Achados e perdidos

Dayanne Dockhorn
Estrangeira
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3 min readDec 17, 2019

Nesse ano-novo, darei um passo atrás. Entramos em uma nova década e eu farei listas que meu eu de 10 anos atrás faria. Não é que eu queira voltar no tempo, nada disso. Já cansei de puxar essa corda. É que quero me encontrar no presente. Me resgatar da seção de achados e perdidos onde fiquei tanto tempo esquecida entre chaves, casacos, carteiras de identidade, óculos de sol e manuais de instrução. É possível criar uma vida inteira com o que você encontra aí, e eu certamente tentei. Mas fingir cansa mais rápido do que qualquer outra coisa.

Então, pensei, se eu tiver que voltar algumas casas pra encontrar novamente o caminho que quero percorrer, que seja. Isso não é uma derrota, é completamente outra direção. Uma direção que eu nunca me julguei ousada o suficiente para tomar. Agora, por favor, não venha me perguntar se tenho certeza de que largar o trabalho para escrever um livro é realmente a decisão mais sábia. Não, não tenho certeza, e provavelmente não é. Mas eu não estou andando pelo caminho mais sábio, ou o mais correto. Não estou nem tentando.

A mundos de distância de ser de ferro, fiz uma lista das piores coisas que poderiam acontecer. Sabe, pra afugentar o medo. Colocar no papel os piores cenários possíveis mostra que, na verdade, a lista não é infinita como parece. A pior possibilidade nem vai me matar. E as chances de que ela realmente aconteça? Minúsculas. Foi aí que entendi que não há certo e errado, só o que se sente bem e o que não. Recebi vários sinais. Decidi pelo que se sente bem. Ninguém me parabenizou, mas eu irei. Parabéns pra mim. Depois a lista oposta: as melhores coisas que poderiam acontecer. Ela é maior. Se eu for passar tantas horas da minha vida trabalhando, então que seja em um trabalho que faça mais do que somente pagar as minhas contas.

A escolha já está feita e meu corpo finalmente anda com a certeza de que esperar leva a vários lugares. É muito cedo para admitir que virei um poço de clichês autoajuda? Só repito aqueles que aprendi sozinha, juro. Mas, honestamente, a espera não é perda de tempo. Ela é a preparação. O aquecimento necessário antes de entrar no campo. As noites em claro antes do 10. Não escuto nada sobre o esforço. A gente gosta é de mostrar resultados. Mas existem 9 meses entre a concepção e o nascimento de um bebê, e graças a deus por isso.

Estive refletindo sobre o ano que já, já termina, como você provavelmente também está inclinada a fazer. Do lado de cá, foi um ano de espera no térreo. Em dezembro finalmente chamei o elevador. É um sentimento diferente. Se eu queria ter chegado lá em cima antes? Sim. Apressar processos é um dos meus maiores talentos. Mas a espera é boa. E esse é um comentário totalmente surpreendente vindo de mim, que nunca soube esperar nada na vida. A espera oferece tudo que você precisa e arranca o resto. Se ganha e se perde.

O plim soou, a porta abriu. Me vi no espelho. Um pouco mais amadurecida, mas tudo bem. Um ano de achados e perdidos te arranha mesmo.

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Dayanne Dockhorn
Estrangeira

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