Jogos que joguei em 2023

Janos Biro Marques Leite
Estudos de jogos
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16 min readJan 16, 2024

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Introdução

Todo início de ano eu faço uma retrospectiva dos jogos que eu joguei durante aquele ano, escrevendo um pouco sobre cada um deles. Eu sinto que isso me ajuda a entender o que e como estou jogando. A presença marcante de jogos poloneses pode ser explicada pelo sucesso de The Witcher. Eu tentei evitar spoilers.

Wolfenstein: The New Order (2014)

The New Order retoma a franquia Wolfenstein, que começou com o jogo Castle Wolfenstein, um precursor dos jogos de furtividade, criado por Silas Warner em 1981. Inspirado no filme The Guns of Navarone, de 1961, o objetivo do jogo original é percorrer corredores e roubar os planos secretos dos nazistas enquanto evita ou desarma os guardas sem necessariamente matá-los. Castle Wolfenstein foi o primeiro jogo de computador a apresentar fala digitalizada e influenciou o desenvolvimento de outras franquias como Metal Gear e Thief.

A franquia foi retomada pela primeira vez em 1991, quando John Romero teve a ideia de fazer uma versão 3D de Castle Wolfenstein. Wolfenstein 3D foi lançado em 1992, um ano antes de Doom, e ficou conhecido por ter estabelecido o gênero de jogo de tiro em primeira pessoa. Foi a primeira aparição do protagonista William Joseph Blazkowicz, um espião americano que descende de judeus poloneses.

Em 2010 a Bethesda adquiriu os direitos sobre a franquia, que estavam sob propriedade da Activision, e um pequeno estúdio sueco criado no ano anterior, a MachineGames, começou o desenvolvimento de Wolfenstein: The New Order. O jogo teve vários problemas técnicos envolvidos. Eu montei meu computador atual especificamente para conseguir jogar esse jogo, e só consegui jogar no ano passado.

Por ter nazistas como os principais antagonistas, ele permite descarregar sua raiva em fascistas e racistas, ainda que num universo de história alternativa. O roteiro é interessante, a ambientação mistura alta tecnologia com elementos sobrenaturais, e a mecânica se firma no combate mais do que na furtividade.

The Old City: Leviathan (2014)

The Old City: Leviathan é um jogo curto, criado por um pequeno estúdio independente, a PostMod Softworks, que criou apenas esse jogo e aparentemente sumiu do mapa. É um jogo de exploração focado na narrativa. Apesar de ter uma pretensão literária, eu sinceramente não me lembro de nada do jogo.

Grow Home (2015)

Grow Home é um jogo de plataforma onde você controla um robô chamado BUD, criado para cultivar uma planta especial, capaz de crescer até o espaço. O principal desafio é escalar a planta enquanto faz ela crescer. O jogo foi criado usando o Unity, e originalmente era um projeto experimental de uma pequena equipe da Ubisoft Reflections, estúdio britânico mais conhecido pela franquia Driver e jogos de corrida. É um jogo divertido com uma leve mensagem ecológica.

Call of Juarez: Bound in Blood (2009)

Call of Juarez é uma franquia iniciada em 2006 por Paweł Selinger da Techland, um estúdio polonês. Bound in Blood é o segundo jogo da franquia e consegue ser um pouco melhor que o primeiro, que eu não consegui jogar por muito tempo. Ambientado durante a Guerra Civil Americana, ele conta a história de parceria e traição entre dois irmãos que escolheram desertar e se tornar mercenários. Foi inspirado pelos filmes Once Upon a Time in the West, 3:10 to Yuma e Appaloosa. O jogo tem a pretensão de tocar em temas delicados como o racismo, a escravidão e genocídio de povos originários, embora ainda reproduza muito machismo e eurocentrismo.

Call of Juarez: Gunslinger (2013)

Gunslinger é o quarto e último jogo da franquia Call of Juarez e o primeiro a vender bem nos EUA. O jogo apresenta figuras lendárias do Velho Oeste, como Billy the Kid, Pat Garrett, Wyatt Earp, Butch Cassidy e Jesse James. Há uma visível melhora na narrativa, que mistura de fato e ficção na medida em que acompanha as histórias sendo contadas por um estranho num cabaré. O jogo muda na medida em que o enredo se adapta aos comentários dos personagens que estão ouvindo a história. Isso enfatiza como as lendas do Velho Oeste misturam mitos e exageros com fatos reais. A inspiração foram os filmes The Man Who Shot Liberty Valance e Little Big Man. O jogo também mostra como a CIA e o FBI tem origem nas agências de segurança privadas que caçavam “foras-da-lei” em troca de recompensas e estavam diretamente envolvidas no genocídio de povos originários, relacionando a violência do Velho Oeste com a violência policial.

Shadow Warrior (2013)

Uma retomada de uma franquia iniciada com o jogo Shadow Warrior de 1997, que segue o estilo de Duke Nukem 3D com um protagonista irreverente chamado Lo Wang, um guerreiro ninja moderno que luta contra hordas de demônios. O jogo de 2013 faz várias referências ao original e foi desenvolvido pela Flying Wild Hog, um estúdio polonês. A mecânica tenta melhorar o uso da katana como arma e o roteiro tentou fugir das piadinhas machistas do jogo original, mas manteve a violência exagerada e sem sentido. O designer Paweł Kowalewski compara este jogo a um gênero de filme que é “tão violento que é engraçado”.

The Vanishing of Ethan Carter (2014)

Desenvolvido pelo estúdio independente The Astronauts, que também é polonês, The Vanishing of Ethan Carter conta uma história trágica misturando os gêneros de horror e investigação paranormal, inspirada pelo conto An Occurrence at Owl Creek Bridge, de 1890. A história do jogo se passa em 1973. Um investigador paranormal chamado Paulo Prospero recebe uma carta de um fã chamado Ethan Carter, um garoto de 12 anos. Prospero viaja para a cidade natal de Ethan e descobre que o menino desapareceu. Enquanto investiga, Prospero se depara com mortes misteriosas ligadas a fenômenos paranormais. A narrativa também evoca a sobreposição de ficção e realidade.

Agent A: A puzzle in disguise (2019)

Agent A é um jogo de quebra-cabeça criado pelo estúdio Australiano Yak & Co usando o Unity e está disponível para dispositivos móveis. O estilo de arte foi inspirado nos trabalhos de Kevin Dart, que trabalhou na versão de 2019 do desenho animado Carmen Sandiego, combinado com um visual dos anos 60. A narrativa também se inspira em Carmen Sandiego na medida em que a vilã está sempre um passo à sua frente.

Human Resource Machine (2015)

Human Resource Machine é um jogo criado pelo estúdio Tomorrow Corporation, que por sua vez é composto por 3 desenvolvedores: Allan Blomquist, Kyle Gabler e Kyle Gray. Como os outros dois jogos feitos pelo trio anteriormente (World of Goo, de 2008, e Little Inferno, de 2012), ele é uma sátira do capitalismo corporativo. Dessa vez a mecânica usa comandos de programação para resolver problemas matemáticos, e a narrativa se foca na precarização do trabalho e nos perigos da automação.

Flower (2013)

Flower é o sucessor espiritual de Flow, um jogo de Flash criado em 2006 pelos mesmos desenvolvedores, o estúdio Thatgamecompany. Este estúdio está focado na criação de experiências artísticas e emocionais para todas as idades. Flower consegue se encaixar nessa descrição ao oferecer uma jogabilidade bastante simples e uma narrativa visual que fala da relação entre o campo e os grandes centros urbanos. O diretor de criação do jogo, Jenova Chen, descreveu Flower como um “poema interativo”. Este jogo está na coleção permanente do museu Smithsonian. Eu joguei com minha sobrinha de 2 anos e ela amou.

Sunset (2015)

Sunset é um jogo narrativo de primeira pessoa criado pelo estúdio belga Tale of Tales. O jogo foi financiado pelo Flanders Audiovisual Fund e por uma campanha no Kickstarter que tinha US$ 25.000 como meta e atingiu US$ 67.636 em apenas um mês.

A protagonista é uma afro-americana chamada Angela Burnes, que está trabalhando na limpeza de um apartamento de luxo de um artista famoso chamado Gabriel Ortega, num país fictício chamado Anchuria, onde ocorre uma guerra civil. Ao longo do jogo, as ações da personagem podem alterar o rumo da história ao influenciar o pensamento de Ortega. Burnes foi inspirada por Angela Davis, Pam Grier e Nina Simone, além da experiência pessoal de Aureia Harvey, da Tale of Tales, como expatriada americana.

O apartamento no qual o jogo se passa é baseado no “apartamento ideal” de uma edição de 1970 da Playboy e no apartamento de Yves Saint Laurent em Paris. A história foi parcialmente inspirada pelo filme coreano de 1994, Chungking Express.

Shadow Tactics — Aiko’s Choice (2021)

Aiko’s Choice é uma expansão independente de Shadow Tactics: Blades of the Shogun, de 2016. Tanto o jogo original quanto a expansão foram criados pelo estúdio Mimimi, com sede em Munique, na Alemanha. É um jogo de combate tático em tempo real, orientado para a furtividade. É ambientado no Japão do período Edo e a expansão se foca no conflito entre a espiã Aiko e sua mentora Lady Chiyo.

Broken Age (2014)

Broken Age é um jogo de aventura desenvolvido e publicado pela Double Fine, um estúdio com base na Califórnia, EUA, fundado por Tim Schafer, criador de Full Throttle e Grim Fandango, logo após sair da LucasArts. Em 2019, a Double Fine foi adquirida pela Microsoft e é agora uma subsidiária da Xbox Game Studios. O jogo foi dividido em dois atos, com o primeiro sendo lançado em 2014 e o segundo em 2015. Uma versão para Nintendo Switch foi lançada em setembro de 2018.

Broken Age teve uma campanha de financiamento público no Kickstarter em 2012, onde arrecadou mais de US$ 3,45 milhões de mais de 87.000 apoiadores, tornando-se o maior projeto de jogo digital financiado pelo público na época. O sucesso do financiamento coletivo ajudou a estabelecer o Kickstarter e outros mecanismos de financiamento coletivo como uma alternativa ao financiamento tradicional de editoras para jogos de nicho. O desenvolvimento do jogo foi registrado em uma série de documentários que estão disponíveis no YouTube.

Broken Age foi desenvolvido na plataforma Moai, usando cenários e personagens de teste para estabelecer o estilo de arte e animação do jogo. Quando o enredo básico foi estabelecido, os artistas conceituais criaram a arte para criaturas e locais do jogo. O segundo ato foi adiado algumas vezes para garantir sua qualidade. O jogo foi lançado para várias plataformas em parceria com a Nordic Games. Vários dubladores de jogos anteriores da Double Fine também dublaram personagens em Broken Age e a trilha sonora está disponível em vinil.

A história é sobre a relação improvável entre Shay e Vella, personagens que aparentemente vivem em realidades totalmente diferentes. A questão racial e de gênero é bastante evidente: Shay é criado num espaço totalmente seguro e alienado da realidade, enquanto Vella está prestes a ser sacrificada num ritual para evitar que um monstro destrua sua vila. O jogo tem uma mensagem antifascista, antiracista e feminista, com uma crítica disfarçada à cultura gamer.

The Dungeon of Naheulbeuk: The Amulet Of Chaos (2020)

The Dungeon of Naheulbeuk: The Amulet of Chaos é um jogo de RPG tático desenvolvido no Unity pela Artefacts Studios, um estúdio independente francês. Seu desenvolvimento contou com o apoio de um fundo de incentivo à cultura do governo francês.

O jogo é baseado numa áudio-série francesa de 2001, chamada Le Donjon de Naheulbeuk, que acompanha um grupo de aventureiros em uma paródia de jogos de RPG de fantasia heróica. Esta foi uma das primeiras séries do gênero a ser disponibilizada gratuitamente na internet, e levou a uma onda de áudio-séries semelhantes em língua francesa. Foi criada por John Lang, que, além de ter escrito e produzido a série, também fez a maioria das vozes dos personagens. A história da áudio-série foi adaptada para quadrinhos, livros e jogos.

O jogo merece elogios pela capacidade de quebrar estereótipos dos jogos de RPG e pelos diálogos cômicos, como por exemplo as brigas entre a elfa e o anão, que discordam em basicamente tudo, ou a improvável amizade entre a maga e o Ogre, que só parece estúpido porque fala numa língua que apenas a maga entende.

Shadowrun: Hong Kong (2015)

Shadowrun: Hong Kong é a terceira e última instalação do jogo de RPG tático desenvolvido pela Harebrained Schemes e baseado no universo de Shadowrun, um RPG de mesa criado em 1989. A Harebrained Schemes tem sua base em Seattle, EUA e foi fundada por Jordan Weisman e Mitch Gitelman, criadores de MechCommander, um jogo de 1998 baseado na franquia BattleTech/MechWarrior. O estúdio foi adquirido pela Paradox Interactive em 2018, mas se desvinculou dela em janeiro de 2024, após o fracasso de vendas do jogo The Lamplighters League.

O jogo também vem com um editor de níveis que permite criar suas próprias campanhas e compartilhar com outras pessoas. Algumas campanhas criadas por fãs são tão boas ou melhores que as campanhas oficiais. Além de campanhas extras, os mods de correção de bugs e patchs não-oficiais podem melhorar vários aspectos do jogo.

Para financiar o jogo, a Harebrained Schemes lançou uma campanha no Kickstarter com uma meta inicial de US$ 100.000, que foi alcançada em algumas horas e a campanha acabou arrecadando mais de US$ 1,2 milhões. O engine foi melhorado em relação aos jogos anteriores, permitindo efeitos de luz nos cenários. A edição estendida foi lançada em 2016 e inclui uma nova campanha, comentário dos desenvolvedores e correções de bugs. A história do jogo se foca no aspecto de horror sobrenatural misturado com ficção policial.

Her Story (2015)

Her Story é um jogo de filme interativo escrito e dirigido por Sam Barlow, britânico mais conhecido pelo roteiro de Silent Hill: Origins e Silent Hill: Shattered Memories. Eu conhecia Sam Barlow pela sua participação na comunidade de ficção interativa. Ele escreveu ficções interativas bastante influentes, como por exemplo Aisle, de 1999. Ele trabalhou na Climax Studios até 2014, quando deixou a empresa para ser um desenvolvedor independente. Em 2017 ele fundou a Half Mermaid, um estúdio com base em New York, EUA.

Her Story é um jogo investigativo, que envolve pesquisa e classificação de videoclipes de entrevistas policiais fictícias para solucionar o caso de um homem desaparecido. As entrevistas policiais são centradas na esposa do homem desaparecido, interpretada pela musicista britânica Viva Seifert. Possui uma narrativa e mecânica não-convencional e um belo desempenho da atriz, sendo indicado para vários prêmios de jogo do ano. O jogo foi financiado coletivamente e lançado em diferentes plataformas simultaneamente, sendo bem recebido em dispositivos móveis.

Loop Hero (2021)

Loop Hero é um roguelike desenvolvido pelo estúdio russo Four Quarters e publicado pela Devolver Digital. O jogo se passa em um mundo gerado aleatoriamente, onde o jogador muda o mundo ao selecionar cartas ao invés de controlar diretamente o personagem. A ideia para o jogo surgiu durante uma discussão sobre jogos sem jogadores. Um dos membros da equipe criou um jogo com um herói vagando em um loop enquanto o jogador construía o mundo em torno dele. O protótipo participou da game jam Ludum Dare em outubro de 2019, que tinha o tema “Start with nothing” (Comece com nada). Embora o jogo não tenha vencido, ele conseguiu o suporte da Devolver Digital. O jogo foi lançado para Windows, MacOS e Linux, e posteriormente para Nintendo Switch.

Loop Hero foi criado no GameMaker Studio, usando gráficos minimalistas e sprites de baixa resolução com poucas animações. A narrativa envolve uma discussão filosófica sobre a relação dialética entre finito, infinito e cíclico; humano, divino e salvífico; começo, fim e recomeço.

Gone Home (2013)

Gone Home é um jogo de exploração em primeira pessoa desenvolvido pela Fullbright, um estúdio independente com sede em Portland, EUA. O estúdio é composto por Steve Gaynor, Johnnemann Nordhagen e Karla Zimonja, que trabalharam juntos na expansão para BioShock 2, Minerva’s Den, de 2010. Durante o desenvolvimento de Gone Home, a equipe trabalhou e morou junta na mesma casa. Após o lançamento, Nordhagen saiu para fundar um novo estúdio, a Dim Bulb Games.

Ambientado em 1995, Gone Home é sobre uma jovem mulher que retorna do exterior para a zona rural de Oregon e encontra sua casa vazia. O que aconteceu pode ser entendido examinando itens, diários e outros objetos, criando uma narrativa não linear. Embora o tema pareça ser horror, a reviravolta revela que o verdadeiro horror era apenas o conservadorismo da família. A narrativa é flexível o suficiente para ser entendida sem necessariamente ver todos os elementos. O jogo foi inspirado pela exploração urbana, especialmente o haikyo japonês, casas abandonadas há muito tempo devido à industrialização.

O protótipo foi criando com o HPL Engine 2 de Amnesia: The Dark Descent, com o qual Gaynor já tinha experiência, e o jogo foi concluído no Unity. O orçamento do jogo foi inferior a US$ 200.000. A arte do jogo foi feita com ajuda da modeladora 3D Kate Craig e sua esposa, Emily Carroll, que é uma artista de quadrinhos. Grande parte da arte do jogo é influenciada pelo movimento riot grrrl de meados da década de 1990. O jogo apresenta músicas das bandas Heavens to Betsy e Bratmobile. A gravadora Kill Rock Stars, sediada em Portland, trabalhou para garantir os direitos das músicas. Depois de mostrar o jogo no Grrrl Front Fest, um festival de música riot grrrl de Portland, o jogo atraiu a atenção de uma banda local, The Youngins, que passou a fornecer a música para a Girlscout, a banda fictícia do jogo. A trilha musical original do jogo foi composta por Chris Remo, amigo de Gaynor e co-apresentador do podcast Idle Thumbs, e apresenta mais de 30 minutos de música que acompanham a jogabilidade de exploração principal do jogo, com músicas exclusivas para cada um dos registros de áudio do jogo.

A questão de considerar Gone Home como um jogo ou não levou à criação do termo depreciativo “simuladores de caminhada” para descrever jogos de exploração com pouca interatividade, mas desde então muitos desenvolvedores têm adotado o termo num sentido positivo.

Legend of Grimrock (2012)

Legend of Grimrock é um RPG de ação desenvolvido e publicado pela Almost Human, um estúdio filandês formado por 4 pessoas. Uma versão para Nintendo Switch foi lançada dia 15 de janeiro de 2024.

O jogo foi financiado pela própria equipe e começou como um clone 3D de Dungeon Master, de 1987, criado como um passatempo entre 2001 e 2004. No início de 2011, os desenvolvedores decidiram expandir o projeto para além de um simples clone e começaram a criar um jogo comercial. Eye of the Beholder e Ultima Underworld também serviram de inspiração. Um editor de mapas foi incluído num update posterior e levou ao desenvolvimento de uma comunidade de mods. Em 2014, um seriado ambientado no universo Grimrock foi anunciado pela pela Wayside Creations (criadora de Fallout: Nuka Break) e financiado pelo Kickstarter , mas nunca foi produzido.

Apesar de ser acusado de ser pura nostalgia, com pouca inovação, o jogo é bem feito e foi bem recebido.

Legend of Grimrock 2 (2014)

Legend of Grimrock II foi originalmente concebido como uma DLC para o primeiro jogo, mas a Almost Human decidiu por fim criar um jogo totalmente novo e expandir as mecânicas do primeiro. O jogo se passa em uma ilha ao invés de uma dungeon, mudando consideravelmente a jogabilidade. O orçamento foi significativamente maior do que o do primeiro jogo, principalmente devido ao tamanho maior da equipe e ao dobro do tempo de desenvolvimento. A narrativa também foi melhorada, mas o ponto forte do jogo é a mecânica de exploração e resolução de combates desafiadores.

This War of Mine (2014)

This War of Mine é um jogo de sobrevivência desenvolvido e publicado pelo estúdio polonês 11 Bit Studios. O jogo foi inspirado no cerco de Sarajevo e outros conflitos. Difere da maioria dos jogos sobre guerra por se concentrar na experiência de civis em vez de soldados. Os personagens têm que tomar decisões difíceis para sobreviver, como por exemplo quem vai se alimentar, quem vai descansar e quem vai sair em busca de recursos. Há vários finais para cada personagem dependendo das decisões tomadas no jogo.

Os desenvolvedores pesquisaram dezenas de relatos de civis sobre a guerra. Charlie Hall, da Polygon, disse que “This War of Mine não é sobre a Ucrânia. Não se trata de um único conflito. Trata-se de todos os conflitos e de todas as pessoas inocentes aprisionadas neles. This War of Mine é sobre Ypres em 1914. É sobre Varsóvia em 1944 e Sarajevo em 1992. É sobre Mogadíscio em 93, Cabul em 03 [sic] e Fallujah em 04. É sobre a Síria em 2013. É sobre Gaza neste momento.”

A versão para Android e iOS foi lançada em 2015. Um editor de cenários foi adicionado ao jogo numa atualização, levando uma boa quantidade de conteúdo criado por jogadores. Uma DLC chamada War Childs foi lançada em 2015 para arrecadar fundos para a instituição de caridade War Child. A 11 Bit Studios disse que doações recebidas foram suficientes para mudar a vida de mais de 350 crianças. Outra DLC, com foco em crianças, foi lançada em 2016.

Para comemorar o terceiro aniversário do jogo, a 11 bit Studios lançou três DLCs baseadas em histórias reais, chamadas This War of Mine: Stories: Father’s Promise, The Last Broadcast e Fading Embers. Essas DLCs possuem narrativas bem mais interessantes que o jogo original.

Jogos que eu não fui até o fim, mas valem a pena ser mencionados:

Warpips (2022), da Skirmish Mode Games, é um jogo de estratégia que faz várias críticas à cultura bélica dos EUA.

Duskers (2016), da Misfits Attic, é um jogo de exploração em que você controla drones recolhendo recursos em naves abandonadas no espaço profundo.

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Janos Biro Marques Leite
Estudos de jogos

Graduado em filosofia, escritor, tradutor e criador de jogos.