Culto da prosperidade

Lara D'Avila
Estranhos
Published in
4 min readApr 27, 2017

Definição

Estranho= o que se caracteriza pelo caráter extraordinário; excêntrico. o que ou que é de fora, estrangeiro.

Numa viagem antropológica aceitei o desafio de tentar entender o que acontece na frente e por trás das cortinas do Evangeliques Universal.

Como surgiu o interesse na pauta?

  1. Contexto econômico e político no Brasil: Maior recessão da história, crise, desemprego,corrupção desenfreada= consquentemente existe um busca ainda maior por esperança, milagres e amparo.
  2. Prefeito da cidade do Rio de Janeiro faz parte da igreja…
  3. Curiosidade pessoal

Fui com uma amiga de trabalho que também frequentou uma igreja, assim começa a minha experiência.

Entramos ''religiosamente'' as 11:58 da manhã no culto.

Segunda-feira - Culto da prosperidade

São mais de 45 mil m² com pedras trazidas de Jerusalém (inspirado no Muro das Lamentações) construída para acomodar dez mil pessoas. Sentamos ao fundo em meio aos fiéis, o slogan predominantes dizia "Jesus Cristo é o Senhor".

Acredito que a igreja realmente faça um papel muitas vezes ignorado pela sociedade. Lá existe algo que todos procuram: calor humano, tempo e acolhimento. O pastor deixava as palavras no ar para que os fiéis completassem seu discurso. Nos dois telões, o que ele dizia, era reforçado por escrito. Uma espécie de teleprompter exclusivo para os fiéis.

O pastor se expressava de uma forma simples mas ao mesmo tempo persuasiva. Um tipo de oratória que poderia ser assimilada por qualquer um:

“Você quer sair da miséria?’’
“Você quer encontrar um trabalho digno?”
“O seu negócio vai mal?”
“Está morando de favor?”
“A fé é tudo que a gente tem.’’
“Nada é impossível para Deus.’’

Enquanto isso, aproximadamente duas mil pessoas — ou 20% da capacidade do auditório — fechavam os olhos numa concentração de fé, e davam as mãos, repetindo os chavões do pastor.

“MEU DEUS! MEU PAI! ALELUIA!”

A neurolinguística é uma técnica desenvolvida por algumas igrejas evangélicas diferente de outras religiões. Envolvendo a leitura corporal levando aos fiéis sensações de empatia e identificação.

Exemplo:

‘‘Em nome de Jesus, que acenda essa luz na minha vida!’’

“Acenda a sua luz na minha vida para que as trevas sejam decepadas.’’

“Preparei uma lâmpada para o meu ungido.” (Salmo 118)

O chaveiro de luz — (objeto distribuido para os fiéis como símbolo de ligação com a luz divina) “ao acender a lâmpada ela ilumina a sua vida, essa luz está dentro de você por meio da fé. A te leva alcançar o que você quiser.’’

Uma mulher, provocada pelo discurso persuasivo do pastor, incorporou o demônio. Ela se contorcia inteira, com os braços para trás, os dedos tortos, sua voz era rouca e raivosa. Foi bem assustador. Perguntei para minha amiga se era um teatro. Minha amiga me disse que não, já que ela já estava acostumada com aquele tipo de “ritual’’. Me questionei se acreditava naquilo. Mas era inevitável não sentir medo.

Depois do culto, curioso com a nossa presença, o pastor nos recebeu no “gabinete” e deu as suas explicações para o que tínhamos acabado de presenciar.

Mesclando parábolas e citações bíblicas, o pastor justificou a existência do diabo. Segundo ele, era preciso retirar esse “encosto’’ das pessoas. Que o bem e o mal existem. E que muitas vezes ele está presente em nossas vidas e não nos damos conta. Será?

Iniciei os trabalhos, dando a minha primeira oferta de R$ 1,00.

Dízimo: 10% de toda a sua renda mensal.

Segundo a bíblia: o dízimo pertence a Deus (Levítico 27:30, 32). Por isso, eles acreditam que ao contribuir eles estão devolvendo ao próprio.

As ofertas segundo a igreja, são necessárias para construir, manter e operar as igrejas (pagando as contas de limpeza, luz, água), e para empreender a obra médico-missionária, demonstrando o significado prático do evangelho.

Oferta: quanto Deus tocar no seu coração (no caso, quando o pastor estipular persuasivamente no seu coração).

O pastor encoraja a contribuição, mas nenhum volume de dinheiro parece ser o suficiente. Se necessário for, insiste que vendam objetos pessoais ou façam trabalhos extra. Vale tudo para cumprir com as campanhas da igreja.

Enquanto isso, obreiros (ajudantes do pastor) de camisa social e gravata estendiam máquinas de cartão (“débito ou crédito?”), além de sacos de veludo, e envelopes de papel.

O valor estimado pelo pastor era exorbitante: R$ 318 para cada fiel. (um terço do salário mínimo)

O valor simboliza um trecho bíblico que relata a história de 318 homens guerreiros, discípulos de Abrão, conhecido como pai da fé.

É compreensível que os fiéis busquem conforto num lugar de testemunhos de vida onde pessoas largaram as drogas, sairam do tráfico, enriqueceram, deixaram de ser agressivos e se transformaram pessoas brandas.

Foi uma experiência de quase 4 horas, com direito a oração na saída, e um amém tímido, que nos despediu com um convite de retorno para próxima quarta-feira…

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