Guia para ficções interativas
Este é um pequeno guia para pessoas que pretendem começar a jogar ou criar ficções interativas de computador.
Como jogar ficções interativas
Um aviso antes de começar
Embora existam algumas ficções interativas em português (originais ou traduzidas), a enorme maioria delas está em inglês. Isso significa que o acesso às obras de ficção interativa infelizmente é bastante restrito para quem não domina essa língua.
Baixe na internet
Um bom lugar para começar a procurar por ficções interativas é o http://ifdb.tads.org/. Se você quiser jogar no seu smartphone, basta baixar o app Text Fiction, de Onyxbits. Você pode procurar por obras categorizadas por estilo, por dificuldade, por tamanho, etc…
Usando interpretadores
A maioria das ficções interativas não estão disponíveis para jogar direto no navegador ou pelo app. Elas dependem de um programa interpretador para rodar. A linguagem mais usada é o z-code. Mas os interpretadores são pequenos e gratuitos e fáceis de achar. Você pode baixá-los rapidamente, e executá-los sem necessidade de instalação.
Aprenda mais
Veja dicas para iniciantes no site http://brasslantern.org/beginners/ e uma lista muito prática dos comandos mais comuns em http://pr-if.org/doc/play-if-card/play-if-card.pdf. Emily Short escreveu um ótimo artigo sobre como ler ficções interativas aqui https://emshort.blog/how-to-play/reading-if/.
Estrutura
Uma ficção interativa geralmente é composta por secções de texto que se conectam de acordo os comandos utilizados na interação. Os comandos são a representação do que se deseja que o personagem faça. Por exemplo, suponha que o texto seja: “Você está numa sala sem janelas. Há uma porta logo a sua frente”. Você escreve: “examinar porta”. O programa responde: “A porta é de madeira, e está trancada”. E assim por diante. Esse espaço no qual se insere comandos é chamado de parser.
CYOA
Existe um estilo mais simples de ficção interativa, chamada de Choose Your Own Adventure (CYOA) ou livro-jogo, que é mais fácil de criar e jogar, e tem mais exemplos em português. Não tem parser, não é preciso digitar comandos. O programa apresenta as opções e o jogador seleciona na opção que desejar (em geral com o mouse), alterando o andamento da narrativa. Uma das ferramentas mais populares para criar esse tipo de jogo hoje em dia é o Twine. Os jogos feitos no Twine rodam no navegador, e são salvos em formato HTML.
Desenvolvendo ficções interativas
Escolha uma ferramenta
Existem diversos aplicativos para criação de ficções interativas, e maioria não exige conhecimento de programação, mas possuem graus variados de dificuldade de uso e flexibilidade de formatação. O site Cloak of Darkness — getting started in IF é uma ferramenta muito boa para escolher uma ferramenta, pois compara as principais linguagens feitas especialmente para ficção interativa. Emily short também tem um ótimo artigo sobre como escrever ficções interativas: https://emshort.blog/how-to-play/writing-if/.
Crie uma história não linear
Depois de se familiarizar com uma dessas linguagens e testar um pouco com coisas simples, você vai precisar de uma boa história. Mas diferente das ficções tradicionais, a ficção interativa não é linear, portanto a habilidade de imaginar diversos cenários possíveis para cada situação é muito importante. É recomendável ler o código de algumas ficções interativas antes de tentar escrever uma. Exemplos com comentários sobre o processo de criação também podem ser muito úteis. Algumas referências sobre a arte de escrever ficções interativas:
- Twisty Little Passages: An Approach to Interactive Fiction, de Nick Montfort.
- Writing Interactive Fiction with Twine, de Melissa Ford
- Rise of the Videogame Zinesters: How Freaks, Normals, Amateurs, Artists, Dreamers, Drop-outs, Queers, Housewives, and People Like You Are Taking Back an Art Form, de Anna Anthropy.
- IF Theory Reader, de Kevin Jackson-Mead e J. Robinson Wheeler.
- Command Lines: Aesthetics and Technique in Interactive Fiction and New Media, de Jeremy Douglass.
- Writing Interactive Fiction, de Deb Potter.
Boas práticas
Esta é uma lista de dicas para se ter em mente na hora de criar um jogo:
1. Não mate a personagem sem aviso.
2. A solução de um desafio não pode envolver ações completamente obscuras, deve haver dicas razoáveis.
3. Torne o desafio capaz de ser vencido sem o conhecimento de “vidas passadas”, ou seja, sem que seja preciso morrer e recomeçar.
4. Não obrigue a fazer coisas tediosas para vencer o desafio.
5. Não obrigue a digitar verbos muito específicos, use os verbos mais comuns.
Esta lista foi inspirada pela The Player’s Bill of Rights de Graham Nelson.
Originally published at http://contrafatual.com on October 10, 2019.