Nem Darth Vader nem Hannibal. Maior vilão do cinema pode ser a oscilação de público

Instabilidade nas bilheterias pode ter mais elementos envolvidos além do conforto do streaming.

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EstiloGeek
5 min readJul 31, 2023

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Amo ir ao cinema. Desde criança lembro claramente a expectativa na fila, passar pelos balcões de doces, ver os pôsteres dos próximos lançamentos, até chegar naquela sala enorme, se acomodar na poltrona e aproveitar aquele instante em que as luzes se apagam enquanto a tela ganha vida.

Algumas sessões foram inesquecíveis e fundamentais pelo meu interesse por diretores, roteiristas e atores. Me recordo nitidamente da sensação de estar na poltrona de O Rei Leão (1994), Titanic (1999), X-men (2000), Harry Potter (2001), Homem Aranha (2002), Avatar (2009), Vingadores (2012)

Toda programação de lazer envolvia idas ao cinema (com algumas sessões no mesmo dia). Já adulto, tinha o costume de ir quase semanalmente ao cinema perto de casa, até que veio a pandemia e pela primeira fiquei mais de 1 ano sem pisar na sala escura. Desde então, alguma coisa aconteceu… Em 2023, mesmo sem o risco do vírus e muito interessado em alguns lançamentos, achei melhor esperar para assistir depois, quando saíssem no streaming.

Não sou o único. A pesquisa do instituto Boca a Boca já indicava uma queda de 80% para 34% no percentual de brasileiros que iam ao cinema mensalmente em 2022. Cerca de 61% do público retornou ao cinema depois da pandemia, o que indica que uma boa parcela simplesmente abandonou essa opção de lazer, mesmo sem os riscos sanitários.

Essa mudança, claro, já reflete nas bilheterias deste ano, que oscilaram entre sucessos astronômicos (Super Mario, Barbie) e alguns flops que surpreenderam até as projeções iniciais, especialmente entre franquias milionárias, remakes e retomadas de personagens clássicos. 2023 já conta com 15 fracassos até o momento.

O que teria causado esse desinteresse coletivo pelo cinema? Pensei algumas possibilidades para tentar entender esse cenário ⬇

▶ Custo dos ingressos de cinema

“Qual dia o cinema é mais barato” é uma das pesquisas mais frequentes realizadas no Google. Ok, sabemos que grande parte das pessoas (legalmente ou no truque) consegue algum tipo de promoção para não pagar o valor cheio, mas que mesmo assim equivale ao preço da assinatura mensal de um serviço de streaming, com conteúdo para toda a família.

A ida ao cinema, frequentemente, também envolve outros gastos, como transporte, estacionamento, alimentação, o que pode tornar o passeio caro para quem planeja ir acompanhado.

Questões Técnicas

Quase todas minhas últimas sessões sofreram algum problema técnico: tela muito escura, som muito alto (ou muito baixo), cadeiras desconfortáveis, visão prejudicada… Nem sempre a estrutura promove a imersão necessária para nos sentirmos envolvidos pelo o filme, o que pode até prejudicar a avaliação da obra.

As sessões legendadas também se tornaram um artigo de luxo entre os cinéfilos. Há poucos horários disponíveis, muitas vezes depois das 21h ou naquelas salas VIP, em que você pagará três vezes mais caro para curtir o mesmo filme (e ainda sofrer com algum problema técnico).

▶ O comportamento do público

Não sei em que momento se tornou comum incomodar as pessoas ao redor das poltronas, como um senhor que passou 2 horas respondendo mensagens nos WhatsApp ou uma adolescente que não saiu dos Stories durante a sessão. Outro dia, um casal se sentiu à vontade para conversar do começo ao fim do filme, comentando em alto som cada cena que aparecia.

O problema já gerou até brigas pelo uso de celulares por crianças dentro das salas:

Fonte: f5.folha

Sou do tempo que se havia um grupinho mais animado, logo vinha o lanterninha para acalmar os ânimos. Especialmente pelo preço do ingresso, ter a sessão estragada pelo brilho do celular da pessoa na frente ou pelo casal que não consegue conversar baixo é realmente frustrante.

▶ Rivalidade entre os lançamentos

Por parte dos estúdios, talvez haja um problema na divulgação dos filmes e, principalmente, nos calendários de lançamentos.

The Flash, Elementos, e até o veterano Indiana Jones sofreram com campanhas de divulgação confusas, que depois não correspondiam ao tom do filme. Não adianta vender um trailer de comédia se depois a produção é um romance. O público hoje está mais atento aos comentários nas redes sociais, críticos e amigos. Qualquer comentário negativo já pode ser esfriar as expectativas.

Deixar todos os lançamentos concentrados entre maio e julho talvez não faça mais tanto sentido. Super Mario fez um grande sucesso em Abril e Barbie só conseguiu a avalanche nas bilheterias por uma campanha de marketing impecável, que gerou hype em diversas bolhas com meses de antecedência.

▶ O conforto do streaming

Ok, o consumo de filmes em casa sempre aconteceu com o VHS, DVD ou canais de TV, mas durante a pandemia o público se acostumou a esperar só algumas semanas para ter os lançamentos disponíveis no conforto de casa, o que causou uma nova percepção de custo-benefício.

Assistir aos filmes no idioma desejado, no melhor horário, sem pessoas conversando ao redor, sem gastos desnecessários e com o conforto do próprio sofá é um atrativo bem difícil de ser superado. Especialmente por filmes que não empolgam nas críticas ou reações, o streaming sai ainda mais em vantagem, com a tendência de deixarmos para as telonas apenas os grandes blockbusters.

✔ Por que precisamos ir ao cinema, afinal?

A pesquisa “Across the Movie-Verse” da Variety indica que trabalhadores da indústria cinematográfica já não acreditam que os níveis do cinema voltarão aos patamares antes da pandemia.

A preocupação é que sem a adesão do público, grandes estúdios não invistam mais em histórias originais, o que geraria ainda mais derivados de super-heróis, live-action de desenhos clássicos, remakes, prequells, spin-offs e continuações desgastadas que já estão inundando as telas. O resultado? Streamings ainda mais fortes e salas cada vez mais vazias.

Eu fico feliz que você goste de assistir esses filmes na sua casa, mas não assisti-los nos cinemas infelizmente significa que não vamos mais fazer esses filmes”, indicou pelo Twitter Cat Hicks, diretora de animação da Pixar. Peter Docter, CEO do estúdio, também reforça que a Pixar e a Disney acostumaram o público a esperar os lançamentos pelo streaming durante a pandemia, mas que a falta de adesão nas salas pode resultar na redução de histórias originais. “O mundo parece querer o conforto do que eles conhecem… Mas todas essas coisas foram originais em um ponto”, indica Docter.

Embora assistir aos lançamentos sem sair de casa seja conveniente, valorizar a experiência coletiva do cinema talvez seja uma resistência para que os estúdios continuem investindo em momentos inovadores nas telonas, especialmente dos nossos gêneros preferidos. Da próxima vez que pensarmos em deixar o filme para depois, é importante fazer o esforço e se lembrar da imersão que só a sala de cinema pode proporcionar. Na sua próxima sessão, valorize esse momento enquanto ele ainda é possível.

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Tentando ser FASHION, aficionado pelas novidades POP e apaixonado pelo universo GEEK. “Cher acima de tudo, Madonna acima de todos.” 🏳️‍🌈🕶️