Sejamos todos feministas — Chimamanda Ngozi Adichie

Cláudia Flores
estudos feministas
Published in
2 min readNov 8, 2017
Chimamanda Ngozi Adichie, escritora nigeriana

Com versão em português disponível gratuitamente no site da Companhia da Letras, esse texto de leitura rápida (e agradável não fosse a dura realidade de seu conteúdo) é uma adaptação de uma palestra que a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie concedeu em 2012 no TEDxEuston, conferência anual com foco na África.

O livro foi publicado pela primeira vez em 2014, e fala sobre a relação da autora com o pensamento feminista, mas inclui também as particularidades relacionadas à mulher negra inserida na cultura nigeriana. Como alguém que tenta traduzir o conceito de feminismo partindo de seus principais estereótipos, o discurso de Chimamanda me surpreendeu em especial por esse trecho:

A meu ver, feminista é o homem ou a mulher que diz: “Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e temos que resolvê- lo, temos que melhorar”.

Sim, ela considera homens que lutem por essa transformação como feministas também. Vou listar alguns trechos do livro que provocam e são interessantes de compartilhar:

Uma mulher não deve expressar raiva, porque a raiva ameaça. (…) O que me impressiona é o quanto essas mulheres investem em ser “queridas”, como foram criadas para acreditar que ser benquista é muito importante. E isso não inclui demostrar raiva ou ser agressiva, tampouco discordar.

Em todos os lugares do mundo, existem milhares de artigos e livros ensinando o que as mulheres devem fazer, como devem ou não devem ser para atrair e agradar os homens. Livros sobre como os homens devem agradar as mulheres são poucos.

(…) precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente.

Ensinamos as meninas a se encolher, a se diminuir, dizendo- lhes: “Você pode ter ambição, mas não muita. Deve almejar o sucesso, mas não muito. Senão você ameaça o homem. Se você é a provedora da família, finja que não é, sobretudo em público. Senão você estará emasculando o homem.” Por que, então, não questionar essa premissa?

Nós policiamos nossas meninas. Elogiamos a virgindade delas, mas não a dos meninos (e me pergunto como isso pode funcionar, já que a perda da virgindade é um processo que normalmente envolve duas pessoas). (…) Ensinamos as meninas a sentir vergonha. “Fecha as pernas, olha o decote.” Nós as fazemos sentir vergonha da condição feminina, elas já nascem culpadas. Elas crescem e se transformam em mulheres que não podem externar seus desejos. Elas se calam, não podem dizer o que realmente pensam, fazem do fingimento uma arte.

O problema da questão de gênero é que ela prescreve como devemos ser em vez de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas do gênero.

Vale a pena ler o livro, mas quem preferir ver a palestra, tá aqui:

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