O Design Participativo como potencializador de soluções
Muitas das demandas que chegam à Nômade hoje são desafios sistêmicos bastante complexos e diversos. Isso porque não entendemos um problema de forma isolada, numa relação de causa-efeito, no qual uma atitude provoca um efeito isolado, mas sim como fazendo parte de um sistema maior, que envolve diversos elementos. Nesse sentido, implementamos nos projetos a prática da criação conjunta, pois acreditamos que trazendo a participação de mais pessoas conseguimos atingir maior riqueza e veracidade nos projetos. Para que isso ocorra, abrimos espaço para a criação de etapas junto às pessoas que vivem de fato o processo, o ecossistema de envolvidos (cliente, público do cliente, fornecedores, etc.). O resultado é um projeto com maior capacidade de impacto e resultado, beneficiando um maior número de pessoas, trazendo maior valor ao negócio e efeitos positivos.
Podemos dizer, então, que aplicamos em nosso trabalho metodologias vindas do Design Participativo. Uma prática de design onde profissionais com maior experiência em métodos de design trabalham em conjunto com pessoas que possuem menos vivências (pessoas de diferentes contextos, experiências, profissões, interesses e papéis dentro do trabalho), envolvendo-se conjuntamente em processos de co-design ou criação conjunta. Reforçando desta forma a ideia de que todos os atores têm pontos importantes para agregar no projeto, podendo ser criativos e proponentes de soluções para os diferentes desafios.
Os espaços para criação conjunta podem ocorrer em qualquer momento do projeto, tanto na projetação quanto na execução. A Nômade, por exemplo, auxilia a Mercur em seu processo de metaprojetação, uma camada de revisão e análise do projeto, a qual se ocupa da tarefa de buscar aquilo que ainda não se concretizou, desenhando como será construído o projeto e os caminhos alternativos a serem percorridos, antes e durante o processo. Para esta criação propomos encontros no próprio ambiente de trabalho da Mercur, onde a equipe envolvida no projeto deve começar a levantar hipóteses e fatores que o influenciam, desenhando os momentos e etapas, entendendo o contexto e pessoas, e considerando os elementos fora de contexto que podem atuar. Aqui, o papel da Nômade não é apenas o de ser criadora, mas também o de ser a responsável por estimular a capacidade dos atores em criar soluções.
Elizabeth Sanders diz que o Design Participativo não é apenas entendido como uma prática ou uma metodologia, mas sim como uma mentalidade e atitude frente ao usuário e à sociedade, pois além de consultar a fonte mais importante de informação (o usuário), explora conceitos como o desenvolvimento de um sentimento de empatia e a necessidade de imersão no contexto estudado.
Para efetivamente explorar estes conceitos, a colaboração na criação pode ocorrer através da utilização das ferramentas tradicionais do design, adaptadas para serem entendíveis aos não designers. Mesmo que vindo de diferentes contextos, a utilização apropriada das ferramentas permite que qualquer pessoa se expresse de forma equivalentemente rica.
Dessa forma, em nosso trabalho com a Mercur nas linhas de trabalho (LTs), que é uma forma que a indústria está experimentando de cocriar soluções, transmitimos a necessidade de que eles trabalhem igualmente de forma participativa. Buscamos que eles sempre consultem, por exemplo, profissionais da saúde, pacientes e lojistas, sendo sempre guiados pela construção de uma rede de pessoas. Nesses momentos, para interagir com os participantes e compreender as necessidades reais, diversas ferramentas podem ser utilizadas, desde um brainstoming(1) a um mapa de empatia(2), mas principalmente o exercício do diálogo e da escuta, os quais devem ser priorizados e cuidados para que aconteçam com veracidade. Nas etapas de sínteses dos conteúdos coletados, utilizamos também as ferramentas compartilhadas de arquivos do Google Drive, que permitem a construção coletiva online e a distância, permitindo-nos criar colaborativamente com os nossos clientes.
A criação através da prática do Design Participativo possibilita envolvimento com um contexto desconhecido ou pouco explorado anteriormente, mostra a importância de imergir em um ambiente novo, faz cultivar novos laços de confiança e familiaridade, construindo uma nova relação com a cadeia de valor, o que possibilita ampliar oportunidades de atuação e otimizar recursos. Através da participação externa é possível construir contando com as capacidades e necessidades do outro e afastar-se de conceitos preestabelecidos. Quando se compreende o âmbito das questões sociais em que o projeto está realmente inserido, é possível projetar habilmente para a complexidade do mundo, e por isso na Nômade valorizamos e investimos no desenvolvimento de processos baseados no Design Participativo, que conta com uma rede colaborativa, ou comunidades de uso, nos projetos.
1- Brainstorming: uma dinâmica de grupo que explora a criatividade, onde as pessoas dão ideias livres sobre um assunto ou uma problemática estabelecida anteriormente.
2- Mapa de empatia: é uma ferramenta que possibilita o entendimento aprofundado das pessoas, dos seus comportamentos, suas opiniões e da sistemática das suas vidas.
Esse texto foi escrito pela Ana Maria Copetti e enviado para quem assina o Gulliver, a newsletter da Nômade.
Quer se aprofundar sobre o assunto? Seguem algumas referências que foram consultadas para este artigo.
SANDERS, E. B. N. Postdesign and Participatory Culture. Proceedings Useful
and Critical: The Position of Research in Design. University of Art and Design,
Helsinki, 1999.
BATTARBEE, K.; SURI, J. F.; HOWARD, S. G. Empathy on the edge. Scaling and sustaining a Human-centered approach in the envolving practice of design. IDEO, 2014. Disponivel em: <http://www.ideo.com/images/uploads/news/pdfs/Empathy_on_the_Edge.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2016.