RIP mídia física: Colecionadores brasileiros foram abandonados?

CDs e DVDs estão entre artigos de luxo e peças de museu.

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EstiloGeek
5 min readFeb 14, 2023

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Não faz tanto tempo e era bem comum sempre haver uma caixinha de presente no formato de CD ou DVD nos aniversários e festividades. Para colecionadores, inclusive, parte do lazer era percorrer as lojas com corredores lotados de edições especiais de álbuns e filmes, para todos os gostos.

Pouco a pouco, as lojas foram fechando, os preços aumentando e as pessoas se desfazendo rapidamente de suas coleções em troca de plataformas de streaming que prometiam mais praticidade e grande variedade nos conteúdos.

Hoje, comprar um CD ou DVD é um hábito restrito ao nicho dos colecionadores, um anacronismo, julgado quase como acumuladores, sob a alegação de que ‘tudo está on-line’.

Cada vez mais associados com itens de museu, colecionadores brasileiros têm que responder cada vez mais a questão: por que ainda comprar um CD ou DVD?

O streaming acabou com a mídia física?

O recente anúncio da Cinecolor Brasil de não seguir com os lançamentos em Bluray e DVD da Universal e da Warner no Brasil parece ter sido o último prego no caixão da mídia física nacional. Uma mudança que já dava sinais de desgaste dede quando a Disney deixou de comercializar esses itens no país em 2020, em prol da divulgação do próprio streaming, o Disney +.

Se agora parece quase impossível seguir com a aquisição de novos itens nacionais, é preciso lembrar que o mercado de mídia física tem outros culpados além da Netflix. Os itens nunca foram realmente acessíveis no Brasil, com lançamentos caríssimos, restritos aos presentes em ocasiões especiais. Cenário que não se repete em outros países: o DVD ainda representa mais de 50% das vendas de mídia física nos Estados Unidos, onde já foram lançados mais de 200 mil títulos, um sucesso resultante do equilíbrio entre preço, qualidade de imagem e facilidade do acesso.

Para o Jotace, outro motivo que pode ter apressado o fim da mídia física no Brasil foi a ‘guerra’ de formatos entre Bluray e o DVD, já que edições diferentes do mesmo conteúdo (simples, duplo, 3D, steelbook, 4k) dividiram o mercado ao invés de unificá-lo. E, sejamos sinceros, fora os poucos interessados pela área, a maioria das pessoas prefere assistir um filme ou ouvir música com pouca qualidade, direto do celular, do que investir em diferentes aparelhos para curtir um conteúdo em alta definição, 3D, 4K e som surround.

Por que insistir com as coleções? 💿

Para quem insiste em manter as coleções há um motivo além do saudosismo: nenhum serviço de streaming é fixo, uma vez que há uma constante mudança de planos e preços e, principalmente, conteúdos que podem ser editados ou retirados do sistema. Sua música ou filme preferidos podem simplesmente ‘sair de catálogo’, sem aviso prévio.

O conteúdo on-line também depende diretamente da qualidade da conexão do usuário. Dessa forma, tanto as músicas quanto filmes podem ficar travadas durante a transmissão ou sofrerem efeitos ‘pixelados’ quando não encontramos uma boa rede, efeito que não existe na mídia física.

Se no começo o streaming até parecia mais vantajoso pelo preço e catálogos bem variados, hoje com dezenas de aplicativos e conteúdos ‘exclusivos’, a pessoa que deseja se manter bem atualizada tem que assinar diversas plataformas, que quando reunidas representam um custo mensal expressivo e cada vez catálogos mais restritos e desinteressantes. Muitas vezes, há o mesmo filme em vários aplicativos, enquanto outros lançamentos ficam restritos ao aluguel on-line (ou aos torrents da vida).

Há também uma questão afetiva envolvida, de tirar um tempo para organizar a coleção, ouvir ou assistir um conteúdo sem interrupções, olhar as informações adicionais nos encartes… Mesmo na hora de comprar, apesar a praticidade on-line, percorrer as lojas garimpando prateleiras e gavetões é um prazer para os colecionadores, com muitas surpresas pelo caminho.

Para mim, que sempre vi e revi meus filmes preferidos (alguns até anualmente), a mídia física dá uma sensação de conseguir desfrutar desse momento de forma completa. Não é só apertar um botão, mas aproveitar todo o contexto que essas produções oferecem.

Qual o futuro da mídia física no Brasil?

Apesar das dificuldades e falta de interesse geral, é provável que os CDs e DVDs sigam o mesmo caminho do vinil no Brasil, com lançamentos em tiragem limitada, quase como artigos de luxo, produzidos especialmente para os fãs. Ou mesmo as pequenas lojas on-line que importam edições de outros países, mesmo que seja com preços exorbitantes.

Um pouco mais acessível (e ilegal), há também o crescimento do mercado dos itens ‘autorados’. Diferente das antigas cópias piratas, de péssima qualidade e erros grotescos, os autorados são produções de fãs para fãs, muitas vezes com conteúdos que não foram comercializados no Brasil ou já saíram de catálogo, incluindo até materiais extras, como entrevistas, making-off e trailers. Apesar de não ser legal, o mercado de autorados só mostra como há caminhos para a mídia física sobreviver no Brasil, apesar do desinteresse dos grandes estúdios.

Outro fator que pode dar um sopro de esperança aos colecionadores é uma crescente onda ‘analógica’ que começou durante a Covid-19 e está resgatando itens dos anos 2000, como as câmeras cybershots. Em 2020, a venda de vinis aumentaram em 30%, em 2021, foram os CDs que cresceram pela primeira vez em 16 anos. O motivo? Algumas pessoas estão simplesmente se cansando de aplicativos recheados de notificações, filtros, anúncios e oscilações de preço e resgatando itens mais analógicos.

Seja qual for o caminho, a mídia física no Brasil pode não ter o espaço de antes, nem ter mais o apoio dos estúdios, mas ainda terá espaço nas prateleiras (e coração) dos colecionadores. 📀

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Tentando ser FASHION, aficionado pelas novidades POP e apaixonado pelo universo GEEK. “Cher acima de tudo, Madonna acima de todos.” 🏳️‍🌈🕶️