhum erro, impecável, com todas as decisões certas tomadas era perfeccionismo. Eu sempre associei esse comportamento à ansiedade, uma velha conhecida por essas bandas.

Perfeccionismo, pra mim, era uma pessoa que passava horas e horas corrigindo pixels, rearrumando gavetas, tentando deixar o texto mais perfeito possível… talvez eu estivesse confundindo com TOC. E não associem a demora da descoberta a alguma falta de habilidade do psicólogo, afinal, quem faz terapia sabe que estamos sempre nos redescobrindo em nós mesmos.

Entender que eu sou perfeccionista foi um ponto de virada muito grande pra mim. Aliás, saber que outras pessoas não necessariamente funcionam desse mesmo jeito é MUITO interessante.

Chega a ser utópico pensar que tem gente que não perde noites de sono pensando “mas será que eu usei aquela vírgula do jeito certo? será que eu não esqueci nenhuma regra?” ou que nunca se pega revisando a mensagem 5 vezes antes de enviar, pra conferir se o texto está claro. Ou, até mesmo, que não fica se revirando na cama pensando “eu devia ter feito isso, agora que eu não fiz, vai acontecer x, y, z e até sexta-feira o mundo explodiu por culpa minha.” Tá, eu tô exagerando um pouco, mas não muito. Quem se sente assim vai entender perfeitamente.

O título do texto é um pouco sensacionalista, me desculpe. Mas eu vou te poupar de seguir lendo quebrando a expectativa que eu criei lá em cima: eu ainda não descobri como lidar 100% com erros. A questão que me motivou a escrever esse texto é que eu desenvolvi algumas técnicas para começar a fazer isso melhor. E são elas que eu quero compartilhar. De uma pessoa perfeccionista para outras (que já se descobriram ou não).

Atenção: essas técnicas funcionam para mim, mas não necessariamente funcionarão pra você. Sou uma grande defensora de que todo mundo deveria fazer terapia e, assim como eu, descobrir sobre si mesmo durante esse processo.

“Vou deixar pra me preocupar com isso só se realmente acontecer”

Sem dúvida esse pensamento é o que mais tem me ajudado. É comum a gente se lançar em espirais intermináveis de preocupações, medos, inseguranças com situações hipotéticas que sempre terminam em grandes problemas. Se eu vejo que estou fazendo isso, tento parar, respirar fundo algumas vezes e me convencer de que, se não aconteceu nada disso ainda, é apenas gasto de energia mental se eu ficar me preocupando desde já.

É como se você já vivesse todas as situações ruins mesmo que elas não aconteçam, então, na sua cabeça, elas aconteceram, porque você já gastou sua energia mental nelas! Credo, me senti um coach canastrão escrevendo isso. Mas é basicamente esse o conceito.

“Eu vou cometer erros. Eu só tenho que me esforçar pra minimizá-los.”

Com uma vida cada vez mais atarefada e cheia de responsabilidades, as possibilidades de erro crescem na mesma medida. E se o canto da sua boca tremeu lendo isso, tamo junto. Como infelizmente (e eu digo esse infelizmente de todo coração) nós somos falhos, não existe possibilidade de evitar TODOS os erros. O que está ao nosso alcance é sempre nos esforçarmos para fazer um bom trabalho e nos dedicarmos em qualquer coisa que estamos fazendo.

Parte disso é entender que ainda temos muito a aprender e talvez a decisão que tomamos ontem não seja a mais acertada, porque não tínhamos o conhecimento de hoje. E TÁ TUDO BEM! Sério, eu juro, tá tudo bem.

Eu poderia ficar listando diversos pensamentos que foram surgindo para me fazer lidar melhor com erros ao longo dos anos, mas eu acredito que esses dois resumem tudo muito bem. Agora, só mais um ponto:

Eu fico bem chateada quando tratam o perfeccionismo como algo invejável e que todos deveriam adotar.

Desde que eu entendi porque sou do jeito que eu sou, tem me incomodado que muitas pessoas colocam o perfeccionismo num pedestal. Se você tá lendo até aqui, já percebeu que existe uma faceta que prejudica a saúde mental de uma pessoa com esse funcionamento.

Não é pra sentir pena de mim por ser perfeccionista, eu sei que sou uma ótima amiga, filha, profissional e pesquisadora e que boa parte disso se deve à minha dedicação para que as coisas estejam impecáveis aos meus olhos. Mas é porque eu já perdi inúmeras noites de sono por causa de detalhes bobos que eu reforço: ter pânico de errar e querer que tudo seja perfeito não é saudável, uma hora sua saúde mental vai sofrer.

Em uma sociedade que cada vez mais nos cobra que sejamos sempre melhores e não me parece, sinceramente, muito tolerante com erros (principalmente quando envolve dinheiro), é importante que alguém, aleatoriamente, venha lembrar que tá tudo bem errar. E que se você não lida bem com erros, você não está sozinho. Mas comece a observar isso em você para poder ter uma relação mais saudável com sua própria jornada.

Pra fechar, o melhor de tudo isso é que agora eu vou poder responder de verdade nas entrevistas de emprego que “eu sou perfeccionista” quando perguntarem “quais são os seus defeitos”. Vai ser engraçado.

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