5 pequenas coisas que me surpreenderam em Curitiba

Rápidas impressões sobre uma cidade da qual eu não esperava nada

Fabio Bracht
Viagens e histórias

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A lista de cidades que eu adoraria conhecer é relativamente longa, mas não incluía Curitiba. Primeiro porque eu já havia passado dois ou três dias lá (em 2006, na ocasião do show do Weezer no Brasil), segundo porque, sinceramente, nada me chamava atenção do ponto de vista turístico.

Não tem a beleza de Florianópolis, os contrastes sociais do Rio de Janeiro, a boemia característica de Belo Horizonte ou a exoticidade cultural de Manaus. Mesmo ouvindo elogios de pessoas próximas que amam a cidade, nunca enxerguei em Curitiba algum atrativo claro, uma característica específica definidora que me fizesse querer conhecê-la.

Talvez por isso mesmo tenha sido uma bela escolha de destino.

Quando um grande amigo me convidou para acompanhá-lo numa viagem curta que ele faria para lá, eu não tinha nenhuma expectativa a ser atendida ou decepcionada. Havia somente espaço para surpresas.

A seguir, as coisas que me surpreenderam.

As cores

Ao contrário de São Paulo, Curitiba parece que tem medo do cinza.

Fora o asfalto e o céu (que infelizmente ficou nublado praticamente o tempo todo enquanto estive lá), praticamente tudo tem cores fortes. Há canteiros de todos os tipos de flores em qualquer lugar da calçada onde canteiros pudessem ser enfiados. O Museu Oscar Niemeyer é uma enorme estrutura sobre uma base tão amarela quanto um girassol particularmente saudável.

Nas ruas, os táxis são pintados num tom de laranja bem forte, alguns ônibus são completamente amarelos ou verdes, e os carros — sempre na tríade “branco, preto ou prata” em São Paulo — lá se arriscam também por tons de vermelho, rosa, berinjela.

Isso sem falar do verde dos diversos parques, que é a cor que realmente dá o tom da capital do Paraná.

Capricho e detalhismo comercial

Em São Paulo, eu vou a um restaurante chinês discreto e frequentemente sou atendido por um brasileiro que muito provavelmente não sabe mais sobre a cultura chinesa do que o absolutamente necessário para conseguir aquele emprego. Em Curitiba, o restaurante que havia perto do hostel (num bairro normal; não era nenhum Jardins da vida, usando uma comparação paulistana) tinha um tiozinho que recepcionava os clientes e lembrava um Sr. Miyagi. Sem contar que parecia uma casa da China mesmo, com a fachada toda inspirada na arquitetura tradicional. Nada extremamente sofisticado e caro, mas demonstrativo de uma coisa que eu vi na maioria dos estabelecimentos comerciais que passei na frente: uma preocupação com autenticidade.

São Paulo definitivamente não tem essa preocupação. Coloca-se uma plaquinha semi-bonita na frente, dizendo o que é o lugar, e boa. Difícil ver um lugar com uma fachada trabalhada, na qual a gente se sinta bem-vindo antes mesmo de entrar.

Bistrô Monjolo: talvez não seja o melhor exemplo do que eu estou dizendo, mas PQP QUE LUGAR GOSTOSO

Ainda no exemplo de restaurantes (turista come muito fora, né?), lembro de ficar extremamente surpreso quando entrei num lugar de comida portuguesa e quem eu encontro atendendo no lugar? Isso mesmo, uma senhorinha portuguesa de fato, com sotaque e tudo.

A noite

Talvez a coisa mais inacreditável e inexplicável, pra mim, na enorme metrópole chamada São Paulo seja a total falta de uma cultura de música ao vivo. Eu moro na capital há três anos e conheço DOIS lugares onde dava pra ir ver bandas boas de jazz e blues. Um deles fechou faz alguns meses. Rock? Às vezes tem alguma coisa nos SESC ou no Centro Cultural Vergueiro, mas nem de longe é suficiente. Em casas noturnas? Esquece. Indie Rock? Esquece. Bandas novas? Não sei cadê. O Beco 203 costumava ter shows de ótimas bandas cover durante a semana quando era uma casa nova. Parou. Não existe um lugar em São Paulo onde eu possa ir para conhecer alguma banda nova, confiante de que quando eu chegar lá vai estar tocando algo minimamente legal. Não sei como pode isso numa cidade do calibre cultural de SP.

E mesmo nas baladas sem som ao vivo, parece que as pessoas se contentam com três personalidades do Twitter dando play em setlists montados com base nas listas de trending do Last.fm dos amigos deles + o que sempre tocam e ninguém reclama. É sempre o mesmo setlist, intercalando Phoenixzzz e Franz Ferdinandzezzz e The Killerzzz e Fosterzzz The Peoplezzz e um monte de Arctic Monkeyzzz. De vez em praticamente nunca é uma discotecagem decente, com um mínimo de mixagem, sem silêncio entre uma música e outra. É literalmente alguém dando play numa playlist do iTunes, e a gente paga meio caro por isso.

Foto que achei na internet do 92 Graus: não era essa banda que eu vi, mas tava massa

Em Curitiba, infelizmente só consegui ir a dois lugares. Os dois foram por acaso e sem nenhum conhecimento prévio. O primeiro era um pub com cerveja e hamburguer artesanal a preços justos, onde estava tocando a banda de surf/punk mais animal que eu já vi na vida, com músicos impressionantes. Depois tocou uma bandinha de ska ótima, cheia de personalidade, que botou todo mundo pra dançar (até o meu amigo, que não curte ska). O segundo foi uma balada bem mais tradicional, dessas tipo Augusta, mas com um DJ que sabia o que estava fazendo, não deixou a pista em silêncio um segundo, e colocou um monte de músicas perfeitas que eu nunca ouvi tocando por aqui.

Os nomes desses lugares são 92 Graus e Soviet. Cadê o 92 Graus e o Soviet de São Paulo?

Os curitibanos

O morador de Curitiba tem uma fama tão forte de ser fechado e antipático que eu já fui esperando um bando de parisienses. Mas a fama é completamente injusta (assim como a dos parisienses, dizem).

Absolutamente todos os locais com quem eu tive qualquer tipo de interação foram absolutamente simpáticos e prestativos. Quando eu fiquei meio confuso sobre um itinerário de ônibus, uma senhora me acompanhou até o ponto certo. Quando eu fiquei feito um trouxa tentando abrir a porta errada de um banco, um cara me avisou que por algum motivo aquela porta não funcionava mesmo e eu teria que entrar por aquela outra. Quando eu queria almoçar mas só achei um botequinho que vendia lanches, perguntei pra dona do lugar, e ela não só me deu dicas de três lugares próximos (essencialmente concorrentes dela), como me desejou uma boa refeição.

Talvez o segredo seja começar as interações com “desculpa, eu não sou daqui e não conheço direito essa cidade tão linda onde você mora, você poderia me ajudar”?

No fim, talvez o que mais me surpreendeu foi voltar pra casa com vontade de voltar a Curitiba assim que possível.

Por essa eu não esperava.

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Fabio Bracht
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