O lamento das palavras
Meus escritos são meus lamentos… Aqui registro o que não posso expressar diferentemente, limitado que sou no trato diário, bloqueado pela distância colossal entre o que sinto e o que percebo à minha volta. Deixo portanto na branca tela que insiste em me desafiar, todo o sentimento preso e as convicções maleáveis que tanto me assustam.
O impulso de viver só não é maior do que o de compartilhar aquilo que descobri e que aprendo. A sensação de já ter enxergado o caminho a trilhar mas ainda estar preso a estradas "seguras" já percorridas dilacera o sono, perturba o espírito, convoca o corpo. Por algum motivo que insiste em não se revelar adio o inevitável, deixo para depois o que já é.
O plano está traçado, a implementação é lenta, sôfrega. O horizonte se confronta diariamente com a realidade dos passos em sua direção e a percepção do tempo se transforma dentro de sua própria dificuldade. Queria mesmo um acelerador que não cobrasse preço tão alto por me levar além, que me permitisse alcançar aquilo que antevejo mas que demanda etapas. O esforço é alto se medido na escala da expectativa que o antecede. E a certeza de que dificilmente o saberei quando lá chegar e o medo de que tudo se esconda atrás de algum obstáculo inesperado nada contribui para a harmonia interna que tanto desejo.
A solução é renunciar a mim mesmo. Enquanto não o faço, escrevo e lamento.
