Extremidades
não lembro mais
quantos verões vivi
nos últimos anos
(às vezes esqueço
se estou acima ou
abaixo
do Equador)
já me encontrei em tantas curvas e esquinas
de Paris
Miami
Lima
que agora só sei
me perder
no raro sol
de Londres
na chuva insistente
de Florianópolis
nas ruelas e becos de uma Lisboa
sempre em obras
(como eu
me acostumei a estar)
não lembro mais
quantos verões vivi
mas guardo em mim
o mundo todo,
cidades que só fazem
transbordar
e pessoas que só deixam-se
escorrer
(e principalmente
aquelas cidades em que
as pessoas são
mais quentes
o clima clama
por água
a língua demora
nas palavras)
quando esqueço de tanta coisa vivida
lembro o doce que é
sentir o universo
apenas começando
bem ali
ao alcance dos dedos
(passear
pelas extremidades
acabou virando
minha maior
especialidade)
e depois de
tanto uso
a pele aceita de bom grado
todas as estações,
mudando religiosamente
de três em três meses
(o visto de estrangeira
só dura
90 dias)