Alexandre F. Nunes
estouindovamosjuntos
2 min readSep 16, 2016

--

O autômato solitário

Assusto-me ao instante em que observo o ser que habita cada um de nós. Sim, pois somos incapazes de modificar sentimentos, criar novas posturas, deixar de ser humano — nem que fosse por algum tempo sequer. Mas ao mesmo tempo abstraio meu sempre ligado lado crítico e reflito: afinal quem, ou melhor, o que, somos? Pergunta eterna com meias respostas. Pergunta tola por não ter resposta. Pergunta sábia por provocar instintos. Pergunta mor que retem saber.

Observo ao meu redor, vejo seres se entreolhando, evitando o saudável relacionar. Solitários. Sozinhos. Com medo. Tudo é ameaça, tudo é artificial, tudo é rotina — rotina estúpida que contraria o óbvio, que elimina o amor. Sinceramente não entendo! No silêncio noturno e no calor do pensamento funcional todos sabem o caminho. Ou, pelo menos, o não-caminho. Mas… A aurora desperta o autômato que reside aqui, dentro. E com ele tudo se repete, tudo dá voltas, o destino se confunde com o caminho e a vida passa…

Passa sem deixar vestígios, passa sem deixar razão e sem aviso prévio. Acorda mundo! Retoma seu caminho! Resgata seus valores sem medo, sem angústia, sem sofrer. Acredita no que lhe diz o escuro e o silêncio. É ali, e não mais que ali, que está a sua vida, seus desejos e sim, porque negá-los, seus temores e incertezas. São eles que temperam, que dão sabor, que torna o viver repleto de sensações dúbias, errantes. Mas é a partir deles que enchemos a carcaça de humano e desligamos, mesmo que aos poucos, a artificialidade e o individual egoísta e traidor.

“Este texto foi escrito em 18/2/2003 e só agora o torno público — os próximos posts formam uma sequência do caminho que me levaria até este blog em 2016, e achei importante postá-los para que este registro aqui ficasse.”

Originally published at www.estouindovamosjuntos.com.

--

--